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JANIO DE FREITAS
O balcão
O ministro Mares Guia precisou ser lembrado de que a decisão de despachar no Senado poderia constranger senadores
TENTE IDENTIFICAR algum país
em que um ministro, em missão dada pelo presidente da
República, comunique que no dia tal
vai se instalar e despachar no Senado, para ouvir as reivindicações dos
senadores recalcitrantes ou oposicionistas e, com cada um, negociar
seu apoio à prorrogação de um imposto falsificado em contribuição.
Se lhe ocorreu um nome para citar,
que por mim não imagino, veja bem
se pode mesmo ser um país, ou é
apenas uma espécie de submundo
metido a país por seu tamanho, ou
por outra característica de igual irrelevância para definir uma nação e
sua dignidade.
O ministro das Relações Institucionais do governo Lula precisou ser
lembrado de que sua anunciada decisão de despachar no Senado poderia, na prática, constranger alguns
senadores e, até, provocar reação de
um ou outro. Lembrança conveniente, senão pelos senadores, por
nós outros -ou nem tanto, como sugere melhor a indiferença dos jornais e TV. Conveniente, então, por
fazer o ministro Mares Guia, sem
passar da terça-feira prevista, instalar o seu balcão de varejo no mercadinho apropriado: o Palácio do Planalto.
Mau passo
O arquivamento sumário da representação contra o senador
Eduardo Azeredo, pela Mesa Diretora do Senado, deu-se por decisão
unânime de sete senadores que viram, ali mesmo e nesta legislatura,
o senador João Capiberibe perder
o mandato a partir da denúncia de
que duas mulheres receberam R$
20, cada uma, para votar nele.
Eduardo Azeredo está apontado
como beneficiário da movimentação, também com fins eleitorais, de
mais de R$ 90 milhões do valerioduto, então em sua estréia.
Os senadores Tião Viana, César
Borges, Papaléo Paes, Álvaro Dias,
Gerson Camata, Efraim Moraes e
Magno Malta consideraram, para
sua decisão unânime, que o fato denunciado, de 1998, é anterior à eleição de Eduardo Azeredo para o Senado. É mesmo. Mas, conquanto a
Mesa possa fazer o arquivamento, a
legitimidade inconteste para fazê-lo, ou não, é do Conselho de Ética.
Tanto mais nesta fase em que o Senado não consegue se livrar de suas
continuadas malandrices no caso
Renan Calheiros.
Assunto sério
Enquanto a Parada Gay excitava
a obsessão festiva de jornais e TV,
há duas semanas em Copacabana,
ali perto, na praia de Botafogo, uma
outra manifestação. A respeito de
assunto sério demais para atrair o
interesse do chamado jornalismo:
os pais pedem mais oportunidade
de estar com os filhos do que em geral lhes permite, com amparo no
Código Civil, a guarda concedida às
mães. Se afetivamente justa para os
pais, a reivindicação -prevista e
atendida até espontaneamente por
muitos juizes- é sobretudo importante para as crianças, em numerosos sentidos.
O Senado aprovou agora a criação da guarda compartilhada de filhos por pais separados, incluídas,
além da possibilidade de convívio
menos restritivo, as responsabilidades educacionais, materiais e de
vida social. O projeto passa a depender da Câmara, mas depende
mais ainda de empurrões daqui de
fora, para que não fique no limbo. E
para que receba, se houver, sugestões que o tornem mais completo.
É assunto de grande importância
educacional e social, para o presente e o futuro.
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