São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

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Secretário de Mauá acusa Lula de cobrar propina de prefeitos

Ovando Jr. diz que petista teria exigido arrecadação de recursos para o partido; a assessoria da Presidência não se manifestou

De acordo com depoimento, reunião com Lula e Dirceu teria ocorrido no gabinete de Oswaldo Dias, ex-prefeito de Mauá, durante eleição de 98

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Habitação de Mauá (Grande São Paulo), o ex-petista Altivo Ovando Jr., disse em depoimento ao Ministério Público de São Paulo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha de 1998 para a Presidência, "cobrou" a montagem de um esquema de propina das prefeituras municipais do PT como forma de garantir o financiamento da disputa eleitoral.
Ovando Jr., que, entre 1997 e 2001, foi secretário da Habitação do ex-prefeito Oswaldo Dias (PT) em Mauá, disse ter presenciado a conversa -Ovando Jr. ocupa o mesmo cargo na gestão de Leonel Damo (PV), inimigo do PT.
"O declarante [Ovando Jr.] se recorda de que, no pleito de 1998, o presidente Lula compareceu no gabinete do prefeito de Mauá, oportunidade em que, utilizando termos chulos, cobrou de Oswaldo Dias maior arrecadação de propina em favor do PT", disse o secretário em depoimento à Promotoria de Santo André, no dia 9 de fevereiro, obtido pela Folha.
O ex-petista reproduziu uma frase que teria sido dita por Lula: "Ele [Lula] dizia: "Pô, Oswaldo Dias, tem que arrecadar como faz o Celso Daniel. Você quer que a gente ganhe a eleição como?'"
O ex-ministro José Dirceu (PT), à época presidente do PT, também foi citado como um dos presentes no encontro. Ovando Jr. disse ainda que, após a reunião, começou a ser exigida propina de empresas de Mauá -investigação iniciada em 2005 e revelada pela Folha.
Em 1998, Lula disputou a eleição com o então presidente Fernando Henrique (PSDB). Dias era prefeito de Mauá e Daniel, de Santo André -Daniel foi assassinado em 2002.
O documento foi encaminhado ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que tem poder para investigar o presidente.
O primeiro depoimento de Ovando Jr. à Promotoria foi em 2005, quando disse que membros do PT exigiram propina de empresários de Mauá. O dinheiro teria sido usado em campanhas. Então, nem Lula nem Dirceu foram citados.

Outro lado
Por telefone, a reportagem leu trechos do depoimento para a assessoria da Presidência, que pediu um tempo para buscar uma resposta de Lula. Até o fechamento desta edição, porém, isso não havia acontecido.
Dias disse que a exigência narrada pelo secretário não existiu. "Lula esteve uma vez no meu gabinete naquele período, para uma visita. Jamais ele trataria o assunto dessa forma", afirmou o ex-prefeito.


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