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Para Fernando Haddad, inovação tecnológica amplia desigualdade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Em sua palestra ontem no ciclo
de conferência "O Silêncio dos Intelectuais", o ministro da Educação, Fernando Haddad, sugeriu
que parte desse silêncio pode ser
fruto do surgimento de uma nova
classe social após 1968. Essa classe, composta pelos que dominam
o processo de inovação do conhecimento, não poderia ser enquadrada, a partir da análise marxista
nem como proletariado nem como burguesia.
O tema de sua conferência era
"Novo Intelectual, Nova Classe?".
O organizador do evento, Adauto
Novaes, explicou que Haddad foi
convidado a falar não como ministro da Educação, mas como intelectual que se dedicou a esse tema durante sua trajetória acadêmica na USP. Para Haddad, o ano
que delimita com mais clareza o
surgimento dessa nova classe formada pelos intelectuais é 1968,
por coincidir com a terceira revolução tecnológica.
"Até então, a perspectiva dos
membros desse sistema de inovação não era diferente da perspectiva dos trabalhadores. Em 1968,
os membros dessa nova camada
tomam a dianteira do movimento
social (...), mas, para surpresa deles, quem acaba recuando por
ocasião da greve geral é o proletariado, que aceita os termos da
proposta dos patrões. A partir daí,
eu diria que não houve mais situação em que esses grupos históricos se aproximassem mais."
Segundo Haddad, a partir desse
momento de distanciamento, essa nova classe social detentora da
capacidade de inovação aumentou e passou a agir como um instrumento de aumento da desigualdade social. "Essa classe criativa passa a ser também parte da
explicação da piora dos indicadores de desigualdade nos últimos
20 anos. Ela não produz mercadorias, mas seu processo de inovação dá ensejo a um lucro extraordinário que é repartido entre ela e
os detentores dos meios de produção. Portanto, não é uma classe
propriamente explorada, como é
o trabalhador tradicional, mas
não deixa de ser alienada de sua
produção intelectual."
Ele concluiu explicando os significados do silêncio dessa nova
classe. "O silêncio pode vir dessa
tradição de que pessoas com capacidade criativa operam estruturas dentro das empresas, do Estado ou de universidades e, portanto, em silêncio para o público.
Mas pode significar também que
estejam assim porque, apesar de
ainda olharem esse processo com
distanciamento crítico e até com
certa repugnância, ainda não sabem o que dizer."
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