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Lula ouve críticas e admite "excessos" da PF
Presidente recebe de líderes da base reclamações da Operação Navalha e cita vazamento do inquérito como algo incorreto
Ao menos 8 dos cerca de 20 líderes políticos fizeram queixas de "espetáculo" e
de "estardalhaço" nos procedimentos da polícia
VALDO CRUZ
PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem ter
havido "excessos" da Polícia
Federal na Operação Navalha
depois de líderes e presidentes
de partidos aliados criticarem a
atuação da PF na reunião do
conselho político do governo.
Lula citou o vazamento do
inquérito para a imprensa, que
o próprio governo atribui à PF,
como algo que não deveria ter
ocorrido. Segundo relato de políticos presentes, ele disse que
isso pode levar a uma "execração de pessoas que depois acabam inocentadas".
O presidente sugeriu que o
ex-ministro Silas Rondeau foi
vítima de uma acusação frágil
da PF. "Tirei do governo um
homem de bem porque não era
possível que ele ficasse sangrando até a última gota."
A admissão de excessos da
PF por parte de Lula veio depois de pressões e críticas não
só de políticos da base mas
também de advogados e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.
Lula, porém, defendeu a continuidade das investigações da
Operação Navalha, dizendo
que o "combate à corrupção é
uma meta a ser perseguida.
Mas sem "pirotecnia".
Ao menos 8 dos cerca de 20
líderes políticos fizeram uma
espécie de desabafo. Reclamaram de que haveria um grau de
"espetáculo" e de "estardalhaço" nos procedimentos da PF.
O ministro Tarso Genro
(Justiça), que também admitiu
ter havido algum tipo de excesso, pediu aos deputados que
apontem caso a caso situações
em que o comportamento dos
policiais teria sido abusivo, para que ele possa apurar.
Mais tarde, no Rio, Tarso voltou a dizer que tudo seria revisto "a partir de denúncias concretas"."Se houve algum equívoco, algum vazamento, e é
possível que tenha havido, se
houve alguma lesão ao direito
individual de alguém, isso vai
ser resolvido como sempre,
quando se termina uma operação", disse o ministro.
Vazamento
Lula determinou que sejam
investigadas possíveis irregularidades, como o vazamento do
inquérito para a imprensa.
Articulador político do governo, o ministro Walfrido dos
Mares Guia confirmou que o
governo admitiu certo grau de
excesso. Questionado se Lula
pediu a punição de quem cometeu "excessos", disse: "Claro,
claro, a boa norma democrática
mostra que tem de cumprir a
lei, então vazamentos e excessos têm de ser coibidos".
Ainda segundo participantes,
o presidente concordou com as
reclamações e disse que quem
tem "autonomia e independência" também tem que ter responsabilidade. Mas insistiu na
importância das operações.
Além do vazamento do inquérito, os líderes protestaram
contra o que consideraram prisões arbitrárias, de pessoas que
ficaram algemadas num dia e
foram liberadas no outro, e do
tratamento dos agentes. Em
um dos casos narrados, um policial teria arrombado uma porta da casa de um suspeito, mesmo depois de ter pego a chave.
O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), chegou a perguntar a Tarso se "todo mundo estaria grampeado",
ao que o ministro respondeu:
"Não posso garantir nem que
eu não esteja grampeado".
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