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ELEIÇÕES 2006/PUBLICIDADE SUSPEITA
Mensagens eletrônicas falam em "pedido irrecusável" de secretário de Alckmin e em valor "absolutamente desproporcional"
Em e-mails, anúncios são chamados de "lixão"
DA REPORTAGEM LOCAL
Os pedidos para veiculação de
anúncios e patrocínios de interesse dos tucanos tinham um código
("lixão") e eram transmitidos à
Nossa Caixa, por meio eletrônico,
pelo publicitário Saint'Clair de
Vasconcelos. Ele é presidente da
Contexto, a agência de propaganda que detinha, na época, a conta
da Casa Civil. Hoje, a Contexto
atende a Nossa Caixa.
Os e-mails juntados ao processo, segundo o ex-gerente Jaime de
Castro Júnior, são "uma pequena
amostra das ingerências políticas" e "não representam nem de
perto as pressões sofridas".
O que a comissão de sindicância
tratou como "solicitações externas" eram "imposições", disse.
A verba distribuída aos veículos
de interesse dos parlamentares
era definida antes da escolha do
produto ou da peça da Nossa Caixa que seriam divulgados.
Em linguagem coloquial, por
exemplo, Saint'Clair recorreu a
Castro Júnior, em agosto de 2004:
"Outro abacaxi: preciso da sua
ajuda para acalmar o deputado
Afanázio Jazadji. Acertei com ele
um montante que estou distribuindo entre os nossos parceiros.
Você consegue programar uns 8
mil nos programas que ele tem no
Canal SP-TVA? Já aprovei nos setores competentes este assunto".
O pagamento de veiculações em
valores acima do praticado pelo
mercado é confirmado em mensagem de Castro Júnior a
Saint'Clair, em agosto passado:
"Estamos efetuando os ajustes no
plano de mídia encaminhado, incluindo verba para Rede Vida. O
valor proposto por você é de R$
200 mil. Porém, você sabe melhor
que ninguém que este valor é absolutamente desproporcional em
relação às outras emissoras".
No mês seguinte, o presidente
da Contexto voltaria a apelar para
Castro Júnior, novamente sugerindo um gasto já fixado antes da
definição de como a despesa seria
justificada: "Preciso que você dobre a verba da Rede Vida Televisão agora em setembro, de R$
49.470,00 para R$ 98.940,00. Pode
veicular o filme que melhor lhe
convier". O ex-gerente da Nossa
Caixa reagiu: "Quase R$ 100 mil,
para apenas 15 dias de programação, me parece muita coisa. Teríamos uma carga extremamente
pesada na emissora".
Depoimentos de funcionários
da Nossa Caixa à comissão de sindicância confirmam que Castro
Júnior se empenhava em reduzir
os custos dos serviços contratados. "Invariavelmente, o gerente
do departamento de marketing
conseguia reduzir os preços", afirmou à comissão o presidente do
banco, Carlos Eduardo Monteiro.
A vinculação entre anúncios e
interesses dos tucanos fica clara
no email que Saint'Clair repassou
à Nossa Caixa, em setembro de
2004. Nele, o jornal "O Diário", de
Barretos, alerta a Contexto para
visita que o presidente do PSDB
faria à região. E lembra que os veículos do grupo estariam "cobrindo essa visita".
"Precisamos segurar esta batata
quente" -Saint'Clair preveniu o
banco- "porque estamos "costurando" uma solução para um problema local em Barretos, inclusive
amanhã o [João] Monteiro Neto
[da Rede Vida] vai receber lá o deputado [Antonio Carlos] Pannunzio [PSDB] e vai dar um grande espaço para o candidato a prefeito, o César [Antonio Cesar
Gontijo de Abreu, do PSDB], nos
veículos dele".
Em setembro de 2004, o presidente da Contexto comenta, em
e-mail a Castro Júnior, a veiculação de anúncios da Nossa Caixa
na revista "Primeira Leitura":
"Sugiro que você dê uma apertada neste pessoal, tipo uns 30/40
mil por mês, pois este din-din [dinheiro] vai fazer falta para nós em
outras demandas. Enfim, um pedido do Roger é um pedido "irrecusável'", diz Vasconcelos.
De outubro de 2004 até julho de
2005, quando foram suspensos os
serviços da Full Jazz, "Primeira
Leitura" circulou com anúncios
de página dupla da Nossa Caixa.
Um email de Roger Ferreira a
Castro Júnior, em setembro de
2004, confirma quem dava as cartas nessa área: "Jaime, favor atender as considerações do
Saint'Clair. E lembre-se do orçamento de nossa campanha. É daquele número para cima".
(FV)
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