São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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Intelectuais rejeitam "silêncio" de filósofa

DA REDAÇÃO

As teses da filósofa Marilena Chaui no ciclo de palestras "O Silêncio dos Intelectuais" dividiram opiniões no meio acadêmico. Ela justificou o silêncio dos intelectuais sobre a crise política e contrastou "intelectuais" e "ideólogos". A professora disse que a discussão política da crise está sendo pautada pelos tucanos, os "ideólogos", que estão "cada vez mais tagarelas". A Folha ouviu cientistas políticos sobre essas idéias.
"Eu acho o silêncio dos intelectuais de esquerda muito triste", diz José Luciano Dias, pesquisador do Ibep (Instituto Brasileiro de Pesquisas Políticas). Para ele, isso "é mais uma comprovação de uma tendência antiga de não condenar suas lideranças quando elas são pegas na prática de atos os mais condenáveis". "Como não conseguem dizer que o [deputado do PTB] Roberto Jefferson é um cara da oposição, que o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT] é um cara da oposição, eles não conseguem reagir a isso".
Leôncio Martins Rodrigues, professor aposentado da Unicamp, disse que os intelectuais de esquerda já cometeram muitos erros, como "o apoio servil a regimes totalitários", e para evitar novos erros "é bom mesmo que se calem. Ou que só se pronunciem sobre sua especialidade. Mas, aí, deixariam de ser intelectuais".
A professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp Raquel Meneguello critica a tese do silêncio. "É nosso dever de ofício ajudar a compreender a situação atual, os meandros da crise".
Renato Lessa, professor do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), discorda. "Mais grave que o silêncio é o dogmatismo, a não-autenticidade, os que denunciam discursos como errados."
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ironizou anteontem Chaui, que disse que o governo do PT "caiu em uma armadilha tucana de que os petistas não se deram conta". Ele respondeu: "Ela tem um belo trabalho sobre Espinoza. Se vocês me perguntarem alguma coisa sobre Espinoza, vou dizer: "eu não sei". Acho que ela deve ter a humildade de dizer "não entendo de política'".


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