São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2006

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Democracia traz obstáculos ao desenvolvimento, diz Lula

Petista lista questão ambiental, TCU e Ministério Público entre as dificuldades

Presidente diz que barreiras são "naturais de um regime democrático" e fala em desobstruir canais para permitir o crescimento


Flávio Florido/Folha Imagem
O presidente Lula observa miniatura de ônibus em museu da Mercedes-Benz, em São Bernardo


ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Num discurso em que disse trabalhar para conseguir desobstruir "os canais de desenvolvimento do país", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou o Ministério Público e as "questões ambientais" na lista dos "obstáculos" ao governo.
Lula falava a um grupo de prefeitos que o acompanhou na visita a Guarulhos (Grande São Paulo), onde inaugurou parte de um hospital. No evento, o presidente explicou as diferenças de fazer oposição e governar. "Vocês, quando ganharam as eleições, imaginavam que era fácil governar a cidade. Quando a gente é oposição está na ponta da língua, mas quando a gente é governo, a gente tem que fazer as coisas e, ao tentar fazer as coisas a gente se depara com uma série de obstáculos que são naturais de um regime democrático", disse.
E passou a citar esses obstáculos: "Você se depara com as leis, você se depara com as questões ambientais, você se depara com a burocracia, você se depara com a oposição, você se depara com o Congresso, você se depara com o Ministério Público, com o Tribunal de Contas da União, e com a burocracia que é pertinente à máquina pública do Brasil."
Logo em seguida, o presidente falou da sua agenda para "destravar" e "desobstruir" os canais que "estão impedindo este país de ter os investimentos". "Estamos fazendo isso há dez dias e eu quero anunciar esse processo de desobstrução do Estado brasileiro, ainda nesse primeiro mandato, porque eu quero começar o segundo mandato agindo de forma mais ousada e mais forte para que a economia brasileira tenha o desenvolvimento que todo mundo sonha", afirmou.
Na terça-feira, em Barra do Bugres (MT), Lula disse não saber como "destravar" a economia. Ontem, no discurso, também não apontou caminhos, só os "obstáculos". "Eu vou me dedicar até o dia 31 de dezembro para destravar o país. Ou seja, tem algo -e não me pergunte o que é ainda, que eu não sei, e não me pergunte a solução, que eu não a tenho, mas vou encontrar- porque o país precisa crescer", disse ele na terça.
Nesse mesmo dia, Lula já havia culpado a legislação ambiental como uma das causas para o entrave do país, o que gerou protesto dos órgãos ligados ao setor.

Milagre
Em referência ao seu maior desafio para o segundo mandato, o presidente Lula deu a dimensão do que considera unir desenvolvimento econômico com políticas sociais. "O milagre de um segundo mandato é combinar, de forma muito mais forte, uma política de desenvolvimento econômico com uma política de desenvolvimento social, combinada a uma política educacional de qualidade para que a gente possa, com desenvolvimento, gerar renda, gerar riqueza e gerar a distribuição dessa renda."
Lula também voltou a falar, como fez repetidamente nos primeiros anos de governo, da falta de auto-estima da população. "Nós somos incapazes de ver uma virtude do país, mas somos capazes de ver todos os defeitos que tem no Brasil, e este país é um país grande", afirmou ele, que começou a citar pontos positivos do país.
"As pessoas preferem ver os defeitos, parece que é uma coisa de auto-estima, que nós não aprendemos a conquistar, porque também, muitas vezes, a gente não recebe as informações corretas", afirmou.
O presidente também disse que vai intensificar as políticas sociais porque o "Brasil já fez todos os sacrifícios". "O povo brasileiro já pagou todos os pecados que cometeu. Eu me lembro do golpe militar, quando o presidente Castello Branco convocou o povo para dar o ouro para o bem do Brasil", citou, antes de completar: "o povo brasileiro precisa começar a colher um pouco de benefício do Estado brasileiro. É por isso que a política social será mais forte", disse.

Hospital
O presidente esteve ontem em Guarulhos para inaugurar a primeira das três etapas de um hospital construído em parceira com a prefeitura e que já funciona há três meses.
Para conclusão da obra, o presidente afirmou precisar ainda de R$ 7,5 milhões, que serão liberados após a contrapartida do município. Ele prometeu voltar à cidade para inaugurar o restante.
O discurso ocorreu no pátio da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) de Guarulhos, também em construção. A cidade é administrada pelo reeleito Elói Pietá, do PT.


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