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Após 3ª tentativa, Jobim cede a Lula e vai assumir a Defesa
Ex-ministro do STF já havia negado convite para o cargo nesta semana e em março
Deve haver ainda mudanças em comando do Conselho de Aviação e na Infraero; Fernando Bezerra (PTB-RN) foi cotado para a estatal
RENATA LO PRETE
EDITORA DO PAINEL
O ex-presidente do Supremo
Tribunal Federal Nelson Jobim (PMDB) aceitou na noite
de ontem o convite para assumir o Ministério da Defesa em
substituição a Waldir Pires
(PT), desgastado por dez meses
de crise aérea e pelo acidente
com o Airbus-A320 da TAM
que matou quase 200 pessoas
na terça-feira da semana passada. O anúncio será feito hoje.
Foi a terceira abordagem do
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a Jobim desde a tragédia
em Congonhas. Nos dois primeiros convites - feitos em
março e na semana passada -,
ele recusara a proposta.
Antes de dizer sim, Jobim
ouviu de Lula que terá liberdade para fazer as mudanças que
considerar necessárias na Infraero e na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A estatal e a agência reguladora estão
no centro do transtorno vigente nos aeroportos desde o acidente com o Boeing da Gol, em
outubro passado.
Aliados de Jobim consideram que, embora pouco "jeitoso" para se movimentar num
setor conflagrado, o ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique Cardoso tem a
qualidade de se aprofundar nos
assuntos a que se dedica, o que
poderá ser útil em suas novas
atribuições.
A pressa de Lula para fazer a
troca no Ministério da Defesa
explica-se pela necessidade de
encontrar um nome capaz de
gerenciar e acompanhar o pacote emergencial lançado para
Congonhas na sexta-feira passada, após o acidente.
Para o presidente, seria necessário nomear rapidamente
um gestor permanente para
traçar os próximos passos, como a definição do local para
funcionar o novo aeroporto de
São Paulo (além de Congonhas
e de Cumbica), daqui a 85 dias.
Até ontem, o pacote estava
sendo tocado em caráter provisório pela ministra-chefe da
Casa Civil, Dilma Rousseff, já
responsável pela coordenação
das obras incluídas no PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento).
Devido às primeiras recusas
de Jobim, Lula havia cogitado
outros dois nomes para a Defesa, dos ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Jorge Hage (Controladoria Geral da
União). Agora, os auxiliares do
presidente avaliam que será
preciso encontrar uma saída
honrosa para Waldir Pires.
Conac e Infraero
O Palácio do Planalto estuda
também um novo desenho para
fortalecer o Conac (Conselho
de Aviação Civil), que seria o
principal responsável pelo
acompanhamento da implementação do pacote.
Uma das idéias radicais estudadas pelo governo é a alteração do órgão para tirar a presidência do Conac do ministro da
Defesa.
O governo já decidiu que o
Conac será ampliado. Hoje é
formado por seis ministérios
(Fazenda, Relações Exteriores,
Defesa, Casa Civil, Turismo e
Desenvolvimento) e pelo comandante da Aeronáutica.
Vão entrar também os ministérios da Justiça e do Planejamento, que poderiam passar a
ocupar a presidência do Conselho de Aviação Civil.
Junto com a mudança no Ministério da Defesa virá também
a troca do comando na Infraero. Uma possibilidade é nomear Fernando Bezerra (PTB-RN), ex-senador e ex-ministro
de Fernando Henrique, tido como um político experiente.
A saída do atual presidente
da Infraero, brigadeiro José
Carlos Pereira, é considerada
tão certa como a de Pires.
Três ministros
As trocas no Ministério da
Defesa sob Lula resultam de
dois focos de conflito entre governo e militares: os cortes de
verbas na pasta e o legado do
regime militar.
O primeiro titular, o diplomata José Viegas, desgastou-se
junto aos oficiais por adiar o
reequipamento da FAB e por
reduzir os soldos das tropas em
missão de paz no Haiti.
O segundo ministro, o vice-presidente José Alencar, passou os primeiros meses de sua
gestão mais envolvido com a
crise da Varig do que com os assuntos da Defesa. Não conseguiu atender às reivindicações
militares pelo aumento de soldos e reaparelhamento das
Forças.
Já a gestão de Waldir Pires ficou marcada pela crise aérea.
Ele defendeu negociações com
os controladores de vôo e a
transferência da gestão do setor aos civis, alegando que o
controle militar hoje só existe
na Eritréia, Somália, Uruguai e
Argentina -fato que que causou embaraço aos militares.
Colaboraram LETÍCIA SANDER e PEDRO DIAS
LEITE, da Sucursal de Brasília, e a Redação
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