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Lei de 67 deixa emissoras educativas na ilegalidade
Decreto veta propaganda e patrocínios; canais querem tratamento igual ao dado à TV Brasil
Fórum Nacional de TVs Públicas pedirá revogação do decreto-lei 236, da ditadura militar, desobedecido pelas TVs há pelo menos dez anos
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
As televisões educativas vivem uma situação de ilegalidade: o decreto-lei 236/67, que
regula a atividade, proíbe a veiculação de propaganda e de patrocínios culturais. O decreto é
desobedecido pelas emissoras
há pelo menos dez anos.
O decreto-lei é qualificado
pelas televisões educativas de
""lixo" remanescente do regime
militar e sua revogação é a principal reivindicação do 2º Fórum Nacional de TVs Públicas,
a ser realizado, em Brasília, de
26 a 28 de maio.
O setor quer uma nova regulamentação, no espírito da lei
11.652/2008, que criou a EBC
(Empresa Brasileira de Comunicação). A EBC tem liberdade
para captar recursos de patrocínios culturais, acesso a um
fundo para fomento da radiodifusão pública (feito com contribuições das companhias telefônicas) e autonomia para escolher sua programação, a partir
de princípios fixados na lei.
Para as emissoras educativas,
o decreto 236 caiu em desuso
há mais de dez anos, mas o Ministério das Comunicações
considera que continua em vigor, o que deixa as televisões
sujeitas a punições.
Segundo o advogado Fernando Fortes, consultor jurídico da
TV Cultura, vez por outra uma
emissora educativa é punida
por tribunais de contas estaduais por receber recursos de
patrocínio. Pelo decreto-lei, as
emissoras educativas só poderiam transmitir aulas, conferências, palestras e debates.
Segundo o presidente da
Abepec (Associação Brasileira
das Emissoras Públicas Educativas), Antônio Achilis, da Rede
Minas, com a mudança na regulamentação, as emissoras
educativas teriam obrigatoriamente que submeter sua programação à aprovação de um
conselho consultivo, com
maioria de representantes da
sociedade civil.
Audiência
Também serão discutidos no
fórum a medição da audiência
das televisões educativas -um
tema considerado tabu no setor-, a busca de financiamentos para a migração para a TV
digital e a possibilidade de fazer
multiprogramação, aberta pela
tecnologia digital.
A tecnologia digital pode ser
aproveitada para a transmissão
em alta definição (caminho defendido pela Globo) ou para a
transmissão simultânea de até
quatro programações no mesmo canal.
Até agora, a multiprogramação só foi autorizada para as
emissoras federais. A TV Cultura, de São Paulo, obteve a autorização para testes.
Antônio Achilis disse que as
TVs educativas querem a multiprogramação para atingir públicos segmentados.
O Ministério das Comunicações hesita em autorizar a multiprogramação por receio de
que TVs arrendem os canais a
empresas de televendas e igrejas. Segundo Achilis, a Abepec
se propõe a ajudar na fiscalização para que isso não ocorra.
Há no país 199 emissoras de
televisão educativas, mas a
grande maioria vive em situação financeira ruim. As concessões de emissoras educativas
proliferaram entre 1998 e
2002, sobretudo na gestão do
ex-ministro das Comunicações
Pimenta da Veiga, que autorizou a conversão de retransmissoras em emissoras geradoras
de programação.
De acordo com o presidente
da Associação Nacional de Geradoras Educativas e Culturais,
Luiz Leal, fora as emissoras
educativas controladas pelos
Estados e por universidades, as
educativas não têm recursos
para investir na tecnologia digital e já dependem da transmissão de programas evangélicos
para sobreviver.
O primeiro fórum das emissoras educativas públicas aconteceu em 2007, por iniciativa
do governo federal. O segundo
é uma iniciativa das associações das televisões que se autodenominam como do ""campo
público": as emissoras educativas dos Estados e de universidades; os canais legislativos e os
comunitários, que são distribuídos pela grade de programação das TVs a cabo.
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