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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FUTURO DE PALOCCI
Palocci quer Dilma fora de junta que decide liberação de verbas; ambos mal têm se falado
Lula pede, mas "guerra" entre ministros não cessa
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num sinal de continuidade da
guerra interna entre Antonio Palocci Filho e Dilma Rousseff, o ministro da Fazenda quer a extinção
da Junta Orçamentária ou a exclusão da ministra da Casa Civil
dessa instância de decisão sobre
liberação de verbas.
Além de um esforço fiscal maior
neste ano, Palocci deseja que o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva envie em 2006 um projeto ao
Congresso de ajuste fiscal de longo prazo. O bombardeio público
de Dilma a essa proposta deu início à crise que quase levou Palocci
a deixar o governo.
Na segunda-feira, o ministro estabeleceu condições para ficar.
Lula prometeu atendê-lo. Já naquele dia, Palocci se recusara a
participar das reuniões da Junta
Orçamentária -duas foram canceladas nesta semana.
Ontem, Palocci faltou novamente a uma reunião preparatória da junta. A instância, presidida
por Lula, reúne ainda os ministros da Casa Civil e do Planejamento (Paulo Bernardo). O ministro da Fazenda tem dito que
não participará de reuniões da
junta com Dilma -ontem, Murilo Portugal, seu "número dois" na
Fazenda, acompanhou a reunião
de Dilma e Bernardo.
Nesse encontro entre Dilma e
Bernardo, ficou acertada a liberação de recursos para emendas
parlamentares, mas o montante
ainda não foi definido.
A junta analisa mensalmente as
receitas e as despesas do governo
para liberar verbas. A cada dois
meses, prepara um decreto do
Executivo que libera recursos. São
comuns reuniões preliminares da
junta sem Lula. Nos bastidores,
Palocci argumenta que a junta
tem atribuição da Fazenda e do
Planejamento. O ministro alega
que não cabe à Casa Civil decidir
sobre liberação de verba.
Reunião importante
Lula se reuniu ontem de manhã
em separado com Bernardo, Dilma e Palocci. Reiterou a ordem de
que cessem os ataques públicos. E
pediu que se preparassem para
uma reunião que pretendia realizar ontem à noite, mas adiou porque Palocci não quis se encontrar
com Dilma. Lula deseja se reunir
com Dilma, Palocci e Bernardo no
início da semana que vem, pois
hoje viajará para o Ceará.
Até lá, Lula tentará convencer
Palocci a voltar a conviver com
Dilma. Lula deseja discutir três temas: execução do Orçamento de
2005, preocupação com a previsão de que o crescimento do PIB
(Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre será abaixo do esperado e o Orçamento de 2006,
ano em que Lula pretende concorrer à reeleição.
Ao discutir a execução orçamentária, o presidente pretende
cumprir a promessa feita a Palocci de elevar o superávit primário
(economia do setor público para
pagar juros da dívida) de 4,25%
do PIB para 4,5%. Isso permitiria
um número, na prática, em torno
de 4,7% do PIB quando o governo
fechar as contas de 2005.
Palocci gostaria que essa elevação fosse oficializada, mas aceita a
possibilidade de que seja só um
acerto de bastidor que fique claro
para Dilma. Quer que Lula diga a
ela que não permitirá que infle os
restos a pagar de 2005 para aproximar o superávit de 4,25%.
A discussão sobre restos a pagar
(verbas do Orçamento de um ano
que ficam para o ano seguinte) será uma guerra. Em tese, toda a
economia excedente a 4,25% poderia ser destinada a esse fim. Palocci, porém, bate o pé nos 4,7%
na prática -estimativa da equipe
econômica que ajudaria a manter
estável a relação entre a dívida pública e o PIB. Hoje, a dívida equivale a 51,4% do PIB.
Palocci defende ainda que Lula
envie ao Congresso proposta de
ajuste fiscal fixando um superávit
primário de 4,25% como meta a
ser perseguida em dez anos.
Dilma também quis sair
Na quinta-feira da semana passada, dia em que Palocci pediu demissão a Lula pela segunda vez
nas últimas duas semanas, Dilma
colocou o cargo à disposição de
Lula, se fosse necessário dispensá-la para encerrar a crise. Ela estava
contrariada com o revide de Palocci no dia anterior em depoimento no Senado, quando ele disse que a colega errava ao atacar o
ajuste fiscal de longo prazo. Reuniões da Câmara de Política Econômica, que reúne a Casa Civil e a
Fazenda, também foram canceladas por falta de clima entre Palocci e Dilma. Os dois mal se falam.
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