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PRESIDENTE
Alta do dólar torna atrativa a idéia de permitir um pouco
de inflação no ano inicial do mandato do próximo presidente
A primeira tentação
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A eventual permanência do dólar muito acima dos R$ 3 tornará
sedutora a idéia de permitir "um
pouco mais de inflação" -expediente condenado anteontem pelo Fundo Monetário Internacional- para a travessia do ano de
2003, o primeiro do mandato do
próximo presidente.
Um estudo elaborado pelo BBV
Banco indica que, com um dólar a
R$ 3,20, será necessário um aperto adicional de R$ 3,5 bilhões nos
orçamentos nacionais para manter as contas equilibradas, segundo parâmetros semelhantes aos
do acordo com o FMI. Com o dólar a R$ 3,40, a conta sobe para R$
26 bilhões.
O primeiro valor equivale a metade do orçamento do Ministério
da Educação; o segundo supera
todos os gastos previstos para a
Saúde (R$ 22,5 bilhões).
Esses seriam os cortes necessários para elevar o superávit primário -a parcela das receitas
destinada ao pagamento de dívidas- de 3,75% para 4% e 5,6%
do PIB, respectivamente.
Uma alta moderada da inflação
poderia, teoricamente, beneficiar
as contas do governo e reduzir a
necessidade de sacrifícios desse
montante. Também em tese, poderia abrir espaço para a queda
dos juros, com efeitos positivos
para o crescimento econômico.
Por fim, deixar o dólar em níveis
elevados favoreceria a balança comercial, reduzindo a dependência
em relação ao capital externo.
Parece tentador para candidatos que, ao longo da campanha,
prometeram combater o desemprego estimulando, justamente,
as exportações e o crescimento.
E soa como uma solução simples para o problema que mais
aflige a economia hoje, ou seja, a
explosão do câmbio -ela própria
se encarregaria de produzir o
"pouco mais de inflação".
É possível fazer contas para encaixar uma estratégia como essa
nas regras do acordo com o FMI,
que prevê empréstimos de US$ 24
bilhões em 2003.
O acordo tem o objetivo principal de conter a escalada da dívida
pública, iniciando uma trajetória
gradual de queda a partir do patamar de 59% do PIB (Produto Interno Bruto) estimado para o fim
deste ano. Imaginou-se que, para
isso, será necessário um superávit
primário de R$ 53 bilhões.
Esse cálculo parte do pressuposto de que, em 2003, a economia
crescerá 3%, os juros reais (acima
da inflação) ficarão em 9% e o dólar não passará de R$ 3,08. Qualquer número pior implicará a necessidade de superávits maiores.
Uma inflação acima dos 4% esperados, no entanto, elevaria o
valor em reais do PIB e da arrecadação do governo, tornando mais
fácil manter a dívida na proporção desejada. O acordo com o
FMI tolera uma inflação de até
7,5% no período de 12 meses que
termina em setembro de 2003.
São muitos, porém, os riscos envolvidos na idéia de conceder
maior tolerância à inflação. O
maior deles é abalar a credibilidade do novo governo e levar o mercado a apostar em taxas ainda
maiores. Esse cenário levaria a
novas altas do dólar, que puxariam novos aumentos de preços
-e estaria recriada a espiral inflacionária que parou o país nos
tempos pré-real.
Para o mercado, que ainda
mantém a expectativa de recuo do
dólar após as eleições, a providência mais aconselhável seria mesmo o novo presidente se comprometer de imediato com o equilíbrio fiscal.
"Os primeiros sinais serão decisivos", diz Octavio de Barros, economista-chefe do BBV, cujos estudos concluem que o superávit
previsto no acordo com o Fundo
provavelmente bastará para estabilizar a dívida pública.
Ainda assim, ele defende que o
novo governo tome a iniciativa de
anunciar uma meta maior, de 4%
do PIB, por exemplo. "Seria sábio", argumenta, por dar um sinal
claro de austeridade que acalmaria os investidores.
O economista do BNDES Fabio
Giambiagi, especialista em contas
públicas, acredita que essa cifra
possa ser obtida sem necessidade
de sacrifício adicional por parte
do governo federal.
Ele estima que para isso seria
suficiente a repetição do desempenho de 2001 de Estados e municípios -um superávit de 1,2% do
PIB mesmo com a economia estagnada.
Já resultados mais ambiciosos,
segundo Giambiagi, dependeriam da força política do novo
presidente nas negociações com o
Congresso e os governadores.
Fábio Akira, do JP Morgan, avalia que a permanência do dólar alto neste ano alteraria os parâmetros do acordo com o FMI.
Por esse raciocínio, se o dólar
terminasse 2002 em, por exemplo, R$ 3,50, a dívida pública chegaria a 62% do PIB -e esse seria
o novo teto a ser observado a partir de 2003.
Nesse caso, seria improvável
uma nova disparada do dólar a
partir do próximo ano, o que tornaria menos dramáticos os ajustes adicionais a serem feitos pelo
futuro governo.
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