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RETRATO DO BRASIL
BPC, programa que transfere renda, irá movimentar R$ 9 bi
Benefício para deficientes e idosos supera Bolsa-Família
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Programa de transferência de
renda para idosos e deficientes, o
BPC (Benefício de Prestação Continuada) cresce, em média, 10%
ao ano, atinge 2,1 milhões de pessoas e, com o aumento do salário
mínimo, passará a movimentar
mais de R$ 9 bilhões, superando o
Bolsa-Família. Mas, segundo um
estudo recém-concluído, o programa poderia ser maior.
O trabalho da Universidade de
Brasília, do Anis (Instituto de
Bioética, Direitos Humanos e Gênero) e do Centro Internacional
da Pobreza da ONU (Organização
das Nações Unidas) sugere mudanças para que mais pessoas sejam beneficiadas.
"O critério de seleção é tão restritivo que só pessoas com deficiências muito graves são beneficiadas. Entendemos que deveriam ser aceitos os que vivem a
experiência da desigualdade por
ter funcionalidades diferentes das
consideradas normais", diz Debora Diniz, professora da UNB e
uma das autoras do estudo.
O conceito de funcionalidade,
adotado pela Organização Mundial de Saúde, leva em conta, no
caso dos deficientes, o contexto
social em que eles vivem.
"Um cego que more em uma favela cheia de barreiras e não possa
ter um guia precisa muito mais de
um benefício do que um cego em
melhores condições", exemplifica
Ana Lígia Gomes, secretária nacional de Assistência Social.
Segundo ela, há uma minuta de
decreto, preparada pelos ministérios do Desenvolvimento Social e
da Previdência, mudando critérios de seleção a partir do conceito de funcionalidade.
São os médicos do INSS que
avaliam os candidatos. Segundo
Gomes, 15% dos pedidos de deficientes são indeferidos.
Justiça
Há quem recorra à Justiça em
caso de ter o pedido negado. Tiveram ganho de causa, por exemplo, um portador do vírus da Aids
em Porto Alegre e uma mulher
que sofria da doença de Huntington -mal degenerativo marcado
por fortes espasmos- em São
Paulo. Irmã da coordenadora da
Associação Brasil Huntington,
Maria do Rosário morreu após
três anos recebendo o BPC.
"Só um deficiente por família
pode receber o benefício. Mas
doenças genéticas atingem várias
pessoas na família", diz Diniz, que
sonha com o dia em que os responsáveis pelos deficientes também possam receber o BPC.
Do 1,1 milhão de deficientes físicos e mentais beneficiados- o
restante é de idosos- 30% são
menores. É caso de Jeane, 4, de
Nova Iguaçu (Baixada Fluminense). Seus pais recebem um salário
mínimo para cuidar da menina,
que tem síndrome de Down.
O BPC não é legalmente incompatível com outros programas sociais, mas o Bolsa-Família praticamente o inviabiliza, já que com
ele a renda familiar per capita ultrapassa 25% do salário mínimo,
teto estabelecido para alguém receber os atuais R$ 300 mensais.
Enquanto o Bolsa-Família é um
programa de governo, o BPC, que
existe desde 1996, está previsto na
Constituição, e não pode ter suas
verbas contigenciadas.
Os beneficiados aumentaram
desde 2004, quando a idade-limite baixou de 67 para 65 anos. Os
idosos só têm de comprovar falta
de renda. "[O valor] não é suficiente, mas já cobre metade das
despesas", diz Adélia da Silva, 76.
Como seu patrão nunca assinou
sua carteira, ela não pôde se aposentar. O BPC é sua única renda.
Colaborou PEDRO SOARES, da Sucursal
do Rio
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