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Governo libera mais para quem apóia CPMF
Líder do governo, José Múcio (PTB-PE) nega relação entre liberações de emendas de deputados e votação da contribuição
Entre os 20 parlamentares que tiveram o maior atendimento das emendas, só dois, ambos do DEM-BA, votaram contra o imposto
RANIER BRAGON
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os 338 deputados federais
que votaram a favor da prorrogação da cobrança da CPMF até
2011, na última quarta-feira, tiveram suas emendas ao Orçamento atendidas pelo governo
federal em valores que, na média, superaram em 52% o que
foi destinado aos 117 deputados
que foram contra.
Desde agosto, quando a
emenda da CPMF começou a
tramitar para valer na Câmara,
até a última quarta-feira, os
favoráveis à prorrogação da
CPMF (o "imposto" do cheque)
tiveram atendimento médio
a suas emendas no valor de
R$ 221 mil. Aos contrários à
medida, destinou-se, em média, R$ 145 mil.
No topo da lista dos mais
agraciados estão dois irmãos do
presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), os deputados federais Olavo Calheiros (PMDB-AL) -o líder, com
R$ 3,3 milhões de verbas- e
Renildo Calheiros (PC do B-PE) -o terceiro, com R$ 2 milhões. Renildo e Olavo foram
procurados ontem pela Folha,
mas não foram encontrados.
Entre os 20 que tiveram o
maior atendimento de suas
emendas, só dois votaram contra a CPMF. Ambos são do
DEM da Bahia, Estado onde o
governo está fazendo um arrastão para atrair o espólio político do senador Antonio Carlos
Magalhães (DEM-BA), morto
em julho.
No Estado, já foi cooptado o
senador César Borges (que vai
para o PR), enquanto o deputado Claudio Cajado está a um
passo do PP.
Os dados são fruto de cruzamento feito pela Folha com
base em dados coletados no
Siafi (sistema de acompanhamentos dos gastos federais) pela assessoria de Orçamento da
liderança do DEM na Câmara.
Os valores totalizam a movimentação de 1º de agosto a 19
de setembro relativa a empenhos (compromisso do governo de liberar a verba), valores
efetivamente pagos e restos a
pagar (compromissos firmados
em anos anteriores) de 2006 liberados agora.
O direcionamento de verbas
para as emendas dos parlamentares ao Orçamento é um
antigo mecanismo usado pelo
governo -não só o atual- para
construir maiorias no Legislativo. Do outro lado, parlamentares condicionam o voto à liberação.
"O governo Lula continua estimulando a transformação do
Estado brasileiro em um balcão de negócios. São pelo menos mais 41 votações até o 2º
turno [da CPMF na Câmara];
vai abrir a bolsa muito mais, a
conta vai ser mais salgada", disse o líder da bancada do DEM,
Onyx Lorenzoni (RS).
O deputado José Múcio
(PTB-PE), líder do governo na
Câmara, nega relação entre as
liberações e a votação da
CPMF. "Não tem absolutamente nada a ver. O que aconteceu é que houve um problema burocrático no Ministério
da Fazenda e não saiu nada no
último trimestre. Agora está
saindo, mas está liberando para
todos, para quem apóia o governo e para quem não apóia."
Os dois integrantes do DEM
que compõem a lista dos 20
mais agraciados são Luiz Carreira (DEM-BA), o 12º na lista,
com R$ 1,5 milhão, e Paulo Magalhães (DEM-BA), o 20º, com
R$ 1,2 milhão. Carreira diz que
grande parte da verba refere-se
a restos de anos anteriores para algumas prefeituras. Ele nega que esteja sendo cooptado
pelo governo, mas confirma
que recebeu sondagens para
mudar de lado. Magalhães não
foi localizado pela Folha.
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