São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PT X PT

Em sabatina promovida pela Folha anteontem, presidente do PT disse que não teria, agora, argumento a dar para alguém votar no partido

Planalto reage mal a declarações de Tarso

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Governo e PT reagiram mal às declarações do presidente do partido, Tarso Genro, de que não teria argumentos em defesa do voto na sigla atualmente. Em sabatina promovida pela Folha anteontem, Tarso também reafirmou suas críticas à política econômica.
A reação foi tamanha que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP) -patrocinador da candidatura de Tarso à presidência do PT-, admitiu que as críticas "criaram embaraço".
"Não está fácil resolver essa questão. Não é só [a disputa com] Dirceu. Há muita reação às críticas dele à política econômica e sua postura sobre 2006", afirmou Mercadante, que tenta costurar um acordo entre Tarso e o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP). "Falei que era um erro ele criticar a política econômica num momento como este", disse Mercadante. Em mais uma tentativa, o senador reúne hoje governadores petistas para uma conversa com Tarso. A idéia é buscar uma saída para a crise interna.
Segundo a Folha apurou, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Tarso que amenizasse as ameaças de desistir de concorrer caso Dirceu permaneça na chapa. Lula prometeu tentar convencer Dirceu a sair. Tarso baixou o tom, mas garantiu ter apoio de Lula. Ainda segundo Tarso, "o presidente não fez nenhuma advertência, não disse uma palavra negativa sobre qualquer atitude que tenha tomado".
Ontem, Tarso recuou. Além de não cumprir a promessa de renunciar caso Dirceu ficasse na chapa, também disse não ver necessidade de estabelecer um prazo para que a crise se resolva e indicou que o veto à permanência do grupo do ex-ministro na chapa pode ser contornado. Tarso chegou a dizer que poderia trabalhar com parte da base anterior em seu esforço de "refundar" a sigla.
"A minha posição não está relacionada com nenhum nome em especial da chapa. Se houver uma transição profundamente renovadora, sem deixar de aproveitar a grande base política anterior, posso ser o candidato."
Ele também resistiu de maneira veemente à fixação de um prazo para o desfecho da situação. "Não vou dar prazo para isso, porque não me considero intimado por ninguém. Vou resolver isso de acordo com a evolução das relações, do diálogo."
Ontem foi um dia cheio para os bombeiros petistas. Entraram em cena Mercadante, o prefeito de Aracaju (SE), Marcelo Déda, o assessor internacional da Presidência Marco Aurélio Garcia e o ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), uma espécie de "delegado" de Lula, que teme os efeitos paralisantes da rixa sobre a articulação política do governo.

Acordo
Segundo petistas que conversaram com Tarso e com Dirceu, há propostas de acordo. Numa delas, o Campo Majoritário manteria em sua chapa os acusados de envolvimento no caso do "mensalão". Porém eles não integrariam o Diretório Nacional do PT.
Para a eleição interna, marcada para 18 de setembro, cada chapa pode apresentar até 108 nomes, mas não são todos que têm assento no diretório, com 82 cadeiras e ocupação proporcional ao resultado de cada chapa nas urnas. Apesar do gesto, há quem acredite que seja tarde demais: "Buscamos um caminho, mas não temos uma proposta".
A senha para um recuo já havia sido dada na noite de anteontem, quando Tarso evitou definir se mantinha a candidatura mesmo após saber das declarações de Dirceu, de que "não merecia" o processo a que vem sendo submetido. Em conversas internas, Tarso, segundo a Folha apurou, reconheceu que passou do ponto ao deixar a disputa política "irracionalizar-se", ganhando aspecto de queda-de-braço pessoal.
Já Dirceu, em conversa que teve com Mercadante, Déda e Garcia, disse que aceitaria apoiar Tarso, desde que não seja humilhado pelo partido. Até o fim desta semana um acordo será costurado. Hoje haverá uma nova rodada de conversas, principalmente de Mercadante com os dois rivais.

Apoio de Lula
Tarso chegou a São Paulo ontem afirmando contar com o apoio do Palácio do Planalto e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o que chama de refundação do partido.
"Eu e o presidente conversamos demoradamente. O presidente disse: "Olha, seus argumentos estão corretos. Minha preocupação é com a renovação do partido. Isso é muito importante para o futuro do partido e do governo'", relatou Tarso, reproduzindo palavras do presidente.


Texto Anterior: Projeto obriga cliente a avisar banco sobre saque
Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/O acusador: Relator vai recomendar cassação de Jefferson
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.