São Paulo, sexta-feira, 25 de maio de 2007

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Lula ouve críticas e admite "excessos" da PF

Presidente recebe de líderes da base reclamações da Operação Navalha e cita vazamento do inquérito como algo incorreto

Ao menos 8 dos cerca de 20 líderes políticos fizeram queixas de "espetáculo" e de "estardalhaço" nos procedimentos da polícia

VALDO CRUZ
PEDRO DIAS LEITE
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem ter havido "excessos" da Polícia Federal na Operação Navalha depois de líderes e presidentes de partidos aliados criticarem a atuação da PF na reunião do conselho político do governo.
Lula citou o vazamento do inquérito para a imprensa, que o próprio governo atribui à PF, como algo que não deveria ter ocorrido. Segundo relato de políticos presentes, ele disse que isso pode levar a uma "execração de pessoas que depois acabam inocentadas".
O presidente sugeriu que o ex-ministro Silas Rondeau foi vítima de uma acusação frágil da PF. "Tirei do governo um homem de bem porque não era possível que ele ficasse sangrando até a última gota."
A admissão de excessos da PF por parte de Lula veio depois de pressões e críticas não só de políticos da base mas também de advogados e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.
Lula, porém, defendeu a continuidade das investigações da Operação Navalha, dizendo que o "combate à corrupção é uma meta a ser perseguida. Mas sem "pirotecnia".
Ao menos 8 dos cerca de 20 líderes políticos fizeram uma espécie de desabafo. Reclamaram de que haveria um grau de "espetáculo" e de "estardalhaço" nos procedimentos da PF.
O ministro Tarso Genro (Justiça), que também admitiu ter havido algum tipo de excesso, pediu aos deputados que apontem caso a caso situações em que o comportamento dos policiais teria sido abusivo, para que ele possa apurar.
Mais tarde, no Rio, Tarso voltou a dizer que tudo seria revisto "a partir de denúncias concretas"."Se houve algum equívoco, algum vazamento, e é possível que tenha havido, se houve alguma lesão ao direito individual de alguém, isso vai ser resolvido como sempre, quando se termina uma operação", disse o ministro.

Vazamento
Lula determinou que sejam investigadas possíveis irregularidades, como o vazamento do inquérito para a imprensa.
Articulador político do governo, o ministro Walfrido dos Mares Guia confirmou que o governo admitiu certo grau de excesso. Questionado se Lula pediu a punição de quem cometeu "excessos", disse: "Claro, claro, a boa norma democrática mostra que tem de cumprir a lei, então vazamentos e excessos têm de ser coibidos".
Ainda segundo participantes, o presidente concordou com as reclamações e disse que quem tem "autonomia e independência" também tem que ter responsabilidade. Mas insistiu na importância das operações.
Além do vazamento do inquérito, os líderes protestaram contra o que consideraram prisões arbitrárias, de pessoas que ficaram algemadas num dia e foram liberadas no outro, e do tratamento dos agentes. Em um dos casos narrados, um policial teria arrombado uma porta da casa de um suspeito, mesmo depois de ter pego a chave.
O líder do governo na Câmara, José Múcio (PTB-PE), chegou a perguntar a Tarso se "todo mundo estaria grampeado", ao que o ministro respondeu: "Não posso garantir nem que eu não esteja grampeado".


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