São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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2010 leva PT e PSDB a jogo de "gato e rato"

Os dois partidos já se definem como pólos da sucessão presidencial, mesmo que nomes dos candidatos sejam incertos

Para tucanos, o nome que Lula apoiar será viável; petistas acham que Aécio seria um candidato mais perigoso que José Serra

MALU DELGADO
EDITORA-ASSISTENTE DE BRASIL

Petistas e tucanos, que reestruturam a partir de agora suas direções partidárias com a escolha de presidentes e novas comissões executivas nacionais, só têm, até o momento, uma certeza: ambos terão candidatos próprios em 2010. O PSDB elegeu na última sexta-feira a direção partidária e o PT passará pelo mesmo processo no próximo final de semana. As duas siglas trabalham com o cenário de disputa polarizada entre essas duas forças políticas, mesmo com a candidatura de Ciro Gomes (PSB-CE).
Nenhum dos dois pólos aposta numa candidatura do incógnito e volúvel PMDB, apesar de verem os nomes do governador Sérgio Cabral (RJ) e do ministro Nelson Jobim (Defesa) entre as possibilidades, mas não para cabeça de chapa. Nas palavras de um dirigente do PSDB, o PMDB acostumou-se a ser um partido só de federações, sem pretensões nacionais.
A nova direção do PSDB não acha improvável atrair parte dos peemedebistas. Comemorou a presença, no 3º Congresso da sigla, dos senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Mão Santa (PMDB-PI). Vêem, em ambos, importantes pólos de apoio no Nordeste, região onde o PSDB têm desempenhos eleitorais frustrantes.
Essas realidades já impostas no campo da política a mais de três anos do pleito presidencial são fundamentais para as novas direções das legendas traçarem suas estratégias eleitorais, ainda que os nomes dos protagonistas permaneçam nebulosos.
No PSDB, os novos dirigentes resumem a disputa entre os presidenciáveis José Serra (SP) e Aécio Neves (MG): o primeiro se articula vorazmente para ter o controle interno de praticamente todo o partido - exceto em Minas Gerais - e o segundo só se viabiliza se fizer uma costura política "por fora", atraindo apoios e alianças fortes para uma chapa com o PSDB.
As chances do mineiro aumentariam na medida em que apresente um resultado administrativo inovador no Estado. Ele elegeu duas áreas de destaque no segundo mandato: educação e segurança pública.
A fuga de Aécio Neves para uma outra legenda não é, na avaliação atual da cúpula tucana, uma realidade a ser considerada. "Possibilidade zero", "impossível" e "esqueça isso" são palavras e frases automáticas de dirigentes tucanos quando questionados sobre o tema.
O raciocínio é simples: o PSDB precisa dele e a recíproca é verdadeira. Aécio não teria sustentabilidade no fragmentado PMDB e não há espaço para ele no PSB de Ciro Gomes.
Já para José Serra, o grande teste será a condução política da disputa pela prefeitura de São Paulo. Será obrigado a definir o apoio ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) ou ao prefeito Gilberto Kassab (DEM), ou convencer um dos dois a desistir da disputa.

Predador x herbívoro
Um rival que nutre relações amistosas com Serra faz uma analogia da disputa entre os dois pré-candidatos tucanos que talvez ajude a entender como as coisas se dão no mundo da política: "É a disputa entre um predador e um herbívoro".
Com Serra ou Aécio, os tucanos se fiam em outra certeza: ainda que Luiz Inácio Lula da Silva esteja fora da disputa eleitoral pela primeira vez desde 1989 e esse fato torne o quadro bastante imprevisível, o candidato que o petista apoiar passa a ser viável. Na definição dos dirigentes tucanos, o candidato forte do PT é o candidato que Lula apoiar, "ainda que seja um poste".

Dilma e Patrus
Debates da nova direção tucana revelam um temor ainda discreto com as candidaturas dos ministros Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Em debates recentes, a cúpula tucana deu como certo que Dilma é a favorita de Lula e é o nome no qual ele aposta.
Para o PT, Dilma não é um nome identificado com a "personalidade petista", mas é articulada, politicamente capaz e bastante disponível às demandas partidárias.
Mas o discretíssimo Patrus é quem mais preocupa parte do PSDB. Os petistas associam a imagem do mineiro à de um "santo não canonizado". Ou seja, é um espécime raro na política contra o qual, dizem, não se acha nenhum "rabo preso".
"Pegue os sete pecados capitais. Todos. Patrus nunca cometeu nenhum. Nem o da gula", brinca um parlamentar petista que pede o anonimato.
O homem que o PT considera não ter pecados apresentaria outras duas qualidades, na visão tucana: é o ministro que gerencia o Bolsa Família, ponto forte do governo Lula e, além disso, teria chances de boa votação em Minas Gerais - um território que vira campo minado para José Serra caso ele saia candidato sem o apoio explícito e engajado de Aécio.
Nas projeções petistas, a viabilidade maior é mesmo a candidatura de Serra. Porém, arrepiam só de pensar numa mudança de cenário com Aécio Neves na cabeça da chapa tucana. Acham que, ao contrário de Serra, ele tem forte carisma e teria uma penetração muito forte no Nordeste.
Isso sem contar o absoluto controle eleitoral de Aécio sobre o segundo maior colégio eleitoral do país, a adesão maciça de prefeitos, com uma imprensa simpática à sua gestão no Estado. Em contrapartida, o mineiro poderia ter dificuldades de voto em São Paulo se também não contasse com José Serra como cabo eleitoral.
E Ciro Gomes? Para os aliados do ex-ministro, enquanto PSDB e PT minimizam sua candidatura, ele se viabiliza. E pode - "por que não?" - compor até com o PMDB.
Mas a julgar pelos primeiros passos da sucessão presidencial de 2010 nos gabinetes de Brasília, PT e PSDB farão de tudo para polarizar, de novo, a próxima eleição.


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