São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2010

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Suíços acusam Alstom inglesa de corrupção

Segundo promotores, filial foi usada para pagar propina a políticos brasileiros; nomes e valores não foram revelados

Empresa é suspeita de ter pago para realizar obras em São Paulo a partir de 1995; filial no país diz que "repudia e desconhece" informação


MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A filial inglesa da Alstom foi usada para pagar propina a políticos brasileiros, segundo informações extraoficiais de promotores suíços transmitidas às autoridades brasileiras que investigam a empresa.
O valor das comissões e os nomes dos beneficiados não foram informados.
A Alstom está sob investigação no Brasil sob suspeita de ter pago comissão ilícita para obter obras públicas em São Paulo a partir de 1995. Nesse período, o Estado foi governado pelo PSDB. Estão sob investigação contratos do governo com o Metrô e a Eletropaulo. As empresas negam ter cometido irregularidades.
Anteontem, policiais ingleses detiveram -e indiciaram- três executivos ingleses da Alstom sob acusação de pagar propinas a políticos para obter obras nas áreas de transporte e energia na Ásia e na África.
Os executivos são acusados de pagamento de comissões ilegais, lavagem de dinheiro e de fraude na contabilidade da companhia.
A ordem de detenção dos executivos partiu da Suíça. Por meio de nota, a Alstom inglesa afirma que seus executivos foram levados para interrogatório e depois liberados.
Segundo as autoridades suíças, a Alstom forjava contratos de consultoria para justificar legalmente a saída do dinheiro que seria usado para pagar comissões a políticos.
A Folha apurou que a documentação que serviu de base para as detenções na Inglaterra também tem informações sobre o Brasil.
As prisões foram resultado de uma guinada na investigação suíça, iniciada em 2008. Inicialmente, os promotores suíços acreditavam que a Alstom usava um esquema para pagar propinas em que a matriz da empresa na França mandava dinheiro para a Suíça e um banco fazia o trabalho sujo de transformar o recurso lícito em propina.
Neste ano, os investigadores suíços descobriram que a Alstom Transport, cuja sede fica em Rugby, na Inglaterra, também foi usada para pagar comissões ilegais. Ou seja, havia duas fontes pagadoras de propina, se a hipótese dos promotores suíços estiver correta: uma na Suíça e outra na Inglaterra. A revelação foi resultado da quebra de sigilo bancário das contas que recebiam recursos saídos da Alstom francesa.
Foi por meio de análise dessa movimentação financeira que as autoridades suíças decidiram congelar contas cuja titularidade é atribuída a dois brasileiros: Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e chefe da Casa Civil no início do governo de Mário Covas, e Jorge Fagali Neto, engenheiro e irmão do atual presidente do Metrô.
Por meio de nota, a Alstom brasileira diz que "desconhece e repudia" a informação de que a sua filial inglesa remeteu dinheiro para o pagamento de propina no Brasil.


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