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ELIO GASPARI
Querem prorrogar a tunga do carioca
A cada mês os cariocas perdem entre seis e doze pratos de comida para os magnatas dos transportes
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ARMOU-SE NA CÂMARA MUNICIPAL
do Rio de Janeiro um dos maiores
arrastões sociais já ocorridos na
cidade. O repórter Luiz Ernesto Magalhães mostrou que 18 vereadores, liderados pelo doutor Jorge Mauro, querem
prorrogar por pelo menos dez anos as
concessões precárias das 420 linhas de
ônibus da cidade.Trata-se de congelar o
caos, pois a lei manda que até agosto o
município faça uma licitação, submetendo a exploração desses serviços à livre
concorrência do mercado.
As empresas de ônibus do Rio de Janeiro mandam mais que o arcebispo e
arrecadam centenas de milhões de reais
em dinheiro vivo (aquela espécie que anda em malas). A onipotência dos concessionários de ônibus transformou o sistema de transportes públicos da cidade
numa bandalha voraz, anacrônica e predatória. Já o metrô é o mais caro do país
e, por não oferecer descontos, arrisca ser
o mais caro do mundo.
Olhando-se para São Paulo pode-se
medir o tamanho do abuso social que se
pratica no Rio. Um cidadão que durante
20 dias toma dois ônibus para ir ao trabalho e outros dois para voltar, gasta R$ 168
no Rio. Em São Paulo, onde o Bilhete
Único permite que se façam duas viagens ao preço de uma só tarifa, gasta R$
92. Uma economia de R$ 76 por mês.
Caso o percurso seja feito com ônibus
e metrô, o paulistano gasta R$ 24 a menos do que o carioca. Se o cidadão passar
da linha do metrô para a dos trens e tirar
proveito da política de descontos, o refresco é de R$ 60 mensais.
Convertendo essas cifras em comida e
estimando-se de R$ 6 o preço de um prato feito, os usuários da rede de transportes públicos de São Paulo almoçam entre
seis e 12 vezes à custa da economia que
fazem. Ou os cariocas entregam entre
seis e 12 pratos de comida aos magnatas
dos ônibus e do metrô. Os transportecas
argumentam que o Rio não subsidia o
transporte público. Aí é que está o erro.
Nova York, Paris, Londres e São Paulo
subsidiam.
O Bilhete Único de São Paulo atende 9
milhões de passageiros/dia. De cada dez
usuários do metrô, sete tomaram ou tomarão um ônibus.
O prefeito Cesar Maia diz que vai abrir
licitações para renovar as concessões. A
ver. Já o governador Sérgio Cabral,
anunciou que instituiria o Bilhete Único
ainda em 2008. Abortou. Agora fala-se
em fazer alguma coisa no ano que vem.
Para gáudio dos empresários de transportes, será uma contrafação do que há
pelo mundo.
MACIEL E RACHID FICARAM MAL NA FOTO
Os dois auditores postos para
fora da Receita Federal pelo
ministro Guido Mantega não
são lambaris. Sandro Martins
Silva (demitido) e Paulo Baltazar Carneiro (destituído, por
aposentado) tiveram altos poderes na instituição. Ambos foram coordenadores-gerais de
tributação. Carneiro foi secretário-adjunto durante o mandarinato de Everardo Maciel e
Martins aninhou-se na equipe
do secretário Jorge Rachid como assessor especial.
Desde 1995 eram acusados
de praticar uma primitiva dupla militância. Martins e Carneiro licenciavam-se da Receita e iam para o escritório de
consultoria Martins Carneiro,
onde prestavam serviços a empresas acusadas de sonegação.
Dada a ajuda, voltavam para a
repartição e arrematavam o
serviço. Um de seus clientes, a
construtora OAS livrou-se de
uma autuação de R$ 1,1 bilhão
pagando apenas R$ 25 milhões.
Estima-se que tenham ganho
R$ 26 milhões (R$ 18,3 milhões
só da OAS). O prejuízo da Viúva
pode ter ficado em R$ 2 bilhões.
