São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Congresso desiste de investigar sua máfia

Presidentes do Senado e da Câmara transferem ao procurador-geral responsabilidade de apurar crimes de parlamentares

Renan e Aldo afirmam que Casas não teriam estrutura para esclarecer tantos casos; CPI sobre o tema também não deverá ser instaurada

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Congresso Nacional desistiu ontem de investigar a máfia dos sanguessugas e repassou a responsabilidade à Procuradoria Geral da República.
Com isso, fica sem efeito a sindicância da Câmara que há 15 dias apurava a participação de 16 deputados no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas a prefeituras.
A criação de uma CPI dos Sanguessugas também dificilmente sairá do papel. Câmara e Senado se limitarão a agir somente após o procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, acusar criminalmente algum envolvido.
Os presidentes da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), há dias sofriam pressão de líderes partidários e de acusados insatisfeitos com o fato de estarem sendo investigados. Ontem pela manhã, eles se encontraram com o procurador para lhe repassar a tarefa.
Na saída, disseram que Souza deve apresentar na próxima semana as primeiras denúncias contra parlamentares.
"O Congresso está interessado na investigação e, mais do que isso, está interessado na apuração das responsabilidades e na punição dos culpados. Julgamos que a Procuradoria Geral da República tem muito mais condições de produzir uma investigação com mais celeridade", disse Aldo.
"O procurador, que com a maior responsabilidade e isenção está investigando, vai nos informar o passo a passo das investigações para que possamos separar o joio do trigo e punir exemplarmente os culpados", completou Renan.

Falta de estrutura
O argumento principal dos dois para suspender as investigações no Congresso é o de que as Corregedorias das duas Casas não possuem estrutura para investigar tanta gente, além de não ter poder, por exemplo, para pedir quebra de sigilos e de convocar testemunhas.
Há pelo menos dois argumentos que lançam dúvidas sobre essa tese. O primeiro é que a Corregedoria da Câmara investigou 18 deputados no caso do mensalão. O outro é que uma CPI tem os poderes de pedir quebra de sigilo, requisitar documentos e convocar testemunhas. Mas a disposição de Renan e Aldo é contrária ao seu funcionamento, apesar de ela reunir as assinaturas mínimas necessárias para ser criada.
"Ela [a CPI] pode ser uma superposição, um atraso nas investigações. A CPI não tem os indícios, as provas que ele [procurador] tem" disse Renan.
Tanto Aldo quanto Renan foram alvos de forte pressão nos últimos dias por parte de parlamentares citados na investigação. O senador Ney Suassuna (PB), líder do PMDB, teve um assessor preso na investigação. A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) terias algumas de suas emendas apresentadas ao Orçamento da União acompanhadas pela Planam, empresa apontada como a cabeça da fraude. Os dois negam participação em irregularidades.
Na Câmara, há suspeita sobre pelo menos 16 deputados, que já eram investigados pela Corregedoria. Esse número subiria para 30 ainda nesta semana devido a perícia na contabilidade da Planam que mostrava, entre outras coisas, 13 deputados como recebedores de dinheiro da empresa.


Texto Anterior: Seminário: Começa hoje ciclo de debates sobre pobreza e desigualdade
Próximo Texto: PPS quer ir ao STF para instalar CPI
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.