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Kroll repassou dados de investigação a tele
LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK
Entre fevereiro e março deste ano, a empresa de investigações Kroll repassou à Brasil Telecom 21 caixas com documentos e materiais recolhidos durante cinco anos de investigações no Brasil, nos Estados
Unidos e na Itália a mando da
ex-presidente da tele, Carla Cico, ligada ao Opportunity, do
banqueiro Daniel Dantas.
Os arquivos -mais de 2.000
itens, obtidos a um custo declarado de US$ 10 milhões- foram devolvidos depois que a
nova gerência da Brasil Telecom entrou com uma ação em
Nova York, com o argumento
de que estaria recebendo faturas da Kroll sem ter comprovação dos serviços. Depois da saída de Dantas, o comando da telefônica está nas mãos do Citigroup e dos fundos de pensão
-ligados ao governo.
A Kroll concordou com a entrega dos materiais, mas conseguiu manter a guarda de documentos internos sob o argumento de que são propriedade
interna sobre o modo de trabalho da empresa. Alguns dos dados foram revisados em segredo pelo juiz Leonard Sand, que
arquivou o processo em abril.
A Brasil Telecom entrou com
a ação em dezembro do ano
passado, depois que seu novo
presidente, Ricardo Knoepfelmacher, recebeu uma carta do
presidente da Kroll dirigida a
Carla Cico. Nela, Simon Freakley relata a dificuldade em
obedecer à instrução de não repassar nenhuma informação à
nova gerência.
A Corte entendeu que a empresa é a cliente da Kroll e que
os frutos do serviço não poderiam ser negados. A empresa de
investigações expressou repetidas vezes um temor: o uso das
informações para abalar a Kroll
no Brasil na esteira das brigas
de Dantas.
A Kroll foi alvo de busca e
apreensão da Polícia Federal
em outubro de 2004, acusada
de fazer escutas ilegais a mando
de Cico. Assim como Dantas e o
Opportunity, a empresária está
sendo processada na Corte de
Nova York por gestão fraudulenta e desvio de dinheiro, a
mando de Dantas. O Citi entrou
com a ação na mesma época em
que a tele processou a Kroll.
Juntos, Opportunity, Citi e
fundos de pensão são os donos
da Brasil Telecom. Até meados
de junho, Dantas tinha apoio do
Citi e mantinha o comando da
telefônica. Depois disso, o banco americano se aliou aos fundos de pensão contra Dantas. A
briga hoje está nas Justiças do
Rio e de Nova York.
Sigilo
A princípio, a Kroll cobrou da
Brasil Telecom um compromisso de sigilo dos dados, que
foi recusado. Não são conhecidos os termos do acordo final
entre as duas empresas. O processo dá pouca indicação do
conteúdo que pode ser pertinente ao atual escândalo envolvendo Dantas, o PT e o governo.
Após divulgar uma suposta
lista de contas em paraísos fiscais de integrantes do governo,
cuja origem é atribuída a Dantas, a revista "Veja" revelou um
encontro e uma suposta "trégua" celebrada entre o banqueiro e o ministro Márcio
Thomaz Bastos (Justiça) na semana passada.
Metade do material repassado -12 caixas com 1.156 itens-
foi listada de forma genérica no
processo, como sinal de boa fé.
A lista é pública, mas dá pouca
indicação de dados investigativos concretos. Pelos títulos dos
documentos, é possível averiguar que boa parte é memorandos -destacam-se os projetos
"Tokyo", "Estocada" e "Laurent" -cartas, cópias de reportagens na imprensa e informações sobre o setor, em especial
a Telecom Itália e a GloboPar
S.A. Um item indica o "monitoramento" de Cássio Casseb em
maio de 2003.
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