São Paulo, domingo, 25 de julho de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

O mercado de "inteligência competitiva" também é um dos mais bem-sucedidos no Brasil, que já tem 500 empresas que atuam no ramo

Kroll fatura US$ 700 mi ao ano no mundo

CATIA SEABRA
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Serviço de inteligência e contra-espionagem. Típicas do cinema americano, essas expressões acabam de deixar as telas e invadir o mercado brasileiro. No Brasil, já são 500 empresas destinadas à "inteligência competitiva". São especializadas na "busca de informação" e à "proteção do conhecimento sensível" no mercado. Os agentes podem até ser discretos, mas os orçamentos são cinematográficos. Exemplo: em 2003, a Kroll Inc. faturou US$ 700 milhões. Em maio, foi comprada pela Marsh a US$ 1,9 bilhão.
No Brasil, seu patrimônio cresce 100% ao ano, segundo o diretor-executivo Eduardo Gomide. Em 2001, tinha dez funcionários. Hoje são 60. Seus preços não são nada acanhados. Só para obter informações em processos sobre uma única pessoa no Tribunal de Justiça do Rio, a Kroll cobra, segundo relatório da Polícia Federal, 1.500 (R$ 5.500). Procurar um juiz vale 10 mil, ou R$ 36.800.
No país, não é só a Kroll que cresce. Com a banalização da espionagem, as empresas tentam se proteger. E pagam o preço. No mercado, um rastreamento de escuta pode custar R$ 50 por metro quadrado, dependendo do ambiente. A varredura de linha telefônica varia de R$ 400 a R$ 600.
A rede Spycom -criada há dois anos- chega a vender o conjunto completo de varredura telefônica a US$ 50 mil (pouco mais de R$ 150 mil). Um de seus sócios, Cássio Posvolsky conta que, semanalmente, cerca de cinco novas empresas procuram os serviços de contra-espionagem, sempre de grande porte e vítimas de grampo ou vazamento de informação.
Esse o mesmo perfil dos clientes de Adriana Gobbo, da Illix Tecnologia e Inteligência. Uma das especializadas em sistema de segurança criptografado (contra grampo telefônico e invasões no computador), a empresa tem um crescimento de 70% ao ano desde que foi criada, há 3 anos. "A procura cresceu absurdamente", diz.
"E, se contratam serviço antigrampo, é porque existe grampo", arremata Marco Antonio dos Santos. Dono da Prospect Intelligence, em Brasília, Santos -que foi operador de Inteligência Institucional nas Forças Armadas- admite ser procurado para instalação de escuta clandestina. Jura que não aceita: "É um lucro fácil. Mas perigoso para quem é de pequeno porte".
Mas há quem faça. Tanto que cresce a oferta de equipamentos de espionagem. Um deles é um transmissor embutido em celulares, carregado pela bateria do aparelho. Nos sites, é vendido como instrumento excelente para qualquer investigação, já que "pode ser deixado em qualquer lugar como se você o tivesse esquecido".
Também é possível encontrar canetas com transmissão de áudio e vídeo, com "excepcional qualidade de imagem e som" e micro receptores de áudio de ouvido, entre outros produtos.
Além da disponibilidade, é cada vez mais barato. Atualmente, segundo Avi Dvir, sócio-gerente da Spycom, um grampo custa R$ 300, de 20% a 30% do valor de dois anos atrás.
A falta de regras também colabora com essa proliferação de "inteligência competitiva". Com status jurídico de consultoria, não precisam estar registradas na Polícia Federal, como os detetives particulares. Também não existe no país nenhuma legislação que puna espionagem. Nem há regulamentação da profissão de "analistas de inteligência competitiva". "Só existe nosso código de conduta", admite a presidente da Associação Brasileira de Analistas de Inteligência Competitiva (Abraic), Elaine Marcial.


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