São Paulo, sábado, 26 de fevereiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GOVERNO
Ministro negociou indicação para o BNDES com Malan para poder decidir sobre Imposto de Importação
Tápias escolheu Gros em troca de poder

DAVID FRIEDLANDER
FELIPE PATURY
da Reportagem Local

O ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, só escolheu Francisco Gros para substituir Andrea Calabi no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) depois de barganhar o aumento de seu poder sobre a política de comércio exterior.
Num acordo de cavalheiros, Tápias e Pedro Malan (Fazenda) combinaram que o controle das tarifas aduaneiras será transferido da Receita Federal para o Ministério do Desenvolvimento.
Entre os dois já está tudo acertado. Falta agora convencer o secretário da Receita, Everardo Maciel, que não gosta da idéia. A tarefa diplomática caberá a Malan, que é o chefe de Everardo.
O acerto entre os dois ministros é fruto de um casamento de conveniências. Mostra um pouco do estilo de negociação de Tápias e ajuda a entender por que o novo presidente do BNDES parece mais um indicado de Malan do que do ministro do Desenvolvimento.
Tápias conhece Gros há muitos anos, confia nele e aprecia seu trabalho, mas em boa parte a escolha tinha o objetivo de agradar Malan. O ministro da Fazenda, que desejava alguém mais afinado com a equipe econômica no BNDES, aceitou transferir o controle dos impostos de importação e exportação como retribuição.
As novas atribuições aumentam a importância da pasta do Desenvolvimento. O controle sobre as tarifas aduaneiras dá poder para escolher quais são os produtos estrangeiros que podem e não podem entrar no país.
Ou seja, se quiser proteger um setor do empresariado, Tápias poderá aumentar o imposto de importação do concorrente internacional. O ministro também poderá baixar o tributo se quiser punir empresários que abusam nos preços. O mesmo raciocínio vale para as exportações.
O ministro vinha pedindo isso desde que entrou no governo, mas não conseguia dobrar a Fazenda. O que está em jogo é a cobrança dos R$ 7,9 bilhões por ano de Imposto de Importação, o equivalente a 5% da arrecadação total da Receita no ano passado.
Oficialmente, Everardo Maciel diz que desconhece qualquer acordo ou intenção de transferir parte de suas tarefas.
Técnicos da Fazenda, no entanto, confirmam a preparação de um pacote de incentivos à exportação no qual as mudanças estão incluídas. Segundo eles, o pacote deverá incluir um anúncio de recursos novos para alavancar as exportações até R$ 100 bilhões por ano em 2002.
Oficialmente, a Fazenda nega qualquer tipo de acordo para a nomeação de Gros.


Texto Anterior: Ministério público: Brindeiro leva crítica à Lei da Mordaça a audiência com FHC
Próximo Texto: "É assunto do Everardo", diz ministro
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.