São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

análise

PMDB e PCC alteram pouco a disputa

VINICIUS TORRES FREIRE
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

Faz três meses que o eleitor se aquietou. Parou de mudar de opinião sobre o governo Lula ou acerca da eleição presidencial. O Datafolha revela que o eleitor mudou de idéia apenas sobre Anthony Garotinho, que perdeu mais pontos (8) na pesquisa do que peso na greve de fome (6,2 quilos). Pedro Simon e Itamar Franco pesam menos que um Garotinho mais magro. Luiz Inácio Lula da Silva por ora vence no primeiro turno, com ou sem PMDB.
O eleitor parece dizer que tanto os fatos novos do ano, a conspiração contra o caseiro, como a memória de escândalos no governo não o comovem.
Pode-se especular que o motim do PCC tolheu uma hipotética decolagem de Geraldo Alckmin. O ex-governador perdeu votos paulistas, mas não o bastante para alterar o quadro geral de estagnação da disputa. Teria subido sem o PCC? Impossível dizer, mas trata-se de especulação que nem o PSDB deve querer fomentar.
As esperanças tucanas contam com o programa de TV, o efeito da reprise das histórias lamacentas do PT e uma crise financeira feia, ora improvável apesar de nuvens cinzas de dólares no horizonte.
E se o eleitor não gostar de Alckmin na TV? E se o governismo conseguir reforçar a associação do ex-governador com as chacinas, bombas e incêndios em São Paulo?
Lula pode contar ainda com o efeito do espraiamento das bolsas sociais. Dos empréstimos baratos para pequenos agricultores. Da contínua capilarização da rede de contatos entre eleitores desvalidos e serviços do Estado. Tais programas começaram sob FHC, mas ganharam volume sob Lula.
Se não vier a tormenta financeira, o país crescerá mais até a eleição. Deve haver menos desemprego, menos inflação, indicadores dos mais decisivos para a popularidade do governante. Para aqueles que vivem nas margens do mercado, os programas sociais têm efeito parecido.
O eleitor não vota só com o estômago? Sim, mas os problemas das políticas de Lula são mais visíveis para quem tem o lazer de pensá-las com mais profundidade. Além do mais, os efeitos da má governança não aparecem de hora para outra -podem surgir no segundo mandato.
Por ora, parece pesar mais na disputa do voto o contrato político básico de Lula com o eleitor: "melhorar a vida do povo". Sustentável ou não, o contrato continua mantido.


Texto Anterior: Jânio de Freitas: A receita de devastação
Próximo Texto: Índice de rejeição a Lula é o dobro do de Alckmin
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.