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Funcionária de Sarney mora em prédio restrito a senador
Viúva de ex-motorista do presidente do Senado foi nomeada por um ato secreto
Valéria Freire dos Santos tem
salário de R$ 2.313,30 para
servir café em expediente de
meio período; Sarney diz que
não vai comentar o assunto
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Nomeada por ato secreto,
uma funcionária do presidente
do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), mora há quatro
anos num imóvel localizado no
térreo de um dos prédios exclusivos para senadores. Valéria
Freire dos Santos é viúva de um
ex-motorista de Sarney e desde
que mudou para o local ganhou
um emprego no Senado.
O primeiro emprego de Valéria no Senado foi na direção geral. Em novembro do ano passado, ela foi transferida para o
gabinete pessoal de Sarney por
um ato que só veio a ser divulgado em abril deste ano. Para
servir café em expediente de
meio período, recebe salário de
R$ 2.313,30 por mês.
Com a anuência de Sarney,
Valéria foi autorizada a morar
no apartamento por um prazo
de 90 dias, a partir de janeiro de
2005. Mas está lá até hoje.
O imóvel é uma espécie de
zeladoria que fica no térreo do
prédio onde estão os apartamentos funcionais destinados
aos senadores. Tem um quarto,
sala, cozinha e banheiro e deveria ser destinado ao descanso
dos seguranças. O prédio fica
em área nobre de Brasília.
A Folha apurou que Sarney
decidiu ajudar a funcionária
depois que ela perdeu o marido, Antoniel dos Santos, e a
acomodou em apartamento do
Senado, livrando-a de despesas
com aluguel e condomínio,
uma vez que o prédio é custeado com dinheiro do Senado. O
senador disse que não irá comentar o assunto.
Após a morte do marido, Valéria foi contratada para trabalhar na direção geral do Senado, que à época era comandada
por Agaciel da Silva Maia. No
ano passado, foi transferida para o gabinete de Sarney, com
um salário de R$ 2.313,30, sem
considerar benefícios.
Sarney também já "emprestou" um apartamento funcional para o ex-senador Bello
Parga (morto em 2008) morar
depois de encerrado o mandato. A Folha revelou que o apartamento estava cedido pelo Senado para uso de Sarney. Ele
alegou que fez o favor porque
Parga estava doente.
No início do ano, Sarney demitiu João Carlos Zoghbi da
Diretoria de Recursos Humanos do Senado porque ele cedeu apartamento funcional para o filho, que não é funcionário da Casa.
Na semana passada, a reportagem esteve no imóvel onde
Valéria mora. Ela negou que o
ex-marido tenha sido motorista de Sarney. "Não vou dar informações", afirmou Valéria.
"Se eu tiver que sair daqui, saio
sem problemas, tenho para onde ir." A Terceira Secretaria
abriu processo para que ela
saia do imóvel e considera a
ocupação como "invasão".
Um assessor do senador Tião
Viana (PT-AC) e o ex-motorista do senador Papaléo Paes
(PSDB-AP) também moram
em imóveis da zeladoria. A diferença é que eles já estavam
no local antes de trabalhar para
os senadores, por decisões administrativas.
Motorista de Viana, Valdeci
Carolino também usa um dos
imóveis da zeladoria. Ele disse
que não acha correto morar no
local porque trabalha para o senador e não para o prédio e que
pretende desocupar o imóvel.
Até março deste ano, Genival
de Lima trabalhava como motorista de Papaléo, quando foi
exonerado. Ele não tem mais
vínculos com o Senado, mas
continua morando no apartamento dos senadores. A assessoria do senador disse que eles
não têm mais vínculos.
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