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2010 leva PT e PSDB a jogo de "gato e rato"
Os dois partidos já se definem como pólos da sucessão presidencial, mesmo que nomes dos candidatos sejam incertos
Para tucanos, o nome que Lula apoiar será viável; petistas acham que Aécio seria um candidato mais perigoso que José Serra
MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL
Petistas e tucanos, que reestruturam a partir de agora suas
direções partidárias com a escolha de presidentes e novas
comissões executivas nacionais, só têm, até o momento,
uma certeza: ambos terão candidatos próprios em 2010. O
PSDB elegeu na última sexta-feira a direção partidária e o PT
passará pelo mesmo processo
no próximo final de semana. As
duas siglas trabalham com o cenário de disputa polarizada entre essas duas forças políticas,
mesmo com a candidatura de
Ciro Gomes (PSB-CE).
Nenhum dos dois pólos aposta numa candidatura do incógnito e volúvel PMDB, apesar de
verem os nomes do governador
Sérgio Cabral (RJ) e do ministro Nelson Jobim (Defesa) entre as possibilidades, mas não
para cabeça de chapa. Nas palavras de um dirigente do PSDB,
o PMDB acostumou-se a ser
um partido só de federações,
sem pretensões nacionais.
A nova direção do PSDB não
acha improvável atrair parte
dos peemedebistas. Comemorou a presença, no 3º Congresso da sigla, dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e
Mão Santa (PMDB-PI). Vêem,
em ambos, importantes pólos
de apoio no Nordeste, região
onde o PSDB têm desempenhos eleitorais frustrantes.
Essas realidades já impostas
no campo da política a mais de
três anos do pleito presidencial
são fundamentais para as novas
direções das legendas traçarem
suas estratégias eleitorais, ainda que os nomes dos protagonistas permaneçam nebulosos.
No PSDB, os novos dirigentes resumem a disputa entre os
presidenciáveis José Serra (SP)
e Aécio Neves (MG): o primeiro
se articula vorazmente para ter
o controle interno de praticamente todo o partido - exceto
em Minas Gerais - e o segundo
só se viabiliza se fizer uma costura política "por fora", atraindo apoios e alianças fortes para
uma chapa com o PSDB.
As chances do mineiro aumentariam na medida em que
apresente um resultado administrativo inovador no Estado.
Ele elegeu duas áreas de destaque no segundo mandato: educação e segurança pública.
A fuga de Aécio Neves para
uma outra legenda não é, na
avaliação atual da cúpula tucana, uma realidade a ser considerada. "Possibilidade zero",
"impossível" e "esqueça isso"
são palavras e frases automáticas de dirigentes tucanos quando questionados sobre o tema.
O raciocínio é simples: o
PSDB precisa dele e a recíproca
é verdadeira. Aécio não teria
sustentabilidade no fragmentado PMDB e não há espaço para ele no PSB de Ciro Gomes.
Já para José Serra, o grande
teste será a condução política
da disputa pela prefeitura de
São Paulo. Será obrigado a definir o apoio ao ex-governador
Geraldo Alckmin (PSDB) ou ao
prefeito Gilberto Kassab
(DEM), ou convencer um dos
dois a desistir da disputa.
Predador x herbívoro
Um rival que nutre relações
amistosas com Serra faz uma
analogia da disputa entre os
dois pré-candidatos tucanos
que talvez ajude a entender como as coisas se dão no mundo
da política: "É a disputa entre
um predador e um herbívoro".
Com Serra ou Aécio, os tucanos se fiam em outra certeza:
ainda que Luiz Inácio Lula da
Silva esteja fora da disputa eleitoral pela primeira vez desde
1989 e esse fato torne o quadro
bastante imprevisível, o candidato que o petista apoiar passa
a ser viável. Na definição dos dirigentes tucanos, o candidato
forte do PT é o candidato que
Lula apoiar, "ainda que seja um
poste".
Dilma e Patrus
Debates da nova direção tucana revelam um temor ainda
discreto com as candidaturas
dos ministros Patrus Ananias
(Desenvolvimento Social) e
Dilma Rousseff (Casa Civil).
Em debates recentes, a cúpula
tucana deu como certo que Dilma é a favorita de Lula e é o nome no qual ele aposta.
Para o PT, Dilma não é um
nome identificado com a "personalidade petista", mas é articulada, politicamente capaz e
bastante disponível às demandas partidárias.
Mas o discretíssimo Patrus é
quem mais preocupa parte do
PSDB. Os petistas associam a
imagem do mineiro à de um
"santo não canonizado". Ou seja, é um espécime raro na política contra o qual, dizem, não se
acha nenhum "rabo preso".
"Pegue os sete pecados capitais. Todos. Patrus nunca cometeu nenhum. Nem o da gula", brinca um parlamentar petista que pede o anonimato.
O homem que o PT considera
não ter pecados apresentaria
outras duas qualidades, na visão tucana: é o ministro que gerencia o Bolsa Família, ponto
forte do governo Lula e, além
disso, teria chances de boa votação em Minas Gerais - um
território que vira campo minado para José Serra caso ele
saia candidato sem o apoio explícito e engajado de Aécio.
Nas projeções petistas, a viabilidade maior é mesmo a candidatura de Serra. Porém, arrepiam só de pensar numa mudança de cenário com Aécio
Neves na cabeça da chapa tucana. Acham que, ao contrário de
Serra, ele tem forte carisma e
teria uma penetração muito
forte no Nordeste.
Isso sem contar o absoluto
controle eleitoral de Aécio sobre o segundo maior colégio
eleitoral do país, a adesão maciça de prefeitos, com uma imprensa simpática à sua gestão
no Estado. Em contrapartida, o
mineiro poderia ter dificuldades de voto em São Paulo se
também não contasse com José
Serra como cabo eleitoral.
E Ciro Gomes? Para os aliados do ex-ministro, enquanto
PSDB e PT minimizam sua
candidatura, ele se viabiliza. E
pode - "por que não?" - compor até com o PMDB.
Mas a julgar pelos primeiros
passos da sucessão presidencial
de 2010 nos gabinetes de Brasília, PT e PSDB farão de tudo para polarizar, de novo, a próxima
eleição.
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