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Oposição não tem que dar trégua a Lula, diz Alckmin
Na opinião de tucano, segundo mandato confirma "autoritarismo" do governo
Alckmin admite que estratégia de comunicação da campanha presidencial teve falhas e diz que volta
à vida pública em junho
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua primeira grande entrevista após a derrota para
Luiz Inácio Lula da Silva nas
urnas, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) diz que a
oposição não deve dar trégua ao
presidente petista, admite que
sua campanha ao Planalto falhou na estratégia de comunicação e anuncia: retomará a vida pública em junho.
De acordo com o tucano, o
segundo mandato de Lula confirma o que ele chama de "autoritarismo" do PT e do governo.
Ontem pela manhã, Alckmin
recebeu a Folha em seu apartamento, em São Paulo. Leia a seguir os principais trechos:
FOLHA - O sr. chamou muito a
atenção para a questão do crescimento econômico durante sua campanha. O que pensa do PAC?
GERALDO ALCKMIN - Conseguimos colocar no centro da agenda nacional esse tema. O Brasil
continua perdendo oportunidades, estamos ficando para
trás em um cenário mundial
ótimo. Vejo com preocupação o
segundo mandato do presidente Lula porque ele não pode ser
entendido como uma continuação do primeiro. Não. O
presidente tem legitimidade
para fazer as mudanças.
O PAC é um elenco de obras,
algumas necessárias. É melhor
do que nada, mas não é suficiente. Os entraves ao crescimento só serão eliminados com
as reformas fiscal, tributária,
trabalhista e política, a mãe de
todas elas.
FOLHA - O que sr. achou do novo
ministério?
ALCKMIN - O governo está perdendo tempo. É inconcebível
você levar quase meio ano para
montar um ministério que é
uma colcha de retalhos.
De outro lado, me preocupa o
aspecto autoritário. Ou seja,
pela primeira vez o time não foi
formado antes da eleição para a
direção da Câmara dos Deputados. O governo subordinou um
Poder ao outro.
FOLHA - Preocupa o sr. a forma como o governo vem organizando sua
nova base?
ALCKMIN - Sim. A quantidade
de deputados que já mudaram
de partido é inacreditável. Se as
reformas não forem feitas neste ano, não vão mais sair do papel. Lula quer uma grande base
para quê? Só para prorrogar a
DRU (Desvinculação das Receitas Orçamentárias da
União) e a CPMF?
FOLHA - Como o sr. avalia o papel
da oposição até agora?
ALCKMIN - Ela não é como foi a
do PT, raivosa, do "quanto pior,
melhor". Ela é mais madura.
Mas, quando eu vi o Lula propor trégua de dois anos, dizendo que ia convidar líderes do
PSDB para conversar, achei
que ele não entendeu a lógica
da democracia: quem ganha,
governa, quem perde, fiscaliza,
propõe alternativas, cobra.
Ele quer o quê? Um partido
único por dois anos? É, de novo,
o perfil autoritário do governo.
FOLHA - O sr. pretende disputar a
presidência do PSDB?
ALCKMIN - Em maio ou junho,
quando terminar meu período
sabático na Universidade Harvard [EUA], pretendo me dedicar à questão do PSDB.
Tem gente cobrando e apontando problemas. A questão da
infra-estrutura e da logística é
preocupante. Não há a necessidade de assumir a presidência
do partido para trabalhar por
ele. Vou visitar o país organizando o partido e agradecendo
a votação em 2006.
FOLHA - O sr. pretende disputar a
eleição para prefeito de São Paulo?
ALCKMIN - Essa é uma disputa
de muita relevância. Em um
país continental, só se fala de
Brasília. Isso precisa mudar.
Quando o assunto é eleição,
sempre fui contra antecipar a
discussão de nomes. Não há
eleição neste ano.
FOLHA - O acidente da linha 4 do
metrô, obra de sua gestão, o preocupa quando ao seu futuro político?
ALCKMIN - É um acidente lamentável, precisa ser apurado,
vamos aguardar as conclusões.
Agora, não tem nenhuma ligação com a questão contratual.
A PPP [Parceria Público Privada] é para comprar o material rodante, não tem nada a ver
com obras. A PPP está correta.
O "turn key", o modelo do contrato, que é recomendado pelo
Banco Mundial, também não
tem nada a ver.
FOLHA - Se o sr. voltasse no tempo,
o que mudaria em sua campanha?
Acha que errou no episódio das privatizações, por exemplo?
ALCKMIN - Em relação às privatizações, eu reagi contra a mentira de que eu ia privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a
Caixa Econômica Federal...
Talvez, a nossa comunicação
[na campanha] tenha falhado.
Mas a mentira me revoltou.
Procurando reagir, tivemos um
resultado que não foi bom.
FOLHA - O Datafolha mostra hoje
[ontem] que a principal preocupação do brasileiro é a segurança, tema central de sua campanha.
ALCKMIN - Nós realizamos o sonho de Mario Covas e reduzimos em 50% o número de homicídios no Estado. Vejo no governo federal uma omissão
muito grave. Combater o crime
organizado, o tráfico de armas,
de drogas é tarefa federal.
FOLHA - Na outra mão, o que o sr.
acha do caso do dossiê?
ALCKMIN - Esse episódio é grave. É a impunidade, isso é triste.
É ela que estimula a corrupção.
Lamentável.
Tenho evitado falar sobre isso para não dizerem que sou
mau perdedor. No entanto, o
fato é que não se chegou até a
origem do dinheiro.
FOLHA - São Paulo teve um resultado muito ruim no Enem...
ALCKMIN - Ele não pode ser
analisado sozinho como referência, ele é para avaliar aluno
para o vestibular. São Paulo deu
passos importantes, como a capacitação de professores e o aumento no tempo de alunos nas
escolas. Mas, é claro, precisamos avançar mais.
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