São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA

Assessor de Alckmin diz que Nossa Caixa "possui autonomia para realizar a sua comunicação da maneira que considerar mais adequada"

Governo de SP e banco negam favorecimento

DA REPORTAGEM LOCAL

"É absolutamente falso que os gastos em comunicação do Governo do Estado de São Paulo obedeçam a quaisquer critérios que não sejam os técnicos", afirmou Roger Ferreira, assessor especial de comunicação do governo Geraldo Alckmin. "O dinheiro é pouco e é usado tecnicamente."
O banco "possui autonomia para realizar a sua comunicação da maneira que considerar mais adequada", e o governo "não faz interferências nessas ações e não interfere nas ações de comunicação de outras estatais", disse.
O secretário disse que a sindicância concluiu "não haver despesas não-justificadas nem acima dos padrões nos serviços de comunicação". Sobre a contratação dele pelo banco, disse que "o porte da instituição justifica a contratação de uma assessoria de imprensa profissional, feita de forma inteiramente legal".
A Nossa Caixa informou a Ferreira que os veículos citados pela Folha receberam apenas 1% do total de gastos de comunicação do banco, que no período fez veiculações em mais de 500 veículos.

"Pobreza enorme"
O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, disse que não consegue "ver direcionamento político na veiculação de anúncios de R$ 200 mil e poucos", diante dos R$ 18 milhões que o banco gastou em publicidade no período sob investigação. "Dizer que é direcionamento político é de uma pobreza enorme."
Monteiro afirmou que quem decide a propaganda é a Nossa Caixa. Sobre o pagamento antecipado ao evento no Credicard Hall, disse que "se não pagar metade antes, não tem show". "É diferente de prestação de serviços."
Sobre a contratação de Roger Ferreira, na gestão anterior, disse que essa prática é comum: "Assessoria parlamentar e assessoria de imprensa são contratadas por notória especialização. Esse especialista não entende de licitação".
"O governador não mistura as situações. Não tinha negócios comigo, não dá nada para deputados", disse Wagner Salustiano (PSDB). "Não tenho publicidade do governo há mais de um ano. Quem procurou a revista foi a agência de publicidade do governo, da Caixa. (...) Não tenho culpa se a Caixa e as agências de publicidade estavam com problemas, usando verbas indevidas."
"A revista é bem conceituada, recebeu prêmio. Vendia para o governo pelo preço que vendia para a iniciativa privada", disse.
Rui Nogueira, diretor de redação da "Primeira Leitura", negou favorecimento. "A revista, de circulação nacional, 25.000 exemplares, teve durante algum tempo anúncios da Nossa Caixa, de página dupla, recebidos e pagos, como todas as outras publicidades. E ponto final", afirmou.
"Não me parece que a Nossa Caixa anunciou na revista porque ela é tucana. Então, o Santander e o governo de Pernambuco também anunciaram porque é tucana", afirmou Nogueira.
Questionado se o pedido para a veiculação partiu de Roger Ferreira, explicou que o procedimento foi feito pela gerência comercial da revista. "A gente tem um gerente comercial, esse gerente faz o serviço de procura de anúncios."
A assessoria do deputado Vaz de Lima (PSDB) afirmou que não existe um "Jornal D'Hoje" em Araçatuba, como citado na correspondência, mas em São José do Rio Preto, e que acha "difícil" ter havido favorecimento.
O deputado Afanázio Jazadji (PFL) confirmou que a Nossa Caixa veiculou "pouca coisa" na Radional, com nota fiscal por meio da Full Jazz. Ele disse que o banco, a Sabesp e a Secretaria de Educação veicularam anúncios na rádio, "coisa esporádica". "O que o governo bancava foi algo tão diminuto", completou. "Não sei de cabeça quanto foi veiculado, mas informei ao Ministério Público, não tenho que esconder nada."
Para Afanázio, "é óbvio" que o governo Alckmin orientava a publicidade da Nossa Caixa. Ele disse que a gestão cortou os anúncios em seu programa pouco antes da eleição do deputado Rodrigo Garcia (PFL), presidente da Assembléia Legislativa, como forma de retaliação, já que não votou em Edson Aparecido (PSDB).
"Cortou porque eu não ia votar no candidato dele. Uma forma que ele tinha, como "olha, não vou mais anunciar no seu programa, não vou liberar mais isso", um tipo de uma chantagem. "Vota no meu candidato que eu libero verbas", prometeram mil e uma coisas, não diretamente ele [Alckmin], mas seus secretários, inclusive o pessoal que cuidava de publicidade", disse o deputado.
Quanto ao e-mail em que Saint'Clair Vasconcelos diz que precisava "acalmar o deputado", o pefelista disse desconhecer do que se trata. "Esquisito isso. Acalmar seria o quê? Votos? Eu jamais negocio votos, isso é loucura", diz.
O deputado estadual Geraldo "Bispo Gê" Tenuta (PFL) negou que tenham sido veiculados anúncios da Nossa Caixa ou de qualquer outra estatal na Rede Gospel e afirmou nunca ter ouvido falar da agência Full Jazz. "O pior de tudo é que é uma denúncia anônima, que está querendo denegrir a minha imagem."
João Monteiro Neto, diretor da Rede Vida, negou favorecimento ao canal e disse que era "desafeto" do candidato tucano à Prefeitura de Barretos em 2004, Antonio Cesar Gontijo de Abreu. "Gontijo andava muito irritado com as nossas organizações", disse.
"A verba do governo do Estado na Rede Vida é ridícula", afirmou Monteiro Neto. "Ficamos profundamente chateados com o valor que o governo dispõe, especialmente a Nossa Caixa", que, segundo ele, investe mais em outras emissoras e "não pôs um centavo" na Rede Vida em 2005.
Oscar Colucci afirmou que "o banco nunca pediu para fazer publicação em jornal ou revista de ninguém". "A Colucci fazia mídia altamente profissional, técnica. Se o jornal era de um padeiro ou de um político, a diferença é nenhuma." Colucci disse que não recebeu pedidos da Casa Civil.
Lárcio Benedetti, da Articultura, disse que a empresa foi procurada pelo banco para planejar uma diretriz de patrocínio, área em que é especializada. "O trabalho foi aprovado, mas pouco antes de finalizado, o banco informou que, por questões administrativas, não daria seqüência ao projeto."
Saint'Clair de Vasconcelos, da Contexto, e Maria Christina de Carvalho Pinto, da Full Jazz, não se manifestaram. O deputado Edson Ferrarini (PTB), o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e a organização do Troféu Talento de Música Cristã não responderam aos recados deixados pela Folha até o início da noite de sexta-feira.


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