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Em Mauá, Zuleido repete esquema de Marcos Valério
Para obter R$ 43 mi da Caixa, empresário usou contrato com prefeitura como garantia
Condenada pela CPI dos
Correios e pelo BC, prática
revelada no mensalão foi
utilizada por empreiteiro
com prefeitura petista
RUBENS VALENTE
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário Zuleido Soares
Veras, suposto chefe de uma
quadrilha de desvio de recursos
públicos, segundo relatórios da
Polícia Federal na Operação
Navalha, obteve R$ 42,7 milhões em dois empréstimos
com a Caixa Econômica Federal dando como garantia o contrato que havia assinado um
ano antes com a Prefeitura de
Mauá (Grande São Paulo), para
a exploração de serviços de
água e esgoto e construção de
uma estação de tratamento.
Em 2005, a CPI dos Correios
e auditorias do Banco Central
revelaram que o publicitário
Marcos Valério de Souza, pivô
do escândalo do mensalão,
também apresentava seus contratos de publicidade com o governo para obter empréstimos
nos bancos BMG e Rural.
O uso de contratos públicos
como garantias bancárias foi
condenado pela CPI e pelo BC.
Os técnicos recomendaram aos
bancos que emprestaram dinheiro a Valério que aumentassem o nível de risco das operações para o mais alto, "H", o que
apontava risco de 100% de prejuízo. Um dos motivos foram
"as garantias insuficientes".
Hoje os bancos cobram na
Justiça as dívidas de Valério,
mas os contratos foram anulados pelos órgãos públicos.
O contrato de concessão de
Mauá corre risco: o atual prefeito, Leonel Damo (PV), anunciou uma intervenção na empresa Ecosama, a concessionária que pertence a Zuleido. Segundo ele, se o TCE (Tribunal
de Contas do Estado) mantiver
a decisão que condenou a licitação por supostas irregularidades, o contrato será rompido.
A coordenadoria de imprensa da Caixa defendeu ontem as
garantias do contrato de Mauá,
dizendo ser "prática comum no
mercado". Indagada sobre casos específicos, não respondeu
até o fechamento desta edição.
O diretor-presidente da Ecosama, Dagoberto Rocha, disse
que as garantias foram sugeridas pelo banco. Ele defendeu a
legalidade do negócio.
Segundo cópias dos contratos, aos quais a Folha teve acesso, a Caixa não exigiu como garantia nenhum imóvel, veículo
ou outra propriedade da Gautama, controladora da tomadora dos empréstimos, a Ecosama, criada para tocar o contrato de R$ 1,6 bilhão, por um prazo de 30 anos. Segundo a Caixa,
foi exigida uma "nota promissória" -em nome da Ecosama.
Os contratos foram assinados por Zuleido com a Caixa
em dezembro de 2004. Do total
de R$ 42,7 milhões, foram liberados até agora cerca de R$ 15
milhões, segundo a Caixa.
A promotora de Justiça
Adriana Morais, que investiga
o contrato da concessão, disse
haver fortes indícios de que as
obras não foram executadas
como estava previsto. Desde
2005, ela pede que a agência
reguladora de Mauá fiscalize os
trabalhos, mas o órgão diz não
ter condições de fazê-lo.
O diretor da Ecosama disse à
Folha que, por falta de demanda, não será mais construída a
estação de tratamento de esgoto prevista. Afirmou que os
contratos com a Caixa deverão
ser "refeitos", o que reduziria o
valor para R$ 25 milhões.
A sete dias do fim do mandato, o então prefeito de Mauá,
Oswaldo Dias (PT-SP), entrou
no processo como "interveniente anuente". Em e-mail enviado ontem, a Caixa confirmou que a prefeitura pode ter
de assumir prejuízos causados
pela empresa: "Compete à prefeitura como interveniente, entre outras responsabilidades,
na hipótese de extinção da concessão, pagar diretamente à
Caixa indenização devida à
Ecosama com vistas à liquidação das obrigações financeiras
decorrentes do contrato".
Ontem, a ministra do STJ
(Superior Tribunal de Justiça)
Eliana Calmon determinou o
desbloqueio das contas da Ecosama -pois o bloqueio poderia
prejudicar ao abastecimento de
água da cidade. A decisão diz
que o dinheiro da Ecosama não
pode ser usado por nenhuma
das empresas de Zuleido.
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