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Ministro do TCU favorece diretor do Dnit em decisões
Augusto Nardes havia pedido para não julgar órgão após nomeação de seu irmão
Questionado, o ministro afirma que se declarou impedido para julgar os processos relativos apenas
a assuntos administrativos
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apesar de excluir em junho
passado o Dnit (Departamento
Nacional de Infraestrutura de
Transportes) da lista de órgãos
públicos cujos processos deve
julgar, o ministro Augusto Nardes, do TCU (Tribunal de Contas da União), foi relator de três
decisões favoráveis ao diretor-geral do Dnit, Luiz Antonio Pagot, de novembro passado a
maio deste ano.
O ministro pediu ao próprio
TCU a exclusão porque seu irmão Cajar Nardes foi nomeado
gerente de projeto no Dnit em
abril de 2008. Cajar tem ligações com Pagot desde 2005,
quando os dois eram secretários de Estado em Mato Grosso,
diz a assessoria do Dnit.
Nardes afirma que se declarou impedido para julgar processos relativos apenas "à atividade-meio" do Dnit, ou seja, assuntos administrativos, como
contratação de pessoal, aquisição de bens e serviços.
O impedimento, porém, não
se estende à fiscalização de
obras do órgão, diz o ministro.
Por e-mail, Nardes negou favorecimento a Pagot, afirmou
que assumiu vaga no TCU por
indicação de seu partido (PP) e
contrariando os interesses do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (leia texto nesta página).
De dois em dois anos, cada
ministro do TCU recebe por
sorteio uma lista de órgãos públicos cujos processos deve julgar no tribunal.
De acordo com sua assessoria, Nardes solicitou em junho
de 2008 "alteração na referida
lista, de modo a excluir dela o
departamento [Dnit], permutando-se com outra entidade, o
que foi feito pelas instâncias
técnicas da corte".
Na principal decisão relativa
ao Dnit, em dezembro passado,
Nardes mudou seu entendimento anterior, ao julgar processo movido por Pagot, e permitiu à Camargo Corrêa obter
um pagamento extra maior no
contrato para a construção da
eclusa da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, obra incluída no
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento).
O limite passou de R$ 62 milhões para R$ 155 milhões.
O obra foi citada na Operação
Castelo de Areia, que investiga
a Camargo Corrêa por suspeita
de remessa ilegal, superfaturamento de obras públicas e doação ilegal a partidos. A empresa
nega qualquer crime.
Funcionário da Camargo
Corrêa e citado na operação,
Guilherme Cunha Costa, conforme revelou a coluna Painel,
atuou para que o ex-deputado
Nardes fosse nomeado ministro do TCU, em 2005.
Outras duas decisões de Nardes sobre o Dnit são de caráter
mais técnico. O ministro acatou no dia 13 de maio as justificativas de Pagot relativas à
obra de acesso da rodovia
BR-101 ao porto de Itajaí (SC) e
decidiu pelo arquivamento.
O TCU tinha apontado irregularidade grave pelo fato de o
contrato não ter sido registrado no Siasg (Sistema Integrado
de Administração de Serviços
Gerais), uma das condições para pagamento de obras por órgãos públicos.
Em decisão de novembro,
Nardes aceitou argumentos de
Pagot sobre o cálculo do preço
de cimento asfáltico para obra
na rodovia BR-381, em Minas
Gerais. O TCU disse que houve
superfaturamento e determinou redução para R$ 1.659,52 a
tonelada. A pedido de Pagot, o
valor será aplicado sobre o que
exceder as 10.349 toneladas
previstas no contrato.
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