São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Fernando Haddad, inovação tecnológica amplia desigualdade

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Em sua palestra ontem no ciclo de conferência "O Silêncio dos Intelectuais", o ministro da Educação, Fernando Haddad, sugeriu que parte desse silêncio pode ser fruto do surgimento de uma nova classe social após 1968. Essa classe, composta pelos que dominam o processo de inovação do conhecimento, não poderia ser enquadrada, a partir da análise marxista nem como proletariado nem como burguesia.
O tema de sua conferência era "Novo Intelectual, Nova Classe?". O organizador do evento, Adauto Novaes, explicou que Haddad foi convidado a falar não como ministro da Educação, mas como intelectual que se dedicou a esse tema durante sua trajetória acadêmica na USP. Para Haddad, o ano que delimita com mais clareza o surgimento dessa nova classe formada pelos intelectuais é 1968, por coincidir com a terceira revolução tecnológica.
"Até então, a perspectiva dos membros desse sistema de inovação não era diferente da perspectiva dos trabalhadores. Em 1968, os membros dessa nova camada tomam a dianteira do movimento social (...), mas, para surpresa deles, quem acaba recuando por ocasião da greve geral é o proletariado, que aceita os termos da proposta dos patrões. A partir daí, eu diria que não houve mais situação em que esses grupos históricos se aproximassem mais."
Segundo Haddad, a partir desse momento de distanciamento, essa nova classe social detentora da capacidade de inovação aumentou e passou a agir como um instrumento de aumento da desigualdade social. "Essa classe criativa passa a ser também parte da explicação da piora dos indicadores de desigualdade nos últimos 20 anos. Ela não produz mercadorias, mas seu processo de inovação dá ensejo a um lucro extraordinário que é repartido entre ela e os detentores dos meios de produção. Portanto, não é uma classe propriamente explorada, como é o trabalhador tradicional, mas não deixa de ser alienada de sua produção intelectual."
Ele concluiu explicando os significados do silêncio dessa nova classe. "O silêncio pode vir dessa tradição de que pessoas com capacidade criativa operam estruturas dentro das empresas, do Estado ou de universidades e, portanto, em silêncio para o público. Mas pode significar também que estejam assim porque, apesar de ainda olharem esse processo com distanciamento crítico e até com certa repugnância, ainda não sabem o que dizer."


Texto Anterior: Saiba mais: Sociólogo afirma que PT expressa nova classe social
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.