|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ALIMENTAÇÃO
Produto abocanha 7,2% de todo o dinheiro gasto com comida no país, com média de R$ 11,96 por mês
Pão lidera consumo na mesa do brasileiro
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
Nem o frango, muito menos o
iogurte: na hora de comer, o que
mais pesa no bolso do brasileiro
ainda é a mistura de 50 gramas de
farinha, água, sal e fermento.
Seu nome varia -pão francês
em São Paulo, pão de trigo em
Santa Catarina-, mas em qualquer lugar do Brasil ele está entre
as principais despesas alimentares.
O pãozinho consome nada menos do que 7,2% de todo o dinheiro gasto pelas famílias brasileiras
com alimentação em casa. Todo
mês, uma média de R$ 11,96 sai da
carteira do chefe da família para o
caixa da padaria.
Multiplicando-se esse valor pelo
número de famílias das principais
cidades brasileiras, descobre-se
que o pão francês é responsável
pelo maior mercado alimentar do
país: R$ 1,8 bilhão por ano.
Apesar de ser um dos produtos
mais baratos, sua venda total é R$
100 milhões maior do que a do segundo mercado alimentar do país,
o de carne bovina de primeira.
O pão de sal pode não ser um herói publicitário do Real, como o
frango e o iogurte, mas nenhum
outro produto é tão caro ao brasileiro na hora de comer -especialmente se a família for pobre.
Nas casas com renda mensal inferior a 5 salários mínimos (R$
600,00), o pãozinho não só lidera a
lista de compras como a cada R$
10,00 gastos com comida, ele consome R$ 1,00.
Para as famílias com rendimento
superior a 20 salários mínimos (R$
2.400,00) por mês, o pão francês é
apenas o quarto item, levando
5,6% do orçamento alimentar.
Se, por um lado, o peso do pãozinho no bolso do brasileiro diminui
proporcionalmente ao tamanho
da renda, por outro, ele vem aumentando ao longo do tempo.
Desde 1987, a fatia do pão francês
no orçamento das famílias brasileiras cresceu 30%.
O fermento, no caso, não foi o
aumento do consumo, mas o preço. "Nesse meio tempo o subsídio
ao trigo caiu, e o pão francês ficou
mais caro", explica Edilson Nascimento da Silva, coordenador da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE.
Corrigidos pelo valor do dólar,
os gastos das famílias com o pão de
sal dispararam nos últimos dez
anos. O aumento foi de nada menos do que 70%: de US$ 6,97 para
US$ 11,86 por mês.
Ao mesmo tempo, a POF mostra
que o consumo do pão caiu entre
1987 e 1996. De 19,9 kg, cada brasileiro passou a comer 17,4 kg de pão
por ano. Trocando em gramas: um
pãozinho por dia.
Mesmo assim, ele continua sendo o segundo produto mais pesado no prato das famílias do país. Só
fica atrás do arroz, com um consumo anual de 25 kg per capita.
Anabolizado pela estabilização
da moeda, o frango segue firme em
terceiro lugar no ranking da balança. Em 1996, cada brasileiro comeu, em média, 16,8 kg da ave, ou
cerca de 17% mais do que em 1987.
Também em ascensão, o consumo de carne de boi cresceu nesses
dez anos. A de primeira, como o
filé e a alcatra, passou de 9,8 kg por
pessoa ao ano para 10,4 kg.
Recém-divulgada, a POF ainda
não foi analisada por nutricionistas. Não há estudos científicos que
comprovem que a dieta do brasileiro melhorou entre 1987 e 1996,
mas há indicadores de que o consumo de proteínas cresceu.
Além disso, a pesquisa mostra
que o brasileiro diversificou seu
cardápio. Uma das explicações para essa mudança do mercado que
permitiu ao brasileiro aumentar o
consumo de proteína animal é que
o preço desses produtos caiu.
Em dólar, as vendas de frango
cresceram 20%. Ou seja, um aumento equivalente ao do consumo
(17%), mas inferior ao registrado
pelo mercado global de alimentação em casa. Em média, o valor das
vendas de alimentos subiu 30%.
Esses dados reforçam a percepção dos produtores: o consumo
aumentou proporcionalmente
mais entre as famílias pobres e de
classe média.
"Quando tem aumento de poder aquisitivo, a família de renda
alta começa a comer mais frutas e
diversificar as proteínas animais,
consumindo peixes e carne de caça", diz o presidente do Fundepec
(Fundo de Desenvolvimento da
Pecuária do Estado de São Paulo),
Pedro de Camargo Neto.
Segundo ele, a carne de boi movimenta a maior cadeia alimentar
do país em termos de renda. "A
carne bovina é responsável por 8%
a 10% das vendas dos supermercados", exemplifica.
Camargo Neto acredita que o
mercado vai continuar crescendo.
"A perspectiva é boa porque a carne tem uma elasticidade fantástica:
não importa quantos bifes você
ponha na mesa, todos acabam sendo comidos", brinca.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|