São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO / GUERRA DAS TELES

Oposição consegue aprovar convite para Dantas ir à CCJ

Banqueiro deverá ser ouvido no dia 7, após julgamento de ação do Citi nos EUA

Requerimento é reação à rejeição de convocação à CPI dos Bingos; objetivo é falar sobre suposta cobrança de propina pelo PT em 2003

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dia depois de o governo conseguir evitar a convocação do banqueiro Daniel Dantas pela CPI dos Bingos, a oposição conseguiu aprovar ontem na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) um requerimento para convidá-lo a comparecer a uma audiência pública no Senado em 7 de junho.
O texto do requerimento sugere que Dantas seja ouvido para "esclarecer as denúncias de que o banco Opportunity teria sofrido perseguição do governo Lula por rejeitar pedidos de propina feitos por petistas entre 2002 e 2003". O pedido foi feito pelos líderes do PSDB, Arthur Virgílio (AM), e do PFL, José Agripino Maia (RN).
A votação do convite começou atribulada, com uma tentativa do PT de adiar a discussão do tema, mas terminou com um acordo entre governistas e oposição para ouvir o controlador do Opportunity no dia 7 de junho. Diferentemente de uma CPI, a CCJ não tem poder para convocar, mas, sim, para convidar -o que torna facultativo o comparecimento.

Acordo
Após a apresentação do requerimento de Virgílio, a líder do PT na Casa, Ideli Salvatti (SC), pediu o adiamento de sua votação, mas acabou derrotada, em votação simbólica, porque a oposição tinha maioria. Com o revés, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) costurou um acordo com o PSDB para ouvir Dantas no próximo dia 7, ou seja, após o julgamento em Nova York da ação que o Citigroup move contra o banqueiro -agendado para o dia 2.
"Concedemos que ele seja ouvido após o julgamento da Corte de Nova York. Não podemos deixar de ouvi-lo para tirar isso a limpo. Se ele provar parte do que disse, não houve denuncismo. Se provar tudo, aí a República cai dura", disse Virgílio.
Ideli disse que, apesar de considerar o caso fora da alçada da CCJ, aceitava a proposta do dia 7. Segundo ela, o interesse da oposição em ouvir Dantas era conseguir espaço na mídia para que ele fortalecesse sua defesa antes do julgamento.
"Pode ser que aí [depois do julgamento] não haja mais interesse [em ouvi-lo]. Mas vamos poder tirar a limpo, vamos ver se era para valer", disse.
Anteontem, um requerimento para ouvir Dantas na CPI dos Bingos foi rejeitado por 6 votos a 5. A oposição acusou o governo de barrar a investigação.
O caso ganhou força após o banqueiro confirmar que esteve na semana passada, em Brasília, com o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), conforme reportagem divulgada pela revista "Veja". A assessoria do ministro também confirmou o encontro. A reunião aconteceu na casa do senador Heráclito Fortes (PFL-PI).

Trégua
A reportagem da "Veja" afirma que Dantas teria acertado uma trégua com Bastos. Pelo suposto acordo, o governo não acionaria a Polícia Federal para investigar o banqueiro desde que ele parasse de vazar informações contra governistas.
O ministro e Dantas negam a versão. Eles argumentam que a reunião ocorreu para que o banqueiro informasse às autoridades que ele não teria repassado documentos à revista sobre supostas contas no exterior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministros.
Outra motivação da oposição para ouvir Dantas é a afirmação do banqueiro de que, em julho de 2003, Carlos Rodenburg, seu sócio à época, foi procurado pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares para que o Opportunity doasse entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões ao partido. Delúbio negou ter feito a cobrança em depoimento à CPI dos Bingos.


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