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NO AR
Fim de festa
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
FHC esvazia as gavetas. No
registro da Globo, ele "preparou todos os detalhes para a
transição". Fez mais, como afirmar aos brasileiros que não vai
acontecer nada:
- Como o brasileiro é um povo novo, não vai ficar com medo
do que é novo. E nós vamos vencer, vença quem vencer.
Foi seu adeus ao poder, embora ainda se deva esperar muito
mais dele, em discursos.
Já Lula não se constrange
mais em dizer que assume o poder. No penúltimo dia do horário eleitoral, entre imagens da
festa do "PIB cultural" que o
apóia, discursou:
- Em primeiro lugar, quero
garantir que meu governo será
de paz, respeito e diálogo, como
nunca se viu neste país.
E por aí foi, recordando e sobretudo relativizando as promessas de campanha.
Isolado até dos encontros que
os tucanos fazem para planejar
o futuro, José Serra evitou pelo
segundo dia usar o programa
para questionar Lula.
Falou muito, quase o tempo
todo, de suas ações no Ministério da Saúde, o grande orgulho
que lhe restou.
Um de seus marqueteiros apareceu nos telejornais afirmando
que "não é fácil enfrentar um
mito como Lula".
Antes de acabar a festa de vez,
hoje tem debate na Globo.
Mais do que o desempenho de
um e outro, é a oportunidade de
ver se funciona aqui mais um
produto importado da teledemocracia americana.
É a "town hall meeting", o debate de "arena" que os próprios
americanos só foram conhecer,
na TV, há dez anos. Foi quando
Bill Clinton sugeriu que o formato, já utilizado nos Estados,
fosse testado em nível federal
-e Bush pai concordou.
Clinton deu show e, pelo que
dizem analistas americanos,
venceu aí -em parte- a eleição. Bush filho, dois anos atrás,
não repetiu o erro.
A diferença do debate é que ele
remete à democracia direta das
pequenas localidades, em que os
cidadãos questionam os candidatos diretamente.
É preciso ter domínio de assembléia para sair-se bem como
Clinton, o que tanto Lula como
Serra têm de sobra. Mas tudo
pode acontecer, já que são cidadãos, não jornalistas ou candidatos, que perguntam.
Vale recordar a "town hall
meeting" transmitida pela CNN
em 98, para vender ao mundo
outra invasão do Iraque, quando os secretários de Estado e de
Defesa se viram enfrentados por
um jovem, aos brados:
- Isto não é fórum aberto! É
um evento de mídia encenado
pela CNN! Nós, o povo da América, não vamos mandar mensagens com o sangue das mulheres
e crianças iraquianas!
Mas não se deve esperar tal
descontrole hoje. Não na Globo.
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