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Tarso descarta reclamações públicas
NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Educação, Tarso
Genro, 56, assume o cargo prometendo, em pelo menos um aspecto, se diferenciar de seu antecessor Cristovam Buarque: não
fazer críticas públicas à equipe
econômica pela falta de verbas.
Demitido na sexta-feira passada, quando estava em Portugal,
Cristovam era um dos ministros
mais críticos à falta de verbas.
"Vocês jamais vão me ver reclamando do comportamento da Fazenda em relação a recursos", disse. As críticas do agora ex-ministro irritavam o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Após Cristovam ter reclamado abertamente
da falta de recursos, Lula rebateu
dizendo que "ter criatividade e
vontade de fazer vale mais do que
pessoas que têm dinheiro e não
sabem utilizá-lo corretamente".
Numa referência indireta a Cristovam, ex-reitor da Universidade
de Brasília, Genro afirmou ainda
que não pode haver "corporativismo" nas discussões da reforma
universitária. Por outro lado, elogiou a as ações de seu antecessor
no combate ao analfabetismo.
Genro passou o final de semana
reunido com assessores em Brasília para começar a montar a equipe que levará para o Ministério da
Educação.
A seguir, trechos da entrevista
concedida ontem à Folha.
Folha - Uma das propostas vindas
da academia para a reforma universitária é a transferência para as
universidades da administração de
verbas que hoje são geridas por
agências de incentivo à pesquisa. O
sr. considera isso uma idéia viável?
Tarso Genro - É uma idéia respeitável, mas não vou emitir juízo de
valor sobre ela porque quero reunir o que já foi proposto e, a partir
daí, construir a posição do governo de maneira equilibrada.
Folha - O sr. concorda com a adoção de cotas para negros?
Genro - Eu acho que a política de
cotas é uma boa política de discriminação positiva, mas não soluciona a questão. No Brasil, houve
uma fusão estrutural entre a questão da pobreza e a racial. A ampla
maioria dos pobres é negra. A solução da questão do ingresso do
negro na universidade é a solução
dos grandes problemas sociais.
Folha - O ex-ministro Cristovam
Buarque disse que, para fazer a reforma do ensino superior, precisava de um apoio mais explícito do
presidente Lula. O sr. acredita que
terá esse apoio?
Genro - Eu sei que vou ter apoio
do presidente. Nossa visão é de
autonomia da universidade, mas
autonomia não é desculpa para
corporativismo. A reforma tem
que ser feita não só a partir do que
a universidade pensa de si mesma, mas também do que o Estado
pensa da universidade e, fundamentalmente, do que a sociedade
pensa da universidade.
Folha - Sob esse ponto de vista, o
sr. acha que ter um ministro tão
identificado com a academia, como
o Cristovam, que já foi reitor da
Universidade de Brasília, atrapalharia a reforma?
Genro - Eu não tenho integração
formal com a academia porque eu
nunca quis fazer carreira profissional na universidade. Mas eu
sou uma pessoa que tem um profundo respeito pela academia.
Folha - O Cristovam Buarque reclamava da falta de verbas para o
Ministério da Educação.
Genro - Da minha parte, isso não
vai ocorrer. Claro que eu sempre
vou lutar por mais verbas para a
educação no Brasil, mas para isso
há um regimento político de
quem integra o governo. Vocês jamais vão me ver reclamando do
comportamento da Fazenda em
relação a [liberação de] recursos.
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