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Comissão aprova Venezuela no Mercosul
Debate foi acirrado na Câmara e durou cinco horas; ingresso do país vizinho teve 15 votos favoráveis e uma abstenção
Grupo de 13 governadores das regiões Nordeste e Norte encaminharam carta à comissão da Casa pedindo a adesão da Venezuela
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após cinco horas de sessão e
de debates acirrados em que o
presidente Hugo Chávez foi
chamado de "ditador", "golpista" e "caudilho", a Comissão de
Relações Exteriores da Câmara
aprovou ontem a adesão da Venezuela ao Mercosul, bloco
econômico formado por Brasil,
Argentina, Paraguai e Uruguai.
Foram 15 votos favoráveis e
uma abstenção. A oposição se
retirou da sessão na hora da votação. Assinado em julho de
2006, o protocolo de adesão
tem que ser aprovado ainda pelo plenário da Câmara e pelo
Senado para entrar em vigor.
A adesão prevê, entre outras
coisas, que a maioria dos produtos brasileiros entrarão no
mercado venezuelano sem tarifas ou restrições a partir de
2012 (o país teve superávit comercial de US$ 2,9 bilhões com
a Venezuela em 2006). Os da
Venezuela entrarão no Brasil
sem tarifas a partir de 2010.
A demora de sete meses para
que a comissão da Câmara realizasse a votação havia rendido
críticas de Chávez ao Congresso, que foi acusado de estar submetido a interesses dos EUA.
"Vi imagens de 5.000 estudantes sendo agredidos pela
polícia e por milícias. É isso que
contestamos, o aspecto político
de uma ditadura que pode contaminar o Mercosul", reclamou
o deputado Zenaldo Coutinho
(PSDB-PA), líder da oposição.
Ele se referia a confrontos
ocorridos anteontem em Caracas contra reformas que dão
mais poder a Chávez.
"Não vamos aceitar que em
troca de alguns tostões abramos mão dos nossos princípios", defendeu logo em seguida Onyx Lorenzoni (RS), líder
da bancada do DEM. Ele foi seguido pelo líder do PSDB, Antonio Carlos Pannunzio (SP): "A
Venezuela vive um momento
de grande instabilidade".
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) defendeu que a votação só ocorresse após o referendo de dezembro que decidirá sobre a reforma constitucional chavista. "Temos que avaliar com calma se o fechamento
da [rede de TV oposicionista]
RCTV foi ou não democrático."
O deputado do PV discutiu
com Ivan Valente (PSOL-SP),
para quem é no Brasil que se vive "uma ditadura dos meios de
comunicação e do poder econômico". "E como nós [se referindo ao governo Lula] fomos eleitos em 2002 se há essa ditadura
toda?", rebateu Gabeira.
A defesa do ingresso da Venezuela e do governo Chávez foi
feita por deputados do PT, do
PSOL e do PC do B. "Chávez representa hoje, democraticamente, a expressão da maioria
do povo venezuelano", disse
Nilson Mourão (PT-AC). O deputado Doutor Rosinha (PT-PR), relator do texto, rebateu as
críticas sobre o grau de democracia na Venezuela dizendo
ser "preciso reconhecer que a
última vez que houve ruptura
da ordem democrática na Venezuela foi quando a oposição
deu um golpe contra o governo
Chávez, em 2002". Na ocasião,
Chávez retomou o poder dois
dias após ser deposto.
"As oposições a ele é que são
useiras e vezeiras em recorrer
às armas e ao golpe", disse
Maurício Rands (PT-PE).
Rands fez questão de elogiar
o acordo entre a Petrobras e a
PDVSA, estatal venezuelana do
petróleo, para a construção de
refinaria em Pernambuco. "A
refinaria Abreu e Lima está
sendo um marco para o desenvolvimento do Nordeste."
Um grupo de 13 governadores do Norte e do Nordeste, que
defendiam o ingresso da Venezuela no bloco, enviou uma carta à comissão. O argumento é o
de que essas regiões serão beneficiadas economicamente
pelo Mercosul com a entrada
da Venezuela no bloco, devido a
questões geográficas.
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