São Paulo, domingo, 25 de junho de 2006

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Fobia numérica faz PT adotar projeto genérico

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cobrado durante quase quatro anos por metas que não cumpriu totalmente, o PT está com fobia numérica. O novo programa de governo do partido será genérico, cheio de "linhas-força" e "metas políticas".
"Botar meta só atrapalha", resume o presidente nacional do partido, Ricardo Berzoini. O partido considera que, em 2002, cometeu uma overdose aritmética, cravando números para crescimento econômico, salário mínimo e geração de empregos. Ficou devendo em todos.
A mais conhecida é a dos 10 milhões de empregos, embora o partido depois tenha tentado recuar, dizendo que era apenas uma estimativa do que seria necessário para o país. O PT chegou ao ponto de fazer submetas dentro dessa meta: seriam 5,33 milhões advindos do crescimento econômico, 3,2 milhões pela redução da jornada de trabalho -que nunca houve- e 1,47 milhão por uma tal "mudança no padrão de gastos públicos". Até agora, Lula chegou a 6,4 milhões, entre empregos formais e informais.
Outra meta que assombra o partido até hoje é a de dobrar o valor real do salário mínimo. Lula passou longe: o aumento não chega a 50%. Para tentar contornar essa realidade, o partido aderiu ao revisionismo -diz que dobrou o poder de compra de cestas básicas.
A do crescimento econômico era a mais ambiciosa. Lula prometeu incremento anual do PIB de 5% em média, e não excluiu picos de 7%, o que transformaria o Brasil num tigre sul-americano. "O Brasil já demonstrou, historicamente, uma vocação para crescer em torno de 7% ao ano. É essa vocação que o nosso governo vai resgatar", dizia o programa de Lula em 2002.
De novo, o desempenho ficou bem aquém do prometido. O PIB aumentou 0,5% em 2003, 4,9% em 2004, 2,5% no ano passado e deve ficar no máximo em 4,5% neste ano.
Em 2006, o partido está vacinado. "Queremos ter metas qualitativas, de política social, desenvolvimento. Números são para o planejamento do governo", diz Valter Pomar, do programa de governo.
Outro membro da comissão, Glauber Piva, afirma que o partido não quer ficar "amarrado". "Não vamos trabalhar com metas, números cheios. Queremos trabalhar com idéias-força", diz.


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