|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
O silêncio conivente
As dificuldades postas pelo governo israelense à saída de brasileiros em fuga são um ato de hostilidade ao Brasil
|
A VIOLAÇÃO MÚLTIPLA das leis
humanitárias internacionais
pelos militares de Israel já foi
oficialmente estabelecida, no domingo, pela inspeção preliminar da
ONU no Líbano. Mas as dificuldades
postas pelo governo israelense à saída de brasileiros em fuga vão além
do que a ONU proclama. São um ato
de hostilidade explícita ao Brasil.
Tão mais injustificado quanto nem
o habitual pretexto de provocação o
governo de Israel pôde invocar. Apesar disso, o governo brasileiro não
foi capaz de apresentar sequer o
protesto convencional e formalmente burocrático, ao menos para
não se mostrar tão conivente, como
já sugerira o seu silêncio, com a comunidade de responsáveis pelos crimes de guerra e de desumanidade
no Oriente Médio.
Os esforços do Itamaraty junto ao
governo de Israel, para obter garantia de que comboios brasileiros não
sejam atacados, nem ao menos
pronta resposta têm recebido, ainda
que negativa. E a negativa é mesmo a
resposta a ser esperada pelos brasileiros em fuga, sob formas diversas
como, por exemplo, a imposição de
que certo comboio fizesse um percurso de 14 horas para uma viagem
que não precisaria de mais de hora e
meia. Israel tem controle aéreo absoluto das estradas, e não teria dificuldade em informar seus pilotos
sobre a estrada a poupar em determinado horário. Apenas uma pequena frustração no apetite letal
com que ônibus de civis, caminhões
de víveres e medicamentos e até ambulâncias são atacados pelos caças.
As queixas dos brasileiros em fuga
do Líbano são justificadas, mas não
convém que recaiam sobre os diplomatas do Itamaraty incumbidos das
operações, aqui e no exterior. As informações disponíveis atestam seu
esforço e sua eficiência. E não falte
uma palavra de louvor à iniciativa da
TAM, que desloca amanhã um Airbus, sem ônus, para recolher refugiados brasileiros.
Desconheço se a responsabilidade
pela falta de protesto do Brasil cabe
a decisão de Lula, sempre tão disposto a agradar Bush, ou ao ministro
Celso Amorim, aparentemente
mais interessado, nas últimas semanas, em questões comerciais de Doha, G8 e outras enrolações. Seja de
quem for a responsabilidade, dá no
mesmo: é uma humilhação internacional do Brasil.
Sanguessuga
O senador petista Sibá Machado
já devia estar expulso da CPI dos
Sanguessugas, por levar a um depoimento secreto um assessor da
senadora petista Serys Slhessarenko, que figura entre os denunciados. Mas não só. Já devia estar sob
processo por falta grave de ética:
mesmo depois de constatada a presença irregular, Sibá Machado tentou ludibriar a CPI de que é membro, com a reiteração da mentira de
que o intruso era assessor seu.
Texto Anterior: CPI afirma reunir provas contra 80% dos suspeitos Próximo Texto: Petista confirma auxílio a dono da Planam Índice
|