São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2006

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Renata Lo Prete

A margem de Alckmin

É O BORDÃO mais repetido desta campanha. A cada nova pesquisa, "crescem as pressões dos aliados" para que Geraldo Alckmin avance sobre a jugular de Lula no capítulo corrupção, hoje marginal na propaganda do tucano. Não convém descartar a hipótese de Alckmin ceder no desespero -e será esse o termo se, em dez dias, os números permanecerem no patamar atual. Mas, até o momento, o candidato não dá sinal de mudança -falar grosso em eventos para públicos específicos é uma coisa; alterar o roteiro do programa de televisão, outra bem diferente. Ele finge que ouve os reclamantes -vide a recente visita a Cesar Maia- e segue fazendo tudo a seu modo. Revela-se menos maleável do que imaginavam seus padrinhos Tasso Jereissati (PSDB) e Antonio Carlos Magalhães (PFL). De cristianização a lulismo, há de tudo um pouco no coro de descrédito que cerca a campanha de Alckmin, inclusive compreensível indignação da parcela mais informada do eleitorado oposicionista. A novela em exibição no horário gratuito passa ao largo do mensalão e demais escândalos. Quem sabe o que aconteceu tem a impressão de estar diante de um caso de delírio coletivo ao ver Lula, livre de contestação, dar lições de ética aos adversários. Com a perspectiva de um único turno mais concreta a cada dia, aliados de Alckmin exigem providências. O problema é que talvez não exista nada de muito diferente a tentar. Sair batendo pode ser a pá de cal, que o diga Mercadante (comentário de entrevistada em pesquisa qualitativa sobre o programa do petista em São Paulo: "A gente nem sabe quem ele é, e ele já vem falando mal do outro"). Nem toda campanha negativa dá errado. Mas Lula conta com uma blindagem que torna qualquer operação desse gênero mais arriscada. Os responsáveis pela propaganda de Alckmin conhecem bem a reação refratária, quase arisca, de eleitores lulistas ou mesmo indecisos diante de referências pejorativas ao presidente ou da simples menção aos escândalos. Com margem de manobra assim estreita, a campanha tenta: a) dizer ao eleitor que tudo bem gostar de Lula; b) apresentar a ele um outro candidato "que também é bom"; c) mais adiante, sugerir que Alckmin pode fazer melhor. A questão ética entra nessa equação de forma subjacente, na esperança de que o eleitor tenha perdoado Lula, mas não esquecido, o que permitiria ressuscitar a rejeição. Vai dar certo? Chance pequena. Mas Alckmin, como todo candidato, quer ganhar a eleição, se for possível, ou, plano B, sair da campanha maior do que entrou (conhecido nacionalmente e com votação razoável). Seu negócio não é queimar navios.


RENATA LO PRETE é editora do Painel


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