São Paulo, segunda-feira, 25 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PUBLICITÁRIO

Empresas que têm Marcos Valério como sócio fizeram remessas entre 98 e 2001; à CPI, publicitário disse ter enviado US$ 10 mil

Agências enviaram R$ 1 mi para o exterior

DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ordens de pagamento contidas no banco de dados da CPI do Banestado revelam que agências do empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza fizeram remessas de R$ 1.191.425,00 para o exterior, pela conta Lonton, uma subconta da Beacon Hill, de Nova York, utilizada por doleiros para lavagem de dinheiro.
Segundo documentos divulgados ontem pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrante da CPI dos Correios, as remessas ocorreram entre 1998 e 2001 -quando o esquema foi descoberto e interrompido pelo FBI e o Ministério Público de Nova York.
Os resumos de ordens de pagamento apontam as remessas de R$ 421.850,19 pela DNA Propaganda e R$ 769.575,39 pela SMPB Publicidade. Esses documentos foram enviados em agosto de 2003 pelo promotor distrital de Nova York Robert Morgenthal à CPI do Banestado, que investigou o esquema da Beacon Hill.
Para Álvaro Dias, já existem provas suficientes para o indiciamento de Marcos Valério. Ele disse que os documentos provam que houve crime de evasão fiscal e mostram que o publicitário mentiu em seus depoimentos à PF -em que disse não ter enviado dinheiro ao exterior- e à CPI, para quem falou que suas remessas, para pagar fornecedores, não ultrapassavam US$ 10 mil (cerca de R$ 25 mil). Ele também negou ter operado pela Beacon Hill.
"Há indícios de que ele continua a fazer isso, não sei se pelo Banco Rural. Mas o Banco Central precisa investigar o Rural", afirmou.
Segundo o delegado da PF José Francisco de Castilho Neto, que conseguiu os primeiros extratos bancários que revelaram o escândalo do Banestado, em abril 2003, a Beacon Hill é a maior conta já conhecida utilizada para a lavagem de dinheiro. Em 2001, a própria Justiça norte-americana quebrou o sigilo da conta.
"Só a utilização da conta Beacon Hill já revela indícios de sonegação fiscal, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Isso precisa ser investigado", disse o delegado. Foi a investigação feita pela equipe de Castilho que motivou a abertura da CPI do Banestado e a operação da PF Farol da Colina, que prendeu o doleiro mineiro Aroldo Bicalho, apontado como o operador da conta Lonton.

Outro lado
A assessoria de Marcos Valério afirmou que ele não comentaria as remessas para o exterior, alegando que a documentação de suas empresas já foi enviada à Procuradoria Geral da República e à Receita Federal. Ainda de acordo com a assessoria, esses fatos serão apurados na Justiça.
O deputado federal José Mentor (PT-SP), relator da CPI do Banestado, disse ontem que não tinha conhecimento dessas operações porque a comissão não investigou empresas de publicidade. Ele ressaltou, no entanto, que enviou toda a base de dados da CPI para o Ministério Público.
A CPI identificou na semana passada um cheque de R$ 60 mil, de 27 de julho de 2004, da 2 S Participações, de Marcos Valério, para o escritório de advocacia de Mentor. Ele disse que o dinheiro foi parte do pagamento de serviços prestados por seu escritório para o empresário.
"Não teve conseqüência [na CPI do Banestado] não sei por quê. Na nossa CPI, temos de tipificar esses crimes", disse Álvaro Dias.
(GILMAR PENTEADO, FERNANDA KRAKOVICS E ANA FLOR)


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