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PF investiga doações ilegais da Camargo Corrêa a políticos
Quatro diretores da empresa são presos; há suspeita de superfaturamento de obras
Em grampo, executivo diz que presidente da Fiesp, Paulo Skaf, se queixava da demora de pagamentos a senadores de DEM e PSDB
Divulgação/PF
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Objetos da Camargo Corrêa separados por agentes da Polícia Federal em São Paulo para serem analisados
LILIAN CHRISTOFOLETTI
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal deflagrou
ontem a Operação Castelo de
Areia, que atingiu a direção da
empreiteira Camargo Corrêa,
investigada por supostos crimes de remessa ilegal de dólares, superfaturamento de obras
públicas e doações ilegais para
partidos políticos. O relatório
da PF cita o PSDB, DEM, PPS,
PSB, PDT e PP.
Foram presos quatro diretores e duas secretárias da Camargo Corrêa. Cerca de 40 policiais federais fizeram buscas
na sede da empresa, na Vila
Olímpia (zona sul de São Paulo), e levaram documentos,
computadores e um cofre. A
busca durou cerca de dez horas.
Três supostos doleiros e um
suspeito de ser o articulador
das remessas ilegais também
foram detidos. Todos continuam presos até ontem à noite.
Na casa de um dos diretores
presos, chamado Dárcio Brunato, delegados da PF afirmam
ter encontrado uma lista com
os nomes de políticos e funcionários públicos que teriam recebido valores da empreiteira.
Na mencionada lista, há referências ainda ao Tribunal de
Contas da União, o que criou
um constrangimento durante a
operação, já que membros do
tribunal acompanharam as prisões e buscas. A presença deles
foi solicitada pela própria PF,
diante dos indícios de superfaturamento de obras públicas.
A obra citada na investigação é a Refinaria Abreu
de Lima, conhecida também como Refinaria do
Nordeste. O TCU apontou
em 2008 um superfaturamento de cerca de R$ 72 milhões na obra da Petrobras, feita por um consórcio que inclui
a Camargo Corrêa.
As conversas gravadas pela
PF sobre remessas ilegais aconteceram na mesma época do
ano passado em que TCU apontava problemas de superfaturamento na construção da refinaria. Por isso os policiais federais
suspeitam que o superfaturamento e as remessas tenham
alguma ligação.
Foram presos os diretores da
construtora Pietro Francesco
Giavina Bianchi, Fernando
Dias Gomes, Dárcio Brunato e
Raggi Badra Neto, além das secretárias Darcy Flores Alvarenga e Marisa Berti Iaquinto.
Skaf
Durante as interceptações
telefônicas, a polícia gravou
uma conversa entre o vice-presidente da Camargo Corrêa,
Fernando Botelho, com um dos
diretores presos, Bianchi.
No diálogo, de setembro do
ano passado, Botelho afirma ter
sido procurado pelo presidente
da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo),
Paulo Skaf, que se queixava da
demora do repasse de verbas da
empreiteira.
Por causa do contexto, Skaf é
apresentado pela PF como o
suposto intermediário da Camargo Corrêa com os partidos
políticos. Ele é apontado como
eventual candidato ao governo
de São Paulo em 2010.
Noutra conversa, Bianchi telefona para outro diretor, Brunato, e diz, segundo a transcrição do diálogo, que o pagamento já havia sido feito. "Foram
R$ 300 mil para Agripino e partido", diz, e "outros 200 para
Flexa Ribeiro". Agripino seria o
senador José Agripino Maia
(DEM-RN); Ribeiro é senador
paraense do PSDB.
Botelho também relata numa conversa telefônica a remessa de R$ 300 mil para o
PMDB do Pará.
A PF encontrou ainda indícios de que a empreiteira enviava dólares em notas para o Peru. A empresa faz duas estradas
no Peru, uma das quais parte do
Acre -a Transoceânica.
Durante as conversas, os diretores demonstraram preocupação com eventual escuta telefônica. Um dos diretores só
usava telefone criptografado
-com códigos que evitariam as
gravações. Outro, só falava de
telefone público. Houve orientação ainda para "limpeza" dos
HDs (discos de memória) de
computadores.
Um dos motivos da busca e
apreensão realizada ontem era
o aprofundamento das investigações sobre essas supostas
doações aos partidos.
Exterior
A investigação da PF começou em janeiro do ano passado,
após uma denúncia anônima
que apontou o suposto doleiro
suíço Kurt Paul Pickel, naturalizado brasileiro, como suspeito de ser intermediador de
ações ilícitas praticadas pela
empresa.
A PF obteve autorização judicial para realizar escutas telefônicas e interceptações de e-mails. Na casa de Pickel, foi colocada uma escuta ambiental.
Ele passou a ser vigiado por
agentes, que fotografaram dezenas de idas dele à sede da
construtora, em São Paulo.
A polícia aponta que as remessas eram feitas por empresas fantasmas brasileiras e passavam por "offshores" no Uruguai, nas Ilhas Cayman e na
Suíça. Duas empresas fantasmas de Saquarema, no interior
do Rio de Janeiro, fizeram remessas de US$ 810 mil, US$
600 mil e US$ 200 mil.
O Ministério Público Federal
diz que foram realizadas remessas que somam R$ 20 milhões no período de um ano.
As sedes dessas empresas,
chamadas Admaster Serviços e
Instituto Pirâmides, ficam em
ruas de terra num bairro de baixa renda. Segundo a PF, as empresas não têm negócio algum.
José Alberto Iegas, delegado
regional da PF de Combate ao
Crime Organizado, diz que não
há comprovação de que o dinheiro retornava ao Brasil
-um dos caminhos já conhecidos pela PF para o pagamento
de comissões a políticos.
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