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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Assessor de Alckmin diz que Nossa Caixa "possui autonomia para realizar a sua comunicação da maneira que considerar mais adequada"
Governo de SP e banco negam favorecimento
DA REPORTAGEM LOCAL
"É absolutamente falso que os
gastos em comunicação do Governo do Estado de São Paulo
obedeçam a quaisquer critérios
que não sejam os técnicos", afirmou Roger Ferreira, assessor especial de comunicação do governo Geraldo Alckmin. "O dinheiro
é pouco e é usado tecnicamente."
O banco "possui autonomia para realizar a sua comunicação da
maneira que considerar mais adequada", e o governo "não faz interferências nessas ações e não interfere nas ações de comunicação
de outras estatais", disse.
O secretário disse que a sindicância concluiu "não haver despesas não-justificadas nem acima
dos padrões nos serviços de comunicação". Sobre a contratação
dele pelo banco, disse que "o porte da instituição justifica a contratação de uma assessoria de imprensa profissional, feita de forma
inteiramente legal".
A Nossa Caixa informou a Ferreira que os veículos citados pela
Folha receberam apenas 1% do
total de gastos de comunicação do
banco, que no período fez veiculações em mais de 500 veículos.
"Pobreza enorme"
O presidente da Nossa Caixa,
Carlos Eduardo Monteiro, disse
que não consegue "ver direcionamento político na veiculação de
anúncios de R$ 200 mil e poucos",
diante dos R$ 18 milhões que o
banco gastou em publicidade no
período sob investigação. "Dizer
que é direcionamento político é
de uma pobreza enorme."
Monteiro afirmou que quem
decide a propaganda é a Nossa
Caixa. Sobre o pagamento antecipado ao evento no Credicard Hall,
disse que "se não pagar metade
antes, não tem show". "É diferente de prestação de serviços."
Sobre a contratação de Roger
Ferreira, na gestão anterior, disse
que essa prática é comum: "Assessoria parlamentar e assessoria
de imprensa são contratadas por
notória especialização. Esse especialista não entende de licitação".
"O governador não mistura as
situações. Não tinha negócios comigo, não dá nada para deputados", disse Wagner Salustiano
(PSDB). "Não tenho publicidade
do governo há mais de um ano.
Quem procurou a revista foi a
agência de publicidade do governo, da Caixa. (...) Não tenho culpa
se a Caixa e as agências de publicidade estavam com problemas,
usando verbas indevidas."
"A revista é bem conceituada,
recebeu prêmio. Vendia para o
governo pelo preço que vendia
para a iniciativa privada", disse.
Rui Nogueira, diretor de redação da "Primeira Leitura", negou
favorecimento. "A revista, de circulação nacional, 25.000 exemplares, teve durante algum tempo
anúncios da Nossa Caixa, de página dupla, recebidos e pagos, como
todas as outras publicidades. E
ponto final", afirmou.
"Não me parece que a Nossa
Caixa anunciou na revista porque
ela é tucana. Então, o Santander e
o governo de Pernambuco também anunciaram porque é tucana", afirmou Nogueira.
Questionado se o pedido para a
veiculação partiu de Roger Ferreira, explicou que o procedimento
foi feito pela gerência comercial
da revista. "A gente tem um gerente comercial, esse gerente faz o
serviço de procura de anúncios."
A assessoria do deputado Vaz
de Lima (PSDB) afirmou que não
existe um "Jornal D'Hoje" em
Araçatuba, como citado na correspondência, mas em São José
do Rio Preto, e que acha "difícil"
ter havido favorecimento.
O deputado Afanázio Jazadji
(PFL) confirmou que a Nossa Caixa veiculou "pouca coisa" na Radional, com nota fiscal por meio
da Full Jazz. Ele disse que o banco,
a Sabesp e a Secretaria de Educação veicularam anúncios na rádio, "coisa esporádica". "O que o
governo bancava foi algo tão diminuto", completou. "Não sei de
cabeça quanto foi veiculado, mas
informei ao Ministério Público,
não tenho que esconder nada."
Para Afanázio, "é óbvio" que o
governo Alckmin orientava a publicidade da Nossa Caixa. Ele disse que a gestão cortou os anúncios
em seu programa pouco antes da
eleição do deputado Rodrigo Garcia (PFL), presidente da Assembléia Legislativa, como forma de
retaliação, já que não votou em
Edson Aparecido (PSDB).
"Cortou porque eu não ia votar
no candidato dele. Uma forma
que ele tinha, como "olha, não vou
mais anunciar no seu programa,
não vou liberar mais isso", um tipo de uma chantagem. "Vota no
meu candidato que eu libero verbas", prometeram mil e uma coisas, não diretamente ele [Alckmin], mas seus secretários, inclusive o pessoal que cuidava de publicidade", disse o deputado.
Quanto ao e-mail em que
Saint'Clair Vasconcelos diz que
precisava "acalmar o deputado",
o pefelista disse desconhecer do
que se trata. "Esquisito isso. Acalmar seria o quê? Votos? Eu jamais
negocio votos, isso é loucura", diz.
O deputado estadual Geraldo
"Bispo Gê" Tenuta (PFL) negou
que tenham sido veiculados
anúncios da Nossa Caixa ou de
qualquer outra estatal na Rede
Gospel e afirmou nunca ter ouvido falar da agência Full Jazz. "O
pior de tudo é que é uma denúncia anônima, que está querendo
denegrir a minha imagem."
João Monteiro Neto, diretor da
Rede Vida, negou favorecimento
ao canal e disse que era "desafeto"
do candidato tucano à Prefeitura
de Barretos em 2004, Antonio Cesar Gontijo de Abreu. "Gontijo
andava muito irritado com as
nossas organizações", disse.
"A verba do governo do Estado
na Rede Vida é ridícula", afirmou
Monteiro Neto. "Ficamos profundamente chateados com o valor
que o governo dispõe, especialmente a Nossa Caixa", que, segundo ele, investe mais em outras
emissoras e "não pôs um centavo" na Rede Vida em 2005.
Oscar Colucci afirmou que "o
banco nunca pediu para fazer publicação em jornal ou revista de
ninguém". "A Colucci fazia mídia
altamente profissional, técnica. Se
o jornal era de um padeiro ou de
um político, a diferença é nenhuma." Colucci disse que não recebeu pedidos da Casa Civil.
Lárcio Benedetti, da Articultura,
disse que a empresa foi procurada
pelo banco para planejar uma diretriz de patrocínio, área em que é
especializada. "O trabalho foi
aprovado, mas pouco antes de finalizado, o banco informou que,
por questões administrativas, não
daria seqüência ao projeto."
Saint'Clair de Vasconcelos, da
Contexto, e Maria Christina de
Carvalho Pinto, da Full Jazz, não
se manifestaram. O deputado Edson Ferrarini (PTB), o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e a organização do Troféu Talento de Música Cristã não responderam aos recados deixados
pela Folha até o início da noite de
sexta-feira.
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