São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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outro lado

Nomeados negam ter trocado favores; Sarney não comenta

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

Mencionados nos grampos da Polícia Federal, os dois engenheiros ligados à família Sarney que foram nomeados para a Eletrobrás negam ter trocado "favores" ou "negócios".
O presidente da estatal, José Antonio Muniz, afirmou que José Sarney sempre teve "forte influência" nas nomeações na empresa e reconheceu que foi escolhido para o cargo com o aval do presidente do Senado. Disse que é amigo de Fernando Sarney, mas descartou que o empresário tenha "feito negócios" ou comandado esquema de patrocínio na Eletrobrás.
"O ministro Edison Lobão [Minas e Energia] tem que ter conversado com o presidente Sarney porque esse caso da Eletrobrás sempre teve a forte influência do presidente Sarney, dentro da questão partidária. Eu também vim com aval do presidente Sarney", declarou.
"Fernando é uma pessoa muito afável, muito legal. Eu tenho amizade com ele e o pai. Agora, daí a ele ter influência aqui dentro, não. Tem amizade aqui, tem amizade comigo. Agora, [que tenha] feito negócio aqui, enquanto eu [sou] presidente, não fez", disse.
Segundo Muniz, o engenheiro Flávio Decat também buscou Sarney para tentar o cargo de presidente. "Acho que, quando Flávio tentou falar com o presidente Sarney, é porque foi orientado que precisava ter o aval do presidente Sarney."
Decat, três meses depois, emplacou numa diretoria.
Para Muniz, Lobão preferiu seu nome por razão de poder no governo. "Se o ministro tivesse indicado Flávio [Decat], e é leitura minha, pareceria que a ministra Dilma [Rousseff] teria indicado. Ela já mandava na Petrobras e iria mandar também na Eletrobrás", disse Muniz, referindo-se à suposta preferência de Dilma por Decat.
Procurado, Decat negou que tenha conseguido nomeação para a diretoria na Eletrobrás por intermediação de Sarney, embora conte que tenha recorrido ao senador quando buscava a presidência da estatal.
"Eu estava indo para a iniciativa privada quando o ministro Lobão me convidou para essa função. Foi uma surpresa. Depois da indicação do José Antonio [para a presidência da Eletrobrás], nunca mais falei nem com o presidente Sarney nem com o filho", afirmou Decat.
O engenheiro disse que, quando disputava a presidência da estatal, procurou Fernando "na linha de conhecer o pai dele". Afirmou ainda que esteve duas vezes com o senador, tratando do cargo. "Eu o procurei no sentido de me apresentar, mas não tem nenhum cheiro de negócio", afirmou.
Contatados pela Folha, Sarney e o filho Fernando não quiseram comentar o caso das nomeações nem as suspeitas de tráfico de influência na estatal.
"Tenho me posicionado no sentido de não comentar nenhum tipo de matéria que tem como base inquérito sigiloso", respondeu o filho de Sarney.
A governadora Roseana Sarney, então senadora, negou ingerência na área de patrocínio da Eletrobrás e ter atuado em indicações da estatal.
Anelise Pacheco, assessora do presidente da Eletrobrás na área de patrocínios, disse que "não tem poder de decisão" e que atua mais como uma "menina de recado" de Fernando quando ele lhe procura para saber de processos de patrocínio. (HUDSON CORRÊA, ANDREZA MATAIS E ANDRÉA MICHAEL)


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