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Contas paralelas do Senado têm saldo de R$ 3,7 milhões
Sarney chegou a anunciar a abertura de uma comissão de sindicância, mas recuou
Senador Renato Casagrande (PSB-ES) pediu que as contas sejam encerradas e que o dinheiro seja transferido para Conta Única do Tesouro
Lula Marques/Folha Imagem
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O ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia caminha de chinelo e bermuda na sua casa no Lago Sul
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), pediu ontem explicações à direção da
Casa sobre a existência de duas
contas bancárias em nome do
Senado que não integram a
Conta Única do Tesouro. Por
essa razão, não é possível
acompanhar a movimentação
dessas duas contas pelo Siafi,
sistema que registra gastos públicos. Elas têm saldo total de
R$ 3.740.994,13.
Parecer da consultoria de orçamento do Senado considerou
irregular a manutenção das
duas contas, reveladas ontem
pelo jornal "O Globo". O texto
faz referência a voto do ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Marcos Bemquerer, que, ao tratar de situação
similar, comparou essas contas
a "caixa dois".
As contas na CEF (Caixa
Econômica Federal) são mantidas pela Secretaria de Informática do Senado, antigo Prodasen. Segundo o seu diretor,
Deomar Rosado, elas foram
abertas nos anos 70, quando o
órgão prestava serviços externos para ministérios e para o
Supremo Tribunal Federal, entre outros, e era remunerado
por isso. Ele diz que há pelo menos cinco anos essas contas não
são movimentadas. Uma delas
é conta poupança e tem a maior
parte do dinheiro. Os recursos
eram usados para compra de
equipamentos de informática.
Rosado negou que servidores
tivessem um cartão bancário
para movimentar a conta. Segundo ele, para usar o dinheiro
é preciso que ele seja repassado
para a Conta Única do Tesouro.
Sarney chegou a anunciar a
abertura de comissão de sindicância para investigar as contas. Mas, no final do dia, ele voltou atrás e disse que irá aguardar primeiro as explicações da
direção da Casa. A investigação,
contudo, foi descartada pelo
primeiro-secretário do Senado,
Heráclito Fortes (DEM-PI).
"Chegamos à conclusão de que
não há nada de irregular."
Extratos
O senador Renato Casagrande (PSB-ES) pediu que as contas sejam encerradas e o dinheiro, transferido para a Conta Única. Ele também quer os
extratos dos últimos cinco anos
para conferir se houve retirada
de dinheiro, já que não é possível verificar isso no Siafi.
Conforme o parecer da consultoria, as contas foram abertas com base em legislação, anterior à Constituição, que permitia às instituições públicas a
abertura de fundos. Mas a partir da Constituição de 1988 e
com a criação do Siafi ficou estabelecida a "unidade de tesouraria" -ou seja, todos os recursos deveriam estar na Conta
Única do Tesouro, administrada pelo Banco Central.
O Senado, conforme o relatório, continuou se respaldando
na legislação anterior à Constituição para manter as duas
contas. Elas estão no Siafi, mas
não é possível acompanhar
com segurança as movimentações de retirada e entrada de dinheiro, apenas o saldo.
"Disposições desta natureza
são o que de pior pode ser oferecido ao Senado do ponto de
vista da gestão. O que esse dispositivo autoriza, na prática, se
fosse lícito, é o caixa dois", diz o
relatório. A conta, continua o
parecer, significa "um risco
desnecessário", uma vez que
poderia ser movimentada por
qualquer pessoa, sem nenhum
controle.
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