São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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PF investiga se filho de Sarney simulou importação da China

Remessa de US$ 1 mi de empresário tem semelhança com esquema de doleiros

Pelo artifício que teria sido usado por Fernando Sarney, empresas registram compra inexistente no exterior para justificar envio de recursos


LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal investiga a suspeita de que o filho mais velho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), tenha simulado uma operação de comércio exterior para remeter ilegalmente recursos para fora do país. Esse artifício é usado por doleiros de São Paulo e investigado pela Polícia Civil e pela Receita Federal no Estado.
A PF e o Ministério Público Federal, num desdobramento da Operação Faktor (ex-Boi Barrica), rastreiam contas do empresário Fernando Sarney em diversos cantos do mundo.
No decorrer desse trabalho, os investigadores se depararam com a chamada "conexão chinesa", empregada por doleiros e, segundo investigadores do caso, possivelmente adotada também por Fernando.
O esquema consiste na utilização de empresas fantasmas registradas em nome de laranjas para simular transações de compra e venda com a China, dando aspecto de legalidade a operações de evasão de divisas.
Na primeira etapa, a empresa fictícia no Brasil fecha a importação de produtos chineses. O contrato de câmbio é então devidamente registrado no Banco Central. Depois, os dólares são enviados para uma conta na China em nome do exportador.
A partir daí a fraude se torna visível. A mercadoria comprada nunca chega ao Brasil. Os policiais e os auditores vão atrás dos "donos" das importadoras. No lugar de empresários bem-sucedidos, encontram pessoas humildes que tiveram seus nomes usados indevidamente.
A essa altura, o dinheiro depositado na China provavelmente já foi transferido para algum paraíso fiscal europeu ou caribenho. As empresas chinesas também são de fachada.
Conforme a Folha revelou em 2009, a investigação dos policiais e fiscais paulistas identificou um grupo de 40 empresas que usou esse mecanismo para enviar ao menos US$ 800 milhões, entre 2005 e 2008, para o exterior.
No início de 2008, Fernando Sarney fez uma operação semelhante a esse esquema. O dinheiro transferido, porém, já estava no exterior. De uma conta em nome de "offshore" nas Bahamas, ele remeteu US$ 1 milhão para uma agência do HSBC em Qingdao, na China.
A beneficiária dos recursos é a Prestige Cycle Parts & Accessories Limited -pelo nome, seria uma empresa de peças e acessórios de bicicletas ou motocicletas. Não é de conhecimento público que Fernando Sarney ou sua família tenham negócios nessa área.
Essa não foi a única transação financeira no exterior realizada pessoalmente pelo filho do presidente do Senado e rastreada pelos investigadores brasileiros. Conforme a Folha revelou ontem, o governo suíço, a pedido da Justiça Federal brasileira, bloqueou uma conta controlada exclusivamente por Fernando, com depósitos de US$ 13 milhões.
As autoridades daquele país detectaram uma tentativa de Fernando de transferir recursos para o Principado de Liechtstentein, conhecido paraíso fiscal europeu.
Na Operação Faktor, a PF interceptou, com autorização judicial, diversos e-mails de Fernando, seus familiares e amigos tratando de operações financeiras no exterior.
Numa das mensagens, sua mulher, Teresa Sarney, informa a uma pessoa chamada Zeca (não identificado) uma conta numerada no banco americano Wells Fargo, para o "depósito de mil dólares".


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