Carneiro esteve em nono lugar numa tabulação dos maiores proprietários de imóveis de
Brasília. Martins comprou casa
em Paris.
Os auditores deixaram mal
na fotografia os secretários
Everardo Maciel e Jorge Rachid, que confiaram neles a
despeito das denúncias surgidas e reiteradas durante 13
anos. Enquanto a investigação
ficou no âmbito da Receita,
dois funcionários que lidavam
com o caso perderam os cargos.
Martins e Carneiro foram laçados pelo Ministério Público
Federal, que começou a agir
em 2003.
MINC & MANG
Uma proeza de Nosso Guia:
trocou uma ministra do Meio
Ambiente que dava circunspecção e dignidade à sua função
pela dupla cosmocaipira Minc e
Mang. Numa arte dos deuses da
floresta, a severa Marina Silva,
que se alfabetizou aos 16 anos,
foi substituída pelos professores Carlos Minc (UFRJ) e Roberto Mangabeira (Harvard).
Um veste-se como um saltimbanco, o outro fala como gringo
de programa humorístico. Juntos, carnavalizam o debate.
JOGO BRUTO
É delicada a posição do deputado Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força, Paulão do
BNDES, depois de uma primeira análise do papelório recebido pela Corregedoria da Câmara. Ele terá que lutar pelo mandato.
CPMF.2 = LULA.3
Palpite de um conhecedor da
alma do Congresso: "A oposição dizia que a aprovação da
CPMF seria um teste para a votação da emenda do terceiro
mandato. A CPMF caiu e o Lula
3 esfriou. Agora, com a idéia de
ressuscitar o imposto, a situação inverteu-se: é mais fácil
passar a emenda do terceiro
mandato do que a da CPMF".
Donde, se a CPMF passar, o
terceiro mandato poderá ser fava contada.
A HORA CHEGARÁ
Nosso Guia acredita que já
absorveu dois episódios de indisciplina militar, o "Krig-Há
Bandolo" do general Augusto
Heleno como Rei das Selvas e o
ato político realizado num
quartel do 7º Batalhão de Infantaria da Selva, em Roraima.
É ilusão. A certa altura ele será
confrontado com a dura realidade: só a disciplina impõe a
disciplina.
BOA NOTÍCIA
O retorno do economista
Gustavo Franco ao jornalismo
promete boas brigas. Mal ele estreou na Folha com um artigo
condenando a criação do fundo
soberano, seu colega Paulo Nogueira Batista, que escreve no
mesmo jornal, chamou-o de
"Napoleão de hospício" que "escapou do asilo". Franco e Nogueira Batista pensam de maneiras quase opostas, mas têm
duas virtudes. Em primeiro lugar, estão dispostos a morrer
pelas idéias que defendem,
mesmo sabendo que não falta
gente disposta a esganá-los.
Além disso, sabem escrever.
ANTI-DARWIN
Durante os anos 70 o jornalista Hélio Costa, atual ministro
das Comunicações, foi um jornalista bem sucedido e bem remunerado. Correspondente da
TV Globo em Nova York, foi
uma das estrelas do jornalismo
do "Fantástico" e soube cuidar
do dinheiro que ganhou com
sua atividade profissional.
Quando se vê que seu filho, Eugenio Alexandre Costa, mordia
R$ 2.650 mensais da bolsa da
Viúva na qualidade de funcionário-fantasma do Senado, percebe-se que há um furo na teoria
de Darwin. Assim como houve
macacos que viraram homens,
haverá homens que virarão macacos.
UM GRANDE TELHADO
O tucanato já sabe que terá
dois fardos para carregar durante a campanha de 2010. A mediocridade das administrações
de Yeda Crusius no Rio Grande
do Sul e Teotonio Vilela Filho
em Alagoas comprometerão
qualquer tentativa de exibir um
"modo tucano de governar". No
caso da senhora Crusius, teme-se que o escândalo do caixa dois
com dinheiro das seguradoras
possa queimar o seu mandato.
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