São Paulo, terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empreiteira fez "tráfico de influência", diz PF

Relatório da Operação Castelo de Areia afirma que doações da Camargo Corrêa a candidatos estavam relacionadas a obras

Advogado da empresa diz que não fará comentários sobre documentos que estão sub judice; decisão do STJ suspendeu a operação


FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

O relatório conclusivo da Polícia Federal sobre a Operação Castelo de Areia, que investiga a construtora Camargo Corrêa, diz que a empresa fez doações a candidatos e partidos políticos durante a eleição de 2006 de olho em obras públicas. O objetivo, informaram agentes, seria o "tráfico de influência".
Segundo a PF, após análise detalhada de mais de 200 doações, conclui-se que alguns dos repasses estão "relacionados a alguma obra, o que pode indicar que estas doações possam ser fruto de tráfico de influência". "O grupo [Camargo Corrêa] "doou" pouco mais de R$ 4 milhões com objetivo de beneficiar partidos e/ou órgãos onde teria interesse direto", diz trecho que faz parte de um dos relatórios da Polícia Federal a que a Folha teve acesso.
O advogado da empresa, Celso Vilardi, afirmou que não irá tecer comentários sobre documentos que estão sub judice.
Desde a semana passada, por ordem do Superior Tribunal de Justiça, toda a operação está suspensa. A defesa argumenta que a investigação começou de forma irregular e que, por isso, todos os documentos apreendidos na Camargo Corrêa ou na casa dos diretores devem ser considerados nulos, inclusive a planilha de doações eleitorais.
Em uma das listas apreendidas pela PF, que estava armazenada digitalmente num pendrive apreendido com um dos diretores da empresa, há o registro de duas doações de R$ 400 mil cada uma, feitas em dinheiro e sem registro de recibo, para a "Eletrobrás-MMM". Ao lado de uma das doações, aparece, na coluna "observações", o nome "Silas".
Silas também é citado no "candidato" Comitê (Eletrobrás). Nesse caso, foram duas doações em cheque, totalizando R$ 260 mil, para o comitê financeiro do PMDB. A PF não localiza quem é Silas.
Há ainda o registro de doações, também em dinheiro e sem recibo, para os metrôs de Salvador (R$ 263,8 mil) e de Fortaleza (R$ 87 mil).
"Desta forma, temos doações relacionadas a obras públicas executadas pela Camargo Corrêa, como metrô de Salvador, metrô de Fortaleza e Rodoanel, além da citação de órgãos públicos junto aos quais a empresa presta algum tipo de serviço, tais como EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo) e Eletrobrás-MMM (sigla esta relacionada ao Ministério das Minas e Energia)", complementa a análise da polícia.
A planilha apreendida traz um outro campo com siglas, que, segundo a PF, seriam os nomes de diretores e membros do conselho da Camargo Corrêa "responsáveis pela solicitação das doações".
Noutro documento os agentes alertam para a prática de "doações ocultas", ocorrida quando a empresa dá o dinheiro ao partido para que este o repasse aos candidatos. Na planilha há várias citações de doações a "Partido -Lula", "Partido -Serra" ou "Partido Alckmin", todas registradas oficialmente e com a relação dos recibos.


Texto Anterior: Janio de Freitas: Ai, que campanha
Próximo Texto: MST fará campanha contra Serra, diz Stedile
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.