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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO
Empresas que têm Marcos Valério como sócio fizeram remessas entre 98 e 2001; à CPI, publicitário disse ter enviado US$ 10 mil
Agências enviaram R$ 1 mi para o exterior
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ordens de pagamento contidas
no banco de dados da CPI do Banestado revelam que agências do
empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza fizeram
remessas de R$ 1.191.425,00 para o
exterior, pela conta Lonton, uma
subconta da Beacon Hill, de Nova
York, utilizada por doleiros para
lavagem de dinheiro.
Segundo documentos divulgados ontem pelo senador Álvaro
Dias (PSDB-PR), integrante da
CPI dos Correios, as remessas
ocorreram entre 1998 e 2001
-quando o esquema foi descoberto e interrompido pelo FBI e o
Ministério Público de Nova York.
Os resumos de ordens de pagamento apontam as remessas de
R$ 421.850,19 pela DNA Propaganda e R$ 769.575,39 pela SMPB
Publicidade. Esses documentos
foram enviados em agosto de
2003 pelo promotor distrital de
Nova York Robert Morgenthal à
CPI do Banestado, que investigou
o esquema da Beacon Hill.
Para Álvaro Dias, já existem
provas suficientes para o indiciamento de Marcos Valério. Ele disse que os documentos provam
que houve crime de evasão fiscal e
mostram que o publicitário mentiu em seus depoimentos à PF
-em que disse não ter enviado
dinheiro ao exterior- e à CPI,
para quem falou que suas remessas, para pagar fornecedores, não
ultrapassavam US$ 10 mil (cerca
de R$ 25 mil). Ele também negou
ter operado pela Beacon Hill.
"Há indícios de que ele continua
a fazer isso, não sei se pelo Banco
Rural. Mas o Banco Central precisa investigar o Rural", afirmou.
Segundo o delegado da PF José
Francisco de Castilho Neto, que
conseguiu os primeiros extratos
bancários que revelaram o escândalo do Banestado, em abril 2003,
a Beacon Hill é a maior conta já
conhecida utilizada para a lavagem de dinheiro. Em 2001, a própria Justiça norte-americana quebrou o sigilo da conta.
"Só a utilização da conta Beacon
Hill já revela indícios de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Isso precisa ser
investigado", disse o delegado.
Foi a investigação feita pela equipe de Castilho que motivou a
abertura da CPI do Banestado e a
operação da PF Farol da Colina,
que prendeu o doleiro mineiro
Aroldo Bicalho, apontado como o
operador da conta Lonton.
Outro lado
A assessoria de Marcos Valério
afirmou que ele não comentaria
as remessas para o exterior, alegando que a documentação de
suas empresas já foi enviada à
Procuradoria Geral da República
e à Receita Federal. Ainda de acordo com a assessoria, esses fatos
serão apurados na Justiça.
O deputado federal José Mentor
(PT-SP), relator da CPI do Banestado, disse ontem que não tinha
conhecimento dessas operações
porque a comissão não investigou
empresas de publicidade. Ele ressaltou, no entanto, que enviou toda a base de dados da CPI para o
Ministério Público.
A CPI identificou na semana
passada um cheque de R$ 60 mil,
de 27 de julho de 2004, da 2 S Participações, de Marcos Valério, para o escritório de advocacia de
Mentor. Ele disse que o dinheiro
foi parte do pagamento de serviços prestados por seu escritório
para o empresário.
"Não teve conseqüência [na CPI
do Banestado] não sei por quê. Na
nossa CPI, temos de tipificar esses
crimes", disse Álvaro Dias.
(GILMAR PENTEADO, FERNANDA KRAKOVICS E ANA FLOR)
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