São Paulo, quinta, 26 de março de 1998

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REFORMA MINISTERIAL
Mais um ministro entra em processo de "fritura" podendo causar mal-estar ao governo
PPB e PTB disputam pasta da Agricultura

VALDO CRUZ
Diretor-executivo da Sucursal de Brasília

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília


O PPB e o PTB estão disputando o Ministério da Agricultura, hoje ocupado pelo senador petebista Arlindo Porto (MG).
Com 79 deputados federais, o PPB acha que já chegou a hora de ter duas pastas no ministério de Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, os pepebistas só têm o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo.
O PTB tem apenas 22 deputados federais, mas ocupa duas vagas na Esplanada dos Ministérios: Paulo Paiva, no Trabalho, e Porto, na Agricultura.
Essa reivindicação do PPB foi levada ao presidente da República anteontem pela direção do partido. Os pepebistas disseram que aceitariam qualquer ministério.
Entre as possíveis vagas para o PPB, foram cogitadas as pastas do Trabalho, da Agricultura e o eventual Ministério Extraordinário da Habitação e Saneamento, cuja criação está em estudo. Os pepebistas também estão de olho na presidência da CEF (Caixa Econômica Federal).
De acordo com versões divulgadas por dirigentes pepebistas, FHC teria acenado com a possibilidade de atender o pedido do partido. E, ontem de manhã, o presidente ou algum de seus assessores teria indagado ao PPB se havia algum nome para o Ministério da Agricultura.
Segundo a Folha apurou junto ao PPB, o presidente deu a entender que poderia estar prestes a demitir Arlindo Porto.
No Palácio do Planalto, os assessores da Presidência da República não confirmaram nem negaram essa informação.
A assessoria do ministro Arlindo Porto disse desconhecer essa eventual demissão dele.
Recentemente, Porto ficou abalado pelo fato de sua mulher ter sido apontada como usuária de carros oficiais. Após essa acusação, o ministro chegou a pensar em pedir demissão, mas o presidente Fernando Henrique não disse nem sim nem não.
"Fritura"
Ontem, ao saber do início de "fritura" do ministro da Agricultura, a bancada do PPB na Câmara começou a preparar um documento indicando um nome do partido para o lugar de Porto.
Por volta de meio-dia, a bancada do PPB já estava com o documento redigido, contendo 74 assinaturas. O nome indicado pelo partido para o lugar de Porto foi o de Francisco Turra, o pepebista que atualmente ocupa a presidência da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Esse documento foi entregue ao deputado Delfim Netto (PPB-SP) e ao senador Epitácio Cafeteira (PPB-MA), que ficaram com a missão de levar a reivindicação até o Planalto.
Até o final do dia, Fernando Henrique não havia respondido ao PPB. O problema é que o processo se tornou público no início da tarde. E o PTB reagiu para segurar o ministro Arlindo Porto no cargo.
O líder do partido na Câmara, deputado Paulo Heslander (MG), disse que a demissão de Arlindo Porto "causaria um grande mal-estar na bancada". Heslander lembrou que o PTB é um aliado de primeira hora de FHC, enquanto o PPB lançou candidato próprio na última eleição presidencial.
A favor do PTB estão dois fatores. Primeiro, Porto é senador com mandato até 2003 e ficaria eternamente descontente com FHC pela fritura a que está sendo submetido.
O segundo ponto a favor de Porto é ele ser ligado ao ex-governador mineiro Hélio Garcia, um dos principais caciques daquele Estado. FHC não quer irritar outro político mineiro, depois do que ocorreu com o ex-presidente Itamar Franco na convenção do PMDB, que aconteceu no último dia 8. O ex-presidente foi humilhado pelos governistas do PMDB que defendem o apoio do partido a Fernando Henrique.
Demitir Porto desagradaria Garcia e prejudicaria as tentativas que FHC vem fazendo para acomodar Franco em Minas Gerais.



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