São Paulo, quinta, 25 de setembro de 1997.



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RELIGIÃO
Sem-terra queriam agradecer empenho do pontífice pela reforma agrária; arquidioceses alegam falta de tempo
Cardeal veta encontro entre MST e o papa

LUIS HENRIQUE AMARAL
da Reportagem Local


O arcebispo do Rio, d. Eugênio de Araújo Sales, vetou o encontro de representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) com o papa João Paulo 2º na sua visita ao país, que começa dia 2.
Oficialmente, foi informado ao MST que não havia espaço na agenda para o encontro.
A assessoria de imprensa da equipe que organiza a visita do papa ao país confirmou anteontem que não haverá o encontro. O pedido foi feito oficialmente à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) pelo líder do MST João Pedro Stedile, em março.
Em carta ao presidente da entidade, d. Lucas Moreira Neves, Stedile afirmou que casais do MST queriam agradecer "o empenho do papa em favor dos trabalhadores rurais" e "pedir-lhe a benção".
Em fevereiro passado, o presidente FHC se encontrou com o papa em Roma e ouviu um apelo pela reforma agrária "dentro da lei".
D. Lucas apresentou o pedido do MST em encontro com d. Eugênio no final de abril. Na ocasião, o cardeal do Rio afirmou que "dificilmente" ele poderia ser aceito.
O presidente da CNBB enviou carta para o MST relatando a posição de d. Eugênio. Segundo a carta, o cardeal do Rio enumerou três obstáculos para o encontro.
O primeiro seria as "estritas limitações do programa do Santo Padre no Rio de Janeiro". O segundo motivo foi o "caráter não nacional, mas mundial da sua visita, motivo pelo qual questões de âmbito mundial terão prioridade sobre às de cunho nacional".
Além desses dois motivos, haveria o "cuidado de não criar precedentes". O pedido poderia estimular outros grupos a fazer o mesmo.
Ainda segundo a carta enviada por d. Lucas ao MST, todas as decisões sobre a viagem do papa estariam concentradas nas mãos de d. Eugênio "por determinação da Secretaria de Estado do Vaticano".
Segundo Gilmar Mauro, da direção do MST, a entidade não tem como avaliar os motivos do veto. "Espero que tenha sido por problemas de agenda. Se foi um veto político, será constrangedor."
A possibilidade de veto político ao encontro é levantada pelo MST e por setores da CNBB. Isso porque d. Eugênio é um dos expoentes no país do chamado "clero conservador", que é contrário à participação da igreja na política.
Segundo o padre Luiz Bassegio, assessor da Pastoral Social da CNBB e que foi um dos intermediários da tentativa de realizar o encontro, a Arquidiocese do Rio informou que a agenda do papa está "sobrecarregada".
Com a negativa, o MST fez nova proposta, ainda sem resposta: quer que famílias se aproximem do papa para receber uma benção. Ainda não tiveram resposta.

Vandalismo
Outdoores com a imagem do papa foram pichados no Rio. Em um deles, foi jogada tinta vermelha sobre a foto do papa. O outdoor traz ao fundo o Cristo Redentor e a frase "o cidadão do mundo agora é cidadão do Rio de Janeiro".
O governo do Rio considera as pichações atos isolados de vândalos, mas a PF está investigando. O alvo de papelão colocado sobre um outdoor do papa está sendo examinados por peritos.
"Vandalismo é sinal de que a visita do papa incomoda as pessoas que têm consciência pesada. Essas pessoas necessitam mais a visita do papa", disse d. Eugênio. Ele afirmou que não crê na possibilidade num atentado ao papa.


Colaborou a Sucursal do Rio


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