São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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Kroll repassou dados de investigação a tele

LEILA SUWWAN
DE NOVA YORK

Entre fevereiro e março deste ano, a empresa de investigações Kroll repassou à Brasil Telecom 21 caixas com documentos e materiais recolhidos durante cinco anos de investigações no Brasil, nos Estados Unidos e na Itália a mando da ex-presidente da tele, Carla Cico, ligada ao Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas.
Os arquivos -mais de 2.000 itens, obtidos a um custo declarado de US$ 10 milhões- foram devolvidos depois que a nova gerência da Brasil Telecom entrou com uma ação em Nova York, com o argumento de que estaria recebendo faturas da Kroll sem ter comprovação dos serviços. Depois da saída de Dantas, o comando da telefônica está nas mãos do Citigroup e dos fundos de pensão -ligados ao governo.
A Kroll concordou com a entrega dos materiais, mas conseguiu manter a guarda de documentos internos sob o argumento de que são propriedade interna sobre o modo de trabalho da empresa. Alguns dos dados foram revisados em segredo pelo juiz Leonard Sand, que arquivou o processo em abril.
A Brasil Telecom entrou com a ação em dezembro do ano passado, depois que seu novo presidente, Ricardo Knoepfelmacher, recebeu uma carta do presidente da Kroll dirigida a Carla Cico. Nela, Simon Freakley relata a dificuldade em obedecer à instrução de não repassar nenhuma informação à nova gerência.
A Corte entendeu que a empresa é a cliente da Kroll e que os frutos do serviço não poderiam ser negados. A empresa de investigações expressou repetidas vezes um temor: o uso das informações para abalar a Kroll no Brasil na esteira das brigas de Dantas.
A Kroll foi alvo de busca e apreensão da Polícia Federal em outubro de 2004, acusada de fazer escutas ilegais a mando de Cico. Assim como Dantas e o Opportunity, a empresária está sendo processada na Corte de Nova York por gestão fraudulenta e desvio de dinheiro, a mando de Dantas. O Citi entrou com a ação na mesma época em que a tele processou a Kroll.
Juntos, Opportunity, Citi e fundos de pensão são os donos da Brasil Telecom. Até meados de junho, Dantas tinha apoio do Citi e mantinha o comando da telefônica. Depois disso, o banco americano se aliou aos fundos de pensão contra Dantas. A briga hoje está nas Justiças do Rio e de Nova York.

Sigilo
A princípio, a Kroll cobrou da Brasil Telecom um compromisso de sigilo dos dados, que foi recusado. Não são conhecidos os termos do acordo final entre as duas empresas. O processo dá pouca indicação do conteúdo que pode ser pertinente ao atual escândalo envolvendo Dantas, o PT e o governo.
Após divulgar uma suposta lista de contas em paraísos fiscais de integrantes do governo, cuja origem é atribuída a Dantas, a revista "Veja" revelou um encontro e uma suposta "trégua" celebrada entre o banqueiro e o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) na semana passada.
Metade do material repassado -12 caixas com 1.156 itens- foi listada de forma genérica no processo, como sinal de boa fé. A lista é pública, mas dá pouca indicação de dados investigativos concretos. Pelos títulos dos documentos, é possível averiguar que boa parte é memorandos -destacam-se os projetos "Tokyo", "Estocada" e "Laurent" -cartas, cópias de reportagens na imprensa e informações sobre o setor, em especial a Telecom Itália e a GloboPar S.A. Um item indica o "monitoramento" de Cássio Casseb em maio de 2003.


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