São Paulo, quinta, 25 de dezembro de 1997.




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ALIMENTAÇÃO
Produto abocanha 7,2% de todo o dinheiro gasto com comida no país, com média de R$ 11,96 por mês
Pão lidera consumo na mesa do brasileiro


JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local

Nem o frango, muito menos o iogurte: na hora de comer, o que mais pesa no bolso do brasileiro ainda é a mistura de 50 gramas de farinha, água, sal e fermento.
Seu nome varia -pão francês em São Paulo, pão de trigo em Santa Catarina-, mas em qualquer lugar do Brasil ele está entre as principais despesas alimentares.
O pãozinho consome nada menos do que 7,2% de todo o dinheiro gasto pelas famílias brasileiras com alimentação em casa. Todo mês, uma média de R$ 11,96 sai da carteira do chefe da família para o caixa da padaria.
Multiplicando-se esse valor pelo número de famílias das principais cidades brasileiras, descobre-se que o pão francês é responsável pelo maior mercado alimentar do país: R$ 1,8 bilhão por ano.
Apesar de ser um dos produtos mais baratos, sua venda total é R$ 100 milhões maior do que a do segundo mercado alimentar do país, o de carne bovina de primeira.
O pão de sal pode não ser um herói publicitário do Real, como o frango e o iogurte, mas nenhum outro produto é tão caro ao brasileiro na hora de comer -especialmente se a família for pobre.
Nas casas com renda mensal inferior a 5 salários mínimos (R$ 600,00), o pãozinho não só lidera a lista de compras como a cada R$ 10,00 gastos com comida, ele consome R$ 1,00.
Para as famílias com rendimento superior a 20 salários mínimos (R$ 2.400,00) por mês, o pão francês é apenas o quarto item, levando 5,6% do orçamento alimentar.
Se, por um lado, o peso do pãozinho no bolso do brasileiro diminui proporcionalmente ao tamanho da renda, por outro, ele vem aumentando ao longo do tempo.
Desde 1987, a fatia do pão francês no orçamento das famílias brasileiras cresceu 30%.
O fermento, no caso, não foi o aumento do consumo, mas o preço. "Nesse meio tempo o subsídio ao trigo caiu, e o pão francês ficou mais caro", explica Edilson Nascimento da Silva, coordenador da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE.
Corrigidos pelo valor do dólar, os gastos das famílias com o pão de sal dispararam nos últimos dez anos. O aumento foi de nada menos do que 70%: de US$ 6,97 para US$ 11,86 por mês.
Ao mesmo tempo, a POF mostra que o consumo do pão caiu entre 1987 e 1996. De 19,9 kg, cada brasileiro passou a comer 17,4 kg de pão por ano. Trocando em gramas: um pãozinho por dia.
Mesmo assim, ele continua sendo o segundo produto mais pesado no prato das famílias do país. Só fica atrás do arroz, com um consumo anual de 25 kg per capita.
Anabolizado pela estabilização da moeda, o frango segue firme em terceiro lugar no ranking da balança. Em 1996, cada brasileiro comeu, em média, 16,8 kg da ave, ou cerca de 17% mais do que em 1987.
Também em ascensão, o consumo de carne de boi cresceu nesses dez anos. A de primeira, como o filé e a alcatra, passou de 9,8 kg por pessoa ao ano para 10,4 kg.
Recém-divulgada, a POF ainda não foi analisada por nutricionistas. Não há estudos científicos que comprovem que a dieta do brasileiro melhorou entre 1987 e 1996, mas há indicadores de que o consumo de proteínas cresceu.
Além disso, a pesquisa mostra que o brasileiro diversificou seu cardápio. Uma das explicações para essa mudança do mercado que permitiu ao brasileiro aumentar o consumo de proteína animal é que o preço desses produtos caiu.
Em dólar, as vendas de frango cresceram 20%. Ou seja, um aumento equivalente ao do consumo (17%), mas inferior ao registrado pelo mercado global de alimentação em casa. Em média, o valor das vendas de alimentos subiu 30%.
Esses dados reforçam a percepção dos produtores: o consumo aumentou proporcionalmente mais entre as famílias pobres e de classe média.
"Quando tem aumento de poder aquisitivo, a família de renda alta começa a comer mais frutas e diversificar as proteínas animais, consumindo peixes e carne de caça", diz o presidente do Fundepec (Fundo de Desenvolvimento da Pecuária do Estado de São Paulo), Pedro de Camargo Neto.
Segundo ele, a carne de boi movimenta a maior cadeia alimentar do país em termos de renda. "A carne bovina é responsável por 8% a 10% das vendas dos supermercados", exemplifica.
Camargo Neto acredita que o mercado vai continuar crescendo. "A perspectiva é boa porque a carne tem uma elasticidade fantástica: não importa quantos bifes você ponha na mesa, todos acabam sendo comidos", brinca.



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