São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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NO AR

Fim de festa

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

FHC esvazia as gavetas. No registro da Globo, ele "preparou todos os detalhes para a transição". Fez mais, como afirmar aos brasileiros que não vai acontecer nada:
- Como o brasileiro é um povo novo, não vai ficar com medo do que é novo. E nós vamos vencer, vença quem vencer.
Foi seu adeus ao poder, embora ainda se deva esperar muito mais dele, em discursos.
Já Lula não se constrange mais em dizer que assume o poder. No penúltimo dia do horário eleitoral, entre imagens da festa do "PIB cultural" que o apóia, discursou:
- Em primeiro lugar, quero garantir que meu governo será de paz, respeito e diálogo, como nunca se viu neste país.
E por aí foi, recordando e sobretudo relativizando as promessas de campanha.
Isolado até dos encontros que os tucanos fazem para planejar o futuro, José Serra evitou pelo segundo dia usar o programa para questionar Lula.
Falou muito, quase o tempo todo, de suas ações no Ministério da Saúde, o grande orgulho que lhe restou.
Um de seus marqueteiros apareceu nos telejornais afirmando que "não é fácil enfrentar um mito como Lula".
 
Antes de acabar a festa de vez, hoje tem debate na Globo.
Mais do que o desempenho de um e outro, é a oportunidade de ver se funciona aqui mais um produto importado da teledemocracia americana.
É a "town hall meeting", o debate de "arena" que os próprios americanos só foram conhecer, na TV, há dez anos. Foi quando Bill Clinton sugeriu que o formato, já utilizado nos Estados, fosse testado em nível federal -e Bush pai concordou.
Clinton deu show e, pelo que dizem analistas americanos, venceu aí -em parte- a eleição. Bush filho, dois anos atrás, não repetiu o erro.
A diferença do debate é que ele remete à democracia direta das pequenas localidades, em que os cidadãos questionam os candidatos diretamente.
É preciso ter domínio de assembléia para sair-se bem como Clinton, o que tanto Lula como Serra têm de sobra. Mas tudo pode acontecer, já que são cidadãos, não jornalistas ou candidatos, que perguntam.
Vale recordar a "town hall meeting" transmitida pela CNN em 98, para vender ao mundo outra invasão do Iraque, quando os secretários de Estado e de Defesa se viram enfrentados por um jovem, aos brados:
- Isto não é fórum aberto! É um evento de mídia encenado pela CNN! Nós, o povo da América, não vamos mandar mensagens com o sangue das mulheres e crianças iraquianas!
Mas não se deve esperar tal descontrole hoje. Não na Globo.



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