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ELEIÇÕES 2006 / CRISE DO DOSSIÊ
Vedoin tem direito a TV e visita diária de sua mulher
Acusado de chefiar máfia tem regalias para quem tem curso superior, apesar de não ter
Mulher de Vedoin, que passa dia com cela aberta, usa fato de ser advogada para visitas, mas está nos autos como empresária
DO ENVIADO ESPECIAL A CUIABÁ
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ
Se comparada à da maioria
dos presos brasileiros, é mansa
a vida levada por Luiz Antonio
Vedoin no anexo da penitenciária Pascoal Ramos, que funciona nos fundos da Gerência Estadual de Polícia de Cuiabá.
Ele passa os dias à vontade,
com celas abertas, caminha numa pequena área verde que há
dentro do presídio, assiste à televisão e recebe a visita diária
de sua mulher.
Apontado como líder da máfia dos sanguessugas, e que estava solto por colaborar com o
programa de delação premiada,
Vedoin foi detido de novo na
sexta-feira dia 15, por tentar
vender para petistas um dossiê
contra tucanos.
Somente na hora de dormir é
que as grades são fechadas no
pequeno complexo localizado
no bairro Centro América.
O empresário divide o espaço
com outros três detentos. A cadeia tem apenas oito celas, cada
uma com quatro camas, todas
com televisão. Nos fundos da
cela há um buraco no chão, para ser usado como banheiro,
mas a área de convivência da
penitenciária oferece instalações melhores, com chuveiros e
vasos sanitários, à disposição
dos presos.
O pátio em torno do qual estão dispostas as celas tem, além
do banheiro coletivo, bancos e
mesas onde são feitas as refeições. Diariamente, os presos fazem caminhadas em torno da
horta comunitária.
"Tem muito hotel que eu conheço pior do que isso aqui",
comparou o advogado de um
dos detentos do local.
Visita da mulher
Vedoin passa boa parte do
tempo na companhia da mulher, Helen Paula Duarte Cirino Vedoin. Ela se vale da prerrogativa de ser advogada para
visitá-lo diariamente -as visitas de familiares só são permitidas às quartas-feiras e aos domingos. Na tarde da última sexta-feira, Helen Paula passou
três horas com ele. Ao sair, não
quis falar com a Folha.
Embora viva em Cuiabá, a
mulher de Vedoin é registrada
na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Tocantins e
usa a carteirinha para entrar
no complexo. Helen Paula, que
foi presa e responde em liberdade a processo envolvendo os
sanguessugas, é identificada
nos autos não como advogada,
mas como empresária.
De acordo com o superintendente-adjunto de Gestão Penitenciária do governo de Mato
Grosso, José Carlos de Freitas,
a miniprisão onde está Vedoin
abriga "presos com faculdade,
com curso superior, ou detidos
em operações de órgãos como
Ibama e Polícia Federal". Luiz
Vedoin não tem curso superior.
Freitas vai adiante na justificativa: "Colocar uma pessoa
como ele, que tem um poder
aquisitivo maior, numa prisão
comum, vai ser uma dor de cabeça constante para nós. Porque ele vai ser extorquido".
Na prisão, Vedoin é um sujeito reservado. Pouco conversa
com outros "reeducandos"
-termo com que os funcionários se referem aos presos.
Além de receber visita da mulher e dos advogados (já está no
terceiro), gosta de assistir à televisão e de ficar deitado, sempre de short e camiseta.
Segundo um outro advogado
de um dos detentos, há poucos
dias Luiz Vedoin teve uma crise de choro, e um médico que
também está preso no complexo teve de ajudá-lo, receitando-lhe calmantes.
(FÁBIO VICTOR E HUDSON CORRÊA)
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