São Paulo, quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

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Cuba se iguala a Haiti como destino de ajuda brasileira

Doações em alimentos a países de América Latina, África e Ásia totalizam R$ 70 mi

Entre os sul-americanos, Bolívia e Paraguai estão entre os que mais recebem apoio humanitário do Brasil em caráter emergencial


CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Lula tem destinado a maior parte da assistência humanitária internacional à América Latina, onde Cuba e Haiti surgem como principal destino das doações de alimentos. Segundo levantamento da Folha na Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), no Ministério da Saúde e no Itamaraty, a assistência de caráter emergencial a países da região supera 50 mil toneladas.
Só de gêneros alimentícios, o Brasil doou o equivalente a R$ 67,4 milhões. Para comparação, a cifra corresponde ao 1,07 milhão de benefícios do Bolsa Família (R$ 62 -valor básico). Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não informou os valores gastos com medicamentos e vacinas para assistência internacional. O Itamaraty também não disse quanto repassou a embaixadas para aquisição de ajuda local.
Em 2007, o governo criou o Grupo de Trabalho Interministerial de Assistência Humanitária (Giahi), coordenado pelo Itamaraty. Mas o ministério não possui informações detalhadas, nem anteriores a 2006.
A análise dos dados da Conab mostra uma curva crescente nos montantes de ajuda internacional a partir do segundo ano do primeiro mandato de Lula, atingindo nível recorde em 2008. O salto histórico nos patamares de assistência neste ano foi alavancado pela medida provisória 444/08.
O texto, autorizando a doação recorde de 45 mil toneladas de arroz, 2.000 de leite em pó e 500 kg de sementes de hortaliças, foi aprovado pelo Senado às vésperas do recesso e durante a visita do presidente cubano, Raúl Castro. Além de Cuba, com 15.000 toneladas, foram beneficiados Haiti (15.000), Jamaica (5.000) e Honduras (5.000). A última temporada de furacões no Caribe deixou destruição nesses países.
Na ilha dos irmãos Castro, os furacões deixaram 200 mil pessoas desabrigadas e prejuízo de US$ 8,6 bilhões, segundo cifras oficiais. Antes mesmo da aprovação da MP, o governo Lula autorizou a entrega de 1.500 toneladas dos estoques da Conab em Porto Alegre. Os cubanos já haviam recebido em setembro uma remessa de cestas básicas, num total de 14.580 kg.
O superintendente de Programas Institucionais e Sociais de Abastecimento da Conab, João Cláudio Dalla Costa, explicou que a maior parte dos alimentos que compõem os estoques humanitários provém da agricultura familiar. "As ações humanitárias internacionais têm a finalidade de prevenir e mitigar países em situações de emergência", afirma.
Desde que Raúl substituiu Fidel e deu início a um processo gradual de abertura do regime, Cuba entrou na lista de prioridades da política externa brasileira. Nos primeiros três trimestres do ano, o comércio bilateral cresceu 58%, atingindo US$ 483 milhões.

Haiti
O país mais pobre das Américas, que também tem sofrido com a passagem de furacões, era até agora o líder nas remessas brasileiras. Com a última doação do governo, o total em assistência alimentar é quase 15.600 toneladas. Desde 2004, o Brasil comanda a frente militar da missão de paz das Nações Unidas e auxilia na recuperação econômica.
Para o governo, as medidas ajudam na projeção internacional do país. "Temos que fazer mais. A Espanha destina 2 bilhões por ano em cooperação com países pobres. Generosidade aqui é entendida como fraqueza. Mas os que criticam praticaram a subserviência", afirma o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
Entre os principais destinos da ajuda alimentar e médica na América do Sul estão Bolívia e Paraguai. Em fevereiro de 2006, a FAB levou 14.075 kg de alimentos para 13 mil famílias. O apoio humanitário não impediu o presidente boliviano, Evo Morales, de ocupar militarmente a Petrobras três meses depois. Já os paraguaios têm recebido medicamentos e vacinas. Em outubro também houve entrega de alimentos -28.014 kg. Além do apoio, o Brasil financia projetos de infra-estrutura no Paraguai. Mas o presidente Fernando Lugo quer mais, e ameaça não pagar a dívida de R$ 19 bilhões relativa à hidrelétrica de Itaipu.


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