São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO A 2006

Vários deputados já acertaram transferência para outras legendas, mas ainda aguardam definição sobre presidência da Casa

Severino atrasa troca-troca na Câmara

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A complicada sucessão de Severino Cavalcanti (PP-PE) a presidente da Câmara adiou o troca-troca partidário na Casa. De acordo com a lei, os políticos têm até o dia 30 deste mês para escolher o partido pelo qual disputarão a eleição do ano que vem.
Várias siglas anunciaram na primeira quinzena deste mês um incremento em suas bancadas. Mas a renúncia de Severino e a incerteza sobre quem estará no comando da Câmara fizeram com que todos deixassem para oficializar as mudanças na última hora.
Até a tarde da última sexta-feira, a correlação de forças entre as diversas bancadas da Câmara se mantinha mais ou menos semelhante à das últimas semanas -embora já muito diferente do resultado das urnas em 2002.
Até hoje, desde a posse dos deputados, em 1º de fevereiro de 2003, houve 281 mudanças partidárias envolvendo 170 dos 513 congressistas que formam a Câmara. Alguns trocaram de sigla várias vezes, pois não há restrição legal a esse tipo de movimentação. Algumas medidas estão em estudo para conter a migração, mas não há perspectiva sobre quando poderão ser aprovadas.

PMDB
Na semana que vem, até o prazo final de sexta-feira, o PMDB deve se tornar a maior bancada da Câmara. Pode pular para algo entre 93 e 95 deputados filiados. Se conseguir as 95 cadeiras, terá um incremento nominal de 19 deputados -25,7% a mais do que conseguiu nas urnas, em 2002. Os peemedebistas assim estarão no mesmo caminho trilhado por PTB, PL e PP depois que Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como presidente, em janeiro de 2003.
O governo do PT deliberadamente escolheu alguns partidos para trabalharem com a massa de congressistas fisiológicos que sempre aderem ao governo - independentemente de coloração ideológica.
No caso de Lula, as siglas escolhidas num primeiro momento foram o PL e o PTB. Depois, agregou-se o PP. Agora, o PMDB ingressa na sua melhor fase.
O PT foi preservado da entrada de mais deputados. Agora, com a crise do "mensalão" e redução da perspectiva de poder -pela incerteza da reeleição de Lula-, a bancada petista está começando a minguar. Dos 91 eleitos já caiu para 88. É possível que até sexta-feira o encolhimento resulte em algo em torno de 80 a 85 deputados.
A estratégia de fabricar grandes bancadas não é uma invenção petista. Essa prática vem sendo usada desde o retorno do país à democracia, nos anos 80.

Governo FHC
Nos dois mandatos presidenciais de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o tucano teve uma atuação muito semelhante à de Lula. A diferença é que não se optou apenas por partidos "laranjas". Durante o período fernandista, o próprio PSDB foi um dos principais receptadores de parlamentares sem uma preocupação ideológica.
A comparação é simples. No governo Lula, até agora, os quatro principais partidos governistas receptadores de deputados (PMDB, PL, PTB e PP) conquistaram 56 cadeiras a mais na comparação com o resultado da eleição de 2002. No caso de FHC, as duas siglas que mais absorveram congressistas, PSDB e PFL, ganharam 52 deputados no primeiro mandato do tucano (1995-1998).

PL e PTB
No caso de Lula, as duas siglas que mais encarnaram a operação de troca-troca partidário foram PL e PTB. Ambas elegeram 26 deputados cada uma em 2002.
Em outubro de 2003, o PTB (do agora ex-deputado Roberto Jefferson) chegou a ter 55 cadeiras -um ganho de 111,5% sobre o resultado das urnas. O PL teve seu momento áureo recentemente, em junho, com 53 deputados -ganho de 103,9% sobre 2002.
Durante o primeiro governo de FHC, o PSDB e o PFL também tiveram seus momentos hegemônicos. Os tucanos haviam saídos das urnas em 1994 com 63 deputados. Em outubro de 1997, já estava com cem cadeiras (alta de 58,7%). Os pefelistas elegeram 89 deputados e pularam para 112 em maio de 1998 (salto de 25,9%).


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