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São Paulo, sexta-feira, 25 de julho de 2003

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REFORMA SOB PRESSÃO

Lula afirma que país é pobre, mas "tem gente que acha pouco se aposentar com salário de R$ 17 mil"

Lula faz crítica às aposentadorias de juízes

Fotos João Wainer/Folha Imagem
O navio Metaltanque 6, que foi batizado por Marisa Letícia e encalhou por causa da maré baixa
 

O presidente Lula e a primeira-dama Marisa usam chapéu de palha em evento em Concórdia (SC)


WILSON SILVEIRA
ENVIADO ESPECIAL A CONCÓRDIA (SC)

Numa crítica indireta aos juízes, que planejam fazer greve contra a reforma da Previdência em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que alguns setores privilegiados do setor público acham pouco se aposentar com R$ 17 mil, num país onde 40 milhões de pessoas passam fome e o salário mínimo é de R$ 240.
Segundo Lula, "90% do setor público ganha mal e vive mal depois que se aposenta, mas há um setor privilegiado que não se conforma com a proposta de reforma da Previdência", ao passo que um trabalhador rural de mãos calejadas tem dificuldade de se aposentar aos 60 anos por falta de documentos.
"Tem gente que, num país onde 40 milhões de pessoas passam fome e onde o salário mínimo é de R$ 240, acha pouco se aposentar com R$ 17 mil, R$ 19 mil, R$ 20 mil, R$ 30 mil. Este é um país pobre e precisamos distribuir o pouco que temos de forma mais equitativa e mais justa, para que todos tenham direito ao mínimo necessário para sua sobrevivência", afirmou Lula.
"É assim que vamos governar este país. Tem gente que pode não gostar. Tem gente que gosta. Nós queremos levar as coisas da forma mais tranquila possível", acrescentou.
Os valores de aposentadoria que citou são mais frequentes entre os membros da magistratura, mas em nenhum momento ele especificou que estava se referindo a essa categoria. O salário de um ministro do Supremo Tribunal Federal está em torno de R$ 17.170. O presidente do STF, Maurício Corrêa, não quis comentar as declarações de Lula.
Lula fez essas afirmações ao discursar para mais de mil participantes do 3º Seminário Brasileiro de Agricultura Familiar, em Concórdia, no sul de Santa Catarina.
Muito aplaudido, Lula disse que negociará com todos os setores da sociedade. "Não haverá um único segmento, por mais que seja contra o governo, que eu não vá chamar para conversar e tentar estabelecer os acordos necessários para viabilizar o Brasil", afirmou.
Lula disse que estava "muito feliz" e mais otimista do que no dia 1º de janeiro, quando tomou posse. "Temos muito a fazer. Isso é como um jogo. O jogo tem 90 minutos, nós estamos com cinco minutos. Precisamos tomar cuidado para não tomar gol e precisamos marcar os gols necessários. Você sabe, Miltão, que eu tenho um jeitão de centroavante, aquele famoso centroavante matador. Então, estou feliz da vida." Lula se dirigia ao presidente da Eletrosul, Milton Mendes.
Descontraído, Lula colocou um boné do Banco do Brasil que lhe foi entregue por uma agricultora e depois o trocou por um chapéu de palha de aba desfiada que ganhou de uma família de agricultores.

Reforma agrária
Um dia depois de receber os principais representantes do setor ruralista no Palácio do Planalto, Lula dedicou grande parte do seu discurso à reforma agrária, dizendo que será feita "da forma mais criteriosa" e "mais correta" possíveis.
Segundo ele, agora que o governo "resolveu" o problema dos setores familiar e empresarial da agricultura, vai dedicar o segundo semestre à reforma agrária, da qual vai "cuidar com muito carinho".
Disse que o governo vai fazer um levantamento das terras disponíveis e ver a possibilidade de o governo comprá-las. Ele reafirmou, numa crítica velada aos fazendeiros que formam milícias e aos invasores de terras, que "não existe explicação para qualquer ato de violência no campo, por parte de quem quer que seja", em razão da enorme quantidade de terras agricultáveis existentes no Brasil.
"Vamos fazer [a reforma agrária] onde e na forma de nossas possibilidades. A gente só faz o que pode", disse. Sem deixar claro o destinatário de sua mensagem, afirmou também que nada acontecerá no Brasil porque alguém quer que aconteça. "As coisas vão acontecer quando o governo conscientemente entender que devem acontecer."
Lula aproveitou a oportunidade para dar outra estocada no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmando que o país, quando o recebeu, era quase "uma massa falida".
Estavam presentes ao evento o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira (PMDB), e quatro ministros: José Graziano (Combate à Fome), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), José Fritsch (Secretaria da Pesca) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), que é natural de Concórdia, onde surgiu a empresa de sua família, a Sadia.


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