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JANIO DE FREITAS
O acusador
Lula não faz esforço algum para respeitar o cargo, soltando-se em um palavrório que vagueia entre o grotesco e o desprezível
ALÉM DE NÃO merecer maior
crédito, porque há muito o
próprio Lula já esclareceu
que seu estoque de credibilidade era
fabricado com bravatas e outras enganações, sua entrevista a "The New
York Times" é um insulto ao sistema investigatório e judicial brasileiro, portanto ao país mesmo. Bem
que mereceria um processo por falta
da compostura obrigatória em um
presidente. Ou, para estar na moda,
digamos que da falta de decoro presidencial.
É no trecho em que defende José
Dirceu, mas não pela defesa em si.
Lula: "Não acredito que haja qualquer prova de que Dirceu cometeu o
crime de que é acusado".
Ou seja, o Ministério Público no
Brasil é incompetente e inconfiável.
O procurador-geral da República é
incapaz e leviano, porque denunciou sem justificaiva o ex-ministro
ao Supremo Tribunal Federal. E este tribunal supremo é composto de
ministros irresponsáveis, porque
decidiram, com base nos elementos
insuficientes da denúncia, pelo processo e julgamento de José Dirceu.
O procurador-geral da República
não foi apenas nomeado por Lula,
foi por ele renomeado para segundo
mandato. Seis dos dez ministros do
Supremo (maioria absoluta) foram
nomeados por Lula. Logo, as palavras de Lula ao NYT não falam só
dos nomeados, também ou sobretudo definem as nomeações e seu autor. Mas nem como confissão pessoal são admissíveis em um presidente, e tanto mais se emitidas para
conceituações estrangeiras sobre o
seu país.
José Sarney padeceu muito por
suas referências à "liturgia do cargo"
presidencial. Mas a verdade é que se
esforçou muito para cumprir tal dever a rigor. As expectativas eram
tantas e justificadas, para o que deveria seguir-se à ditadura militar,
que até uma expressão adequada excita os ímpetos da insatisfação. Com
Lula tem sido o oposto: não faz esforço algum para respeitar o seu cargo, soltando-se em um palavrório
infinito que costuma vaguear entre
o grotesco e o desprezível.
O Lula que deprecia o sistema investigatório e judicial brasileiro é o
Lula cujo ministro da Justiça é esperado hoje da Europa, onde foi exibir
a autoridades do Mônaco várias partes do processo condenatório de Salvatore Cacciola. Para quê? Como
comprovações da competência e da
seriedade do sistema investigatório
e judicial brasileiro que condenou o
banqueiro fugitivo. E investigou e
vai julgar 40 associados a Lula.
A ficção
Ou são feitas alterações nos discursos que Lula levou para os Estados Unidos, ou terão uma função
didática para estrangeiros.
Os textos incluíram, por ordem
de Lula, extensos trechos para
"mostrar que o Brasil tem muito a
ensinar ao mundo todo em matéria
de proteção ambiental contra o
desmatamento e a emissão de
CO2", e tome de números. O contraste com os dados que já chegam
por lá, comprovando que o desmatamento e as queimadas voltaram a
crescer ferozmente na Amazônia,
levará à constatação de uma face
autêntica de Lula.
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