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Dirigentes da Receita veem "ruptura" e entregam cargos
Metade de superintendentes protesta contra recuo no cerco a grandes sonegadores
Anúncio faz crescer a crise
no fisco após a saída de Lina
Vieira; funcionária que
confirmou depoimento da
ex-chefe foi exonerada
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Doze integrantes da cúpula
da Receita Federal pediram
exoneração coletiva na tarde de
ontem, num levante contra a
interferência política no órgão
patrocinada pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) e o Palácio do Planalto.
Os demissionários são o subsecretário de Fiscalização e
cinco dos dez superintendentes regionais do órgão (entre os
quais o de São Paulo), além de
cinco coordenadores-gerais e
um superintendente-adjunto.
A decisão do grupo de superiores hierárquicos provocou
efeito em cascata noutros níveis de comando da Receita, o
que ameaça paralisar o fisco.
No início da noite, delegados,
inspetores, chefes de departamento e superintendentes-adjuntos também avisaram que
deixarão suas funções.
A iniciativa dos servidores é
uma reação à demissão da ex-secretária Lina Vieira e à "ruptura" no projeto implantado
por ela e sua equipe, que priorizava a fiscalização sobre os
grandes contribuintes.
Na carta de exoneração entregue ontem ao substituto de
Lina, Otacílio Cartaxo, os demissionários ressaltaram que
esperam que a nova gestão do
órgão "mantenha e aprofunde a
política de fiscalização que vem
sendo implementada com foco
nos grandes contribuintes" e
que "não tolere qualquer tipo
de ingerência política".
Cartaxo começou a dar sinais
dos novos rumos do órgão na
semana retrasada, quando fez
uma interpretação favorável da
manobra contábil adotada pela
Petrobras em meados de 2008.
Na gestão de Lina, a Receita
soltou nota com entendimento
contrário ao da estatal. O episódio serviu de estopim para o governo demitir a secretária.
Na madrugada de sexta-feira,
o levante contra Cartaxo ganhou força. Numa reunião em
sua casa em Brasília, ele anunciou exonerações e disse aos
presentes que, devido a pressões do ministro Mantega, não
teria como segurar Henrique
Jorge Freitas, o subsecretário
de Fiscalização, um dos 12 que
entregaram o cargo ontem.
O aviso foi interpretado pelos
dirigentes da Receita de que
haverá um recuo na política de
cerco aos grandes contribuintes -uma marca da curta gestão de Lina Vieira e que gerou,
no primeiro semestre deste
ano, um recorde de autuações.
Lina Vieira foi demitida em 9
de julho. Disse que Mantega comunicou-a de que era uma "decisão de cima" -no organograma do governo federal, o presidente Lula ou a ministra Dilma
Rousseff (Casa Civil).
Um mês depois, a ex-secretária confirmou à Folha que havia sido chamada, no final de
2008, para uma reunião a sós
com Dilma, em que esta teria
pedido para encerrar as investigações sobre os negócios da
família do senador José Sarney
(PMDB-AC), aliado histórico
do governo Lula. A ministra
nega a existência do encontro.
Cartaxo, que era braço direito de Lina, assumiu o cargo
duas semanas atrás, um dia depois do depoimento no Congresso em que se calou sobre a
queda da ex-chefe e anunciou o
"novo entendimento" da Receita acerca da manobra contábil usada por grandes empresas
-a Petrobras entre elas.
Ontem, o "Diário Oficial da
União" divulgou a exoneração
de dois funcionários de confiança da diretoria. Iraneth
Weiler, chefe de gabinete que
em entrevista à Folha confirmou a versão de Lina sobre o
encontro com Dilma no Planalto, foi uma das dispensadas.
Segundo a Folha apurou, o
protesto coletivo de ontem,
além de chamar a atenção para
a "ruptura", visa a constranger
o governo federal e impedir intromissões de natureza política
na Receita a pouco mais de um
ano das eleições -quando os
partidos já se movimentam em
busca de doações financeiras.
A Folha tentou sem sucesso
ouvir Mantega. No final de semana, o Planalto minimizou a
insatisfação dentro da Receita
e relacioná-la à "troca natural"
de cargos após a saída de Lina.
Leia a íntegra da carta dos
demissionários da Receita
www.folha.com.br/0923623
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