São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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Tarso descarta reclamações públicas

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Educação, Tarso Genro, 56, assume o cargo prometendo, em pelo menos um aspecto, se diferenciar de seu antecessor Cristovam Buarque: não fazer críticas públicas à equipe econômica pela falta de verbas.
Demitido na sexta-feira passada, quando estava em Portugal, Cristovam era um dos ministros mais críticos à falta de verbas.
"Vocês jamais vão me ver reclamando do comportamento da Fazenda em relação a recursos", disse. As críticas do agora ex-ministro irritavam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após Cristovam ter reclamado abertamente da falta de recursos, Lula rebateu dizendo que "ter criatividade e vontade de fazer vale mais do que pessoas que têm dinheiro e não sabem utilizá-lo corretamente".
Numa referência indireta a Cristovam, ex-reitor da Universidade de Brasília, Genro afirmou ainda que não pode haver "corporativismo" nas discussões da reforma universitária. Por outro lado, elogiou a as ações de seu antecessor no combate ao analfabetismo.
Genro passou o final de semana reunido com assessores em Brasília para começar a montar a equipe que levará para o Ministério da Educação.
A seguir, trechos da entrevista concedida ontem à Folha.

 

Folha - Uma das propostas vindas da academia para a reforma universitária é a transferência para as universidades da administração de verbas que hoje são geridas por agências de incentivo à pesquisa. O sr. considera isso uma idéia viável?
Tarso Genro -
É uma idéia respeitável, mas não vou emitir juízo de valor sobre ela porque quero reunir o que já foi proposto e, a partir daí, construir a posição do governo de maneira equilibrada.

Folha - O sr. concorda com a adoção de cotas para negros?
Genro -
Eu acho que a política de cotas é uma boa política de discriminação positiva, mas não soluciona a questão. No Brasil, houve uma fusão estrutural entre a questão da pobreza e a racial. A ampla maioria dos pobres é negra. A solução da questão do ingresso do negro na universidade é a solução dos grandes problemas sociais.

Folha - O ex-ministro Cristovam Buarque disse que, para fazer a reforma do ensino superior, precisava de um apoio mais explícito do presidente Lula. O sr. acredita que terá esse apoio?
Genro -
Eu sei que vou ter apoio do presidente. Nossa visão é de autonomia da universidade, mas autonomia não é desculpa para corporativismo. A reforma tem que ser feita não só a partir do que a universidade pensa de si mesma, mas também do que o Estado pensa da universidade e, fundamentalmente, do que a sociedade pensa da universidade.

Folha - Sob esse ponto de vista, o sr. acha que ter um ministro tão identificado com a academia, como o Cristovam, que já foi reitor da Universidade de Brasília, atrapalharia a reforma?
Genro -
Eu não tenho integração formal com a academia porque eu nunca quis fazer carreira profissional na universidade. Mas eu sou uma pessoa que tem um profundo respeito pela academia.

Folha - O Cristovam Buarque reclamava da falta de verbas para o Ministério da Educação.
Genro -
Da minha parte, isso não vai ocorrer. Claro que eu sempre vou lutar por mais verbas para a educação no Brasil, mas para isso há um regimento político de quem integra o governo. Vocês jamais vão me ver reclamando do comportamento da Fazenda em relação a [liberação de] recursos.



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