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ELIO GASPARI
A micromegalomania de Lula é contagiosa
O presidente da Infraero diz
que "os mortos são nossos",
triste fim para o slogan da
campanha do petróleo
O FESTIVAL de besteiras com
que o governo de Nosso Guia
tem assolado o país é algo
sem precedente, mas seria uma pobreza condená-lo apenas por dizer
bobagens. O problema é bem outro,
pior. Houve o "relaxa e goza" de
Marta Suplicy, mas, antes dele, Lula
anunciou, do alto da sua micromegalomania (caso raro de mania de
pequena grandeza): "Quero prazo,
dia e hora para anunciar o fim da crise dos aeroportos".
Na segunda-feira, o presidente da
Infraero produziu uma nova marca,
difícil de ser superada. A Federação
Internacional dos Controladores de
Vôo condenou a gestão da crise e sugeriu uma interferência externa.
Trata-se de um organismo corporativo e sem representatividade, mas
nem por isso se pode dizer que esteja propondo um absurdo. A resposta
veio do brigadeiro José Carlos Pereira, presidente da Infraero: "A crise é nossa, os mortos são nossos".
Para quem lembra desse tipo
de retórica na campanha do petróleo, no anos 50, esse é um triste
fim para os sentimentos nacionalistas. Exacerbações nativistas podem
atrair uma velha maldição do ensaísta inglês Samuel Johnson (1709-1784): "O patriotismo é o último
refúgio do canalha". Em Pindorama,
o patriotismo foi usado pelos escravocratas do século 19 para desqualificar as pressões da esquadra inglesa
e pelos ditadores do 20 para acobertar as torturas e os assassinatos
condenados pelo governo do presidente americano Jimmy Carter
(1977-1981).
A economia brasileira foi vigiada
pelo Fundo Monetário Internacional. Há lixões em São Paulo cuja
emissão de gases é monitorada por
empresas americanas a serviço de
organismos internacionais. Em
2003, interessado em conhecimentos técnicos sobre segurança nos aeroportos, um diretor da Infraero pediu socorro à Embaixada americana.
Se alguém dissesse que a desordem
fiscal, os lixões e a ignorância aerocrática são nossos, certamente passaria por bobo.
Numa primeira camada, as tolices
ditas pelos companheiros refletem a
inteligência de cada um deles. Até aí
tudo bem, ninguém é obrigado a fazer nexo. Olhando-se com mais
atenção, vê-se que há em cada bobagem um elemento de prepotência. O
rapaz da Anac ganha uma pataca e
quando lhe perguntam se não há
contradição entre a homenagem e o
tamanho da crise, explica: "A Aeronáutica é que tem que responder".
Uma senhora que ocupa uma cadeira na diretoria da Agência e fuma
charutos em público, dá aulas: "Deixa eu te falar uma coisa: o acidente
não foi no ar. Ninguém bateu no ar,
tá? Então, o acidente não tem nada a
ver com o número de vôos em Congonhas, tá?"
As besteiras que desmoralizam o
segundo mandato do Nosso Guia resultam de uma concepção burocrática, autoritária e delirante do exercício do poder. É o contágio da micromegalomania. Cada um manda
no seu pedaço com a imponência de
Al Gore e a inteligência de Mike
Tyson. Lula exige dia e hora para a
crise acabar, a Anac informa que não
teve nada a ver com o que aconteceu
em Congonhas, a Infraero diz que
"os mortos são nossos" e quem cobra soluções ao conjunto do governo
é considerado um idiota. Reencarnam um superintendente da Sudene que, durante a ditadura, atribuiu
a seca do Nordeste à falta de chuvas.
